Translate

sábado, 19 de maio de 2018

Ladrões de Bicicletas


Leituras: Revista Crítica - Económica e Social (n.º 15)

Posted: 18 May 2018 07:44 PM PDT

A segunda edição de 2018 da revista Crítica é temática. Inicia com um ensaio de Boaventura de Sousa Santos sobre os debates entre as esquerdas em cinco países (Brasil, Colômbia, México, Portugal e Espanha), a que se junta um contributo de Joana Mortágua sobre questões e escolhas políticas na experiência portuguesa. Gonçalo Brás discute o impacto das diferenças na derrama municipal quanto à concorrência fiscal no país e João Ramos de Almeida analisa o espírito corporativo que preside à concertação social. Por último, Eugénio Rosa procede a um balanço detalhado sobre a situação no Montepio Geral. O número 15 da revista Crítica está disponível aqui, para download gratuito. Boas leituras.

Economia política no seu melhor

Posted: 18 May 2018 05:56 AM PDT

Ruínas

Posted: 18 May 2018 02:13 PM PDT

Aprende-se realmente muito entre ruínas estrangeiras, incluindo sobre nós próprios, sobre os nossos erros e acertos políticos. As ruínas da esquerda italiana e grega são particularmente instrutivas, até porque estão ligadas. O europeísmo foi um dos mecanismos da (auto)destruição. Só variou o horizonte temporal.
No caso italiano, no meio das ruínas surgiu o movimento cinco estrelas e, aproveitando-se da ruína, uma liga, agora nacional. As classes subalternas reconstroem sempre um espaço nacional, graças à esquerda ou apesar dela ou mesmo contra ela. A lição é brutalmente clara: a esquerda paga um preço elevado quando são outros a tentar construir o espaço da imaginação nacional-popular numa economia estagnada, graças sobretudo ao Euro, numa sociedade causticada, graças à neoliberalização indissociável desta moeda.
Talvez valha a repescar o insuspeito Wolfgang Munchau no Financial Times (oportunamente traduzido pelo DN): “Seria ingénuo pensar na eleição de dois partidos antissistema na terceira maior economia da zona euro como irrelevante. A Itália afinal não é a Grécia. E a Liga e o Cinco Estrelas constituem um desafio muito maior para o consenso da UE do que o Syriza.”
O Syriza faz hoje penosamente parte do consenso da UE assente na mentira. Por falar de pós-verdade com origem europeia, vejam o que escreve o insuportavelmente europeísta The Guardian, uma ruína jornalistica: “O maior medo da Europa, em especial da Zona Euro, é que a Itália mergulhe no tipo de colapso económico que, em 2015, esteve perto de catapultar a Grécia – na altura, liderada por um governo radical apostado em superar as regras da Zona Euro – para fora da moeda única.” É isto que passa por imprensa de referência e até progressista.
Na verdade, a depressão grega foi induzida pelo Euro e pelas regras austeritárias que são indissociáveis do seu funcionamento; regras aceites pela esquerda grega, que finge agora gerir uma semi-colónia. Enquanto o governo grego resistiu, o BCE, por exemplo, contribuiu deliberadamente para o sabotar, por via de um sistema bancária em crise induzida, algo jamais visto.
Não sei o que é que o eventual governo liderado pelas direitas italianas fará, nem dele espero nada de bom, mas sei que se desafiar o consenso de Bruxelas-Frankfurt, o mais provável é que as forças de mercado e da integração que as suporta mergulhem ainda mais a Itália no caos. A Zona Euro mantém-se também pelo medo.
Medo e mentira. Até quando?

Desequilíbrios regionais e ensino superior

Posted: 18 May 2018 03:17 AM PDT

Uma andorinha não traz, evidentemente, a primavera. Mas a decisão do MCTES, relativa ao corte de 1.100 vagas em Lisboa e Porto, no próximo concurso nacional de acesso ao ensino superior, é um bom exemplo da natureza e significado que as medidas de redução dos desequilíbrios regionais e de combate à desertificação do interior do país devem assumir.
Para que se tenha uma noção do desequilíbrio que atualmente se verifica na oferta de ensino superior, em termos de alunos matriculados, veja-se o gráfico seguinte: em 2017, no ensino superior público, 44% dos alunos estão concentrados nas cidades de Lisboa e Porto; 53% nas áreas metropolitanas e 90% no litoral do país. Ou seja, o interior conta apenas com 10% dos alunos.

Quando fazemos o mesmo exercício para a distribuição dos alunos do ensino superior privado, o desequilíbrio é ainda maior: cerca de 2/3 dos alunos (68%) deste subsistema estão concentrados nas cidades de Lisboa e Porto; 90% nas áreas metropolitanas e 99% no litoral. Ou seja, apenas 1% dos alunos matriculados no ensino superior privado se encontram a estudar no interior do país.
A evolução recente da distribuição de alunos traduz de resto uma aproximação gradual à configuração existente em 1990. Isto é, antes de a rede de institutos politécnicos ter permitido uma melhoria dos equilíbrio territoriais, para a qual o surgimento de instituições privadas também contribuiu, ainda que em menor escala. Com efeito, inicia-se a partir de 2001 uma inversão desse equilíbrio relativo, particularmente expressiva no desequilíbrio entre litoral e interior, tanto no ensino superior público (com apenas 3 pontos percentuais de diferença, em 2017, face à distribuição de 1990) como no ensino superior privado (em que a percentagem de alunos matriculados em instituições de ensino superior do litoral, em 2017, supera já a registada em 1990).
Por último, as diferenças entre a rede pública de ensino superior - apesar de tudo menos «litoralizada» que a privada - evidenciam o papel que o Estado pode e deve ter no seu ordenamento, já que os privados - naturalmente - tendem a acompanhar a concentração da procura, acentuando os desequilíbrios regionais existentes.

Sem comentários:

Enviar um comentário