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sexta-feira, 11 de maio de 2018

PGR-TV

por estatuadesal

(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 11/05/2018)

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Será que a Procuradoria-Geral da República deve ser também detentora de um jornal e de uma TV? O facto de nenhum dos 195 países reconhecidos pela ONU se ter lembrado de tal até agora, isso de atribuir funções jornalísticas aos órgãos que exercem a acção penal, não nos deve tolher a imaginação.

Como seria um canal mediático da nossa PGR? Bom, primeira constatação, nunca lhe faltariam conteúdos de altíssimo interesse para as audiências, tanto no caso de envolverem celebridades com as suas luxúrias e perversões como na sordidez e pungência, por vezes lirismo, dos pés descalços.

Depois, a política editorial só poderia ser esta: apresentar o melhor possível, recorrendo às melhores técnicas mediáticas, as posições da PGR e o trabalho dos procuradores do Ministério Público. Ora, que pretendem esses valentes? Apanhar criminosos. Quantos mais apanharem, melhor. Quão maiores eles forem, melhor. Melhor para todos, procuradores e sociedade, xerifes e vítimas. Só que não chega conseguir apanhá-los e depois cobri-los de alcatrão, falta ainda despejar as penas. Para esse apoteótico final, um jornal e uma TV podem ser de extrema utilidade. É que o MP apenas consegue acusar, ainda não consegue completar o processo e despachar logo as condenações (mas lá virá o dia, está na hora de redescobrir o Brasil).

Realmente, os acusadores estão sujeitos às imprevisíveis decisões dos juízes, os quais podem não ter a inteligência dos procuradores, ou serem mal formados ou estarem comprados pelos criminosos (invariavelmente socialistas). Ora, se a PGR conseguir usar as técnicas mediáticas e narrativas para convencer as audiências de que se deve engaiolar este fulano porque tem uns gostos irritantes em fatos ou casas, ou aquela fulana porque apresenta uma atitude desagradável nos interrogatórios e anda a escrever em jornais, isso ajudará os juízes a ver a luz. Basta-lhes ligar o televisor, nos próprios tribunais ou ao chegarem a casa, e desfrutarem das peças brilhantemente montadas e dramatizadas pela equipa de artistas da PGR.

Nessas peças, para comodidade dos juízes que têm muito trabalho para despachar, apenas se mostrariam excertos dos interrogatórios onde arguidos e testemunhas, pelo seu tom de voz e postura corporal, estivessem a exibir não só a sua culpabilidade como a sua asquerosa personalidade. Todo este espectáculo, para comodidade dos pobres juízes que tendem a ser muito distraídos, devidamente enquadrado por comentadores especialistas em socialistas corruptos, passe a redundância.

No final das peças, acrescentava-se o resultado de uma votação telefónica acerca da sentença preferida pelo público, nunca com opções abaixo dos 10 anos de choça em nome do combate à corrupção. Assistindo com regularidade à PGR-TV, qualquer juiz estaria em condições de chegar ao seu tribunal e arrumar os processos do dia antes de sair para o almoço. Acabaria logo a demora na Justiça, como pede o nosso adorado Marcelo.

Sonho impossível? Felizmente, a iniciativa dos privados permite-nos evitar ter de gastar milhões no que seria um investimento público condenado à corrupção socialista, passe o pleonasmo.

A PGR não tem só um jornal e uma TV, tem um ecossistema mediático que ocupa 80% da imprensa em Portugal. Claro que o ideal seria termos 100% de cobertura, ou até mais, para o heróico serviço à Pátria que os impolutos e angélicos procuradores capitaneados pela santa Joana estão a fazer, mas que nenhum juiz venha para aí dizer que não condenou um socialista corrupto, passe a tautologia, por desconhecimento do que se anda a mostrar e dizer no CM, CMTV, Sábado, Sol, Público, Expresso, SIC, Observador, “Governo Sombra” e sobrancelhas do José Rodrigues dos Santos. Se querem ser juízes, então ao menos que acompanhem as notícias.

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