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sexta-feira, 8 de junho de 2018

A união monetária exige uma base de união política, afirma Viriato Soromenho-Marques

Redação

12:03

“Nós precisamos de um federalismo na Europa e não é de agora”, defende Soromenho-Marques, numa palestra organizada pela Sociedade Portuguesa de Autores

Alessandro Bianchi/Reuters

A criação da zona euro não foi um processo pacífico e a união monetária e económica precisa como base uma união política, segundo o professor catedrático Viriato Soromenho-Marques, que sublinhou ainda a necessidade de a União Europeia ter políticas comuns para as relações externas, os refugiados e a energia.

Soromenho-Marques foi o orador convidado para a terceira conferência organizada pela Sociedade Portuguesa de Autores, esta quinta-feira, no âmbito do ciclo de conferências “As Palavras e os Actos”, do qual o Jornal Económico é media partner.

Na palestra, intitulada “Portugal na Balança da Europa – Atração e Dissonância”, o professor catedrático da faculdade de letras da universidade de Lisboa expôs a relação de Portugal com o ideal europeu nos últimos duzentos anos, sem descurar também a relação dos outros povos europeus com o velho continente. “Quando pensamos na Europa, o único país em que a questão da identidade europeia não se coloca é a França, mas apenas por questões geográficas”, disse.

Soromenho-Marques explicou que parte do passado da Europa se mantém atual para descrever certos fenómenos políticos, como o movimento populista, que se tem verificado recentemente em países como a Alemanha, a Holanda ou a Hungria. Citando Andrade Corvo, ministro dos negócios estrangeiros no século XIX, o professor catedrático alertou que “o patriotismo na Europa é muito perigoso porque tem uma base étnica” que conduz à exterminação das raças. Soromenho-Marques sentiu “um certo anti-germanismo” aquando de uma viagem recente a Itália.

A partir do tratado de Maastricht, Portugal – e os restantes países europeus – aproximou-se ainda mais do ideal da Europa de Jean Monnet. Soromenho-Marques demonstrou que a adopção do euro não foi pacífica. “Na Alemanha, houve um debate sério, quer na sociedade civil, quer no Parlamento”, explicou. “A união económica e monetária exige uma base de união política”. No seio da União Europeia falta uma política externa comum, mas também uma política comum sobre os refugiados e na energia, vincou.

Questionado pelo Jornal Económico sobre o futuro da moeda única, Soromenho-Marques foi claro ao afirmar que “nós precisamos de um federalismo na Europa e não é de agora” e que “se o euro acabar, será por implosão”. O professor defende uma reforma profunda da moeda única e que nem a Alemanha, com 54% do PIB dependente das exportações, está a salvo se houver uma desfragmentação da União.

Contrariando a ideia de que sair da moeda única “é fácil”, Soromenho-Marques defende uma reforma da união monetária “dentro do euro e não fora dele”, porque no dia em que um governo sair do euro, “será derrubado pelas massas populares que vão a correr aos bancos buscar os seus depósitos”.

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