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terça-feira, 29 de maio de 2018

Ladrões de Bicicletas


Às escondidas, como um criminoso
Posted: 29 May 2018 02:24 AM PDT
«Caros juízes, autoridades políticas e religiosas. O que é para vocês a dignidade? Seja qual for a resposta das vossas consciências, saibam que para mim isto não é viver dignamente. Eu queria, ao menos, morrer dignamente. Hoje, cansado da preguiça institucional, vejo-me obrigado a fazê-lo às escondidas, como um criminoso. Saibam que o processo que conduzirá à minha morte foi cuidadosamente dividido em pequenas ações, que não constituem um delito em si mesmas e que foram executadas por diferentes mãos amigas. Apesar disso, se o Estado insistir em punir os meus ajudantes, eu aconselho que lhes sejam cortadas as mãos, porque foi essa a sua única contribuição. A cabeça, quer dizer, a consciência, foi proveniente de mim. Como podem ver, ao meu lado tenho um copo de água, que contém uma dose de cianeto de potássio. Quando o beber deixarei de existir, renunciando ao meu bem mais precioso, o meu corpo. Considero que viver é um direito, não uma obrigação, como foi no meu caso. Forçado a suportar esta penosa situação durante 28 anos, 4 meses e alguns dias. Passado este tempo, faço um balanço do caminho percorrido e não me dei conta de ter havido felicidade. Só o tempo que passou, contra a minha vontade, durante a maior parte da minha vida, será agora o meu aliado. Só o tempo, e a evolução das consciências, decidirão algum dia se o meu pedido era razoável ou não.»
Mar Adentro (2004), de Alejandro Amenábar
Posted: 28 May 2018 12:00 PM PDT
É difícil distinguir informação de propaganda. Dito isto, se as palavras de Di Maio, líder do Movimento 5 estrelas, forem verdadeiras, quem manda em Itália decidiu que é proibido ter um ministro da Economia que tenha reservas sobre o euro. Como diz Di Maio, se esta é a questão, então temos um problema.

Tudo indica que o governo "técnico" (como é óbvio, mais político era difícil) agora indigitado pelo presidente italiano não será aprovado no parlamento, o que significa que haverá novas eleições depois de Agosto. Os pouco recomendáveis Movimento 5 estrelas e Liga, que juntos já tiveram mais de 50% dos votos nas recentes eleições, passarão os próximos três meses a vitimizar-se, afirmando que deixou de ser possível determinar quem governa Itália através de eleições. Como de costume, os comissários europeus Bruxelas têm dificuldade em guardar as suas opiniões para si próprios, ajudando à festa. As taxas de juro italianas estão com se vê abaixo. Já vimos um filme parecido. Veremos como este acaba.
Posted: 28 May 2018 10:56 AM PDT
"Economix", de Michael Goodwin e Dan Burr, acaba de ser publicado em Portugal pela Arte de Autor. Quando o li fiquei convencido que há livros que conseguem falar a brincar sobre coisas sérias e abrem o apetite para sabermos mais. Fica aqui o texto de apresentação que preparei sobre esta banda desenhada que explica a ciência económica como muitos livros sérios não conseguem fazer.
"Em Economia não há leis, há múltiplas tendências, muitas delas contraditórias. Em cada circunstância, essas tendências podem ser mais ou menos evidentes, mais ou menos dominantes, dependendo do contexto histórico e do lugar em questão. As ideias económicas vão evoluindo, influenciadas pelos eventos e pelas polémicas que marcam o debate político e académico em cada contexto. Influenciadas também pelas ideias económicas que as antecederam e pelas tendências que, por uma razão ou por outra, foram enfatizadas por cada autor ou escola de pensamento. Influenciadas, sem dúvida, pelos valores, convicções e interesses de quem as produz e difunde.
Por isto é tão importante que o ensino da Economia se faça conhecendo o contexto em que as ideias surgiram e conhecendo os interesses e valores dos seus autores. E deixando claro a cada passo que a forma como se ensina Economia é ela própria influenciada pelos valores e convicções de quem o faz.
Pode parecer estranho que se adopte um tom tão sério para falar de um livro de banda desenhada, como este que tem nas mãos. Mas Economix é isto mesmo: um livro que leva a sério a discussão sobre os conceitos e ideias fundamentais da Economia, colocando-os no seu contexto histórico e doutrinário, de uma forma acessível à generalidade dos leitores, deixando bem claro que a história aqui contada reflecte as convicções do seu autor (com a qual não temos de concordar para saber apreciar).
Tem, porém, uma vantagem ainda maior face à generalidade dos livros de introdução à Economia: é tremendamente divertido. E é também um livro actual, ajudando-nos a perceber como as teorias do passado lançam luz sobre alguns dos grandes debates do presente (a globalização, o desemprego, as desigualdades, as crises financeiras, as alterações climáticas, o papel do Estado, etc.).
Nunca até aqui imaginei recomendar um livro de banda desenhada a quem quer aprender um pouco sobre esta ciência que alguém um dia apelidou de “sombria”. Michael Goodwin faz-nos o favor de nos ajudar a tirar a Economia das sombras. E nós agradecemos.





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