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domingo, 17 de junho de 2018

Entre as brumas da memória


Dica (772)

Posted: 16 Jun 2018 01:06 PM PDT

The G-7. FiascoIt's Time to Isolate Donald Trump (Roland Nelles)

«The G-7 summit once again made it clear that U.S. President Donald Trump is intent on treating America's allies worse than its enemies. Europe must draw the consequences and seek to isolate Trump on the international stage.»

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Sob a condição humana

Posted: 16 Jun 2018 09:57 AM PDT

Miguel Sousa Tavares, Expresso 16.02.2018 (Excerto)

«Olhem para a célebre fotografia da Cimeira do G7 em Charlevoix, no Canadá. É daquelas fotografias que ficarão para a História. Um contra todos. Um, Donald Trump, que nem sequer se digna levantar-se para enfrentar os outros seis, que estão de pé, à roda da mesa, tentando em vão demovê-lo de partir para uma guerra comercial contra dois terços da população mundial. Trump nem se levanta, nem responde, nem contesta, nem sequer os olha. Parece um menino mimado, a fazer uma birra. Um menino mal-educado, que chegou tarde ao encontro e partiu antes de todos, despedindo-se à francesa e insultando o seu anfitrião depois de partir e mais uma vez rasgando o mísero acordo, só de palavras, que havia assinado. Acham que ele se preocupou? Não, com aquela fotografia ganhou a reeleição e nem vai precisar da ajuda dos russos nem da batota da Cambridge Analytica para ser reeleito. O comum dos americanos gosta daquela pose — “America first”. O comum dos americanos não vê além do próprio umbigo, são medíocres, ignorantes e arrogantes, como o seu Presidente. E o comum dos americanos é a maioria. Antes, Obama ganhou porque o seu adversário, McCain, não era suficientemente mau, antes pelo contrário, para atrair o comum dos americanos. Pela democracia se destrói a democracia: Trump é a demonstração perfeita. Mas também o ‘Brexit’, Kurtz, Orbán, Salvini e tutti quanti.

Ao contrário do que sucedeu no Canadá, não sei por que razão a maior parte dos analistas não anteviu que o encontro Trump-Kim Jung-un ia ser um sucesso. Dois iguais reconhecem-se quando se encontram e têm tudo para se entenderem por instinto, tal como Trump previra. Encontraram-se dois aldrabões de feira, dois despenteados mentais, dois tresloucados nucleares ao estilo “Dr. Strangelove” do Kubrick, dois vaidosos compulsivos que primeiro satisfizeram os respectivos egos a ameaçar o mundo com uma destruição apocalíptica e depois se rebolaram de puro prazer autocontemplando-se perante 2000 jornalistas como os anjos milagreiros que tinham salvo a Humanidade da guerra que eles próprios iam lançar. No seu íntimo, já se imaginam em Estocolmo, a receber a meias o Prémio Nobel da Paz — e não é sonho fora do alcance. Se tudo isto acabará, de facto, no desarmamento nuclear da Coreia do Norte ou com Kim a comer um McDonald’s na Casa Branca, ninguém sabe ao certo. Tudo é feito de aparências, de egoísmos, de muros, de fachadas, de fake news e tweets no lugar onde antes estava a informação, das redes sociais onde antes estavam os livros, dos aldrabões e demagogos onde antes estavam os líderes. Talvez no fim reste apenas a música e a música será aquilo que nos permitirá não endoidecer, à medida que vemos tudo o resto perder o sentido. E esperaremos, quietos, indefesos, impotentes. Assistiremos ao triunfo dos porcos, à morte acelerada da natureza — até à morte da natureza humana. Talvez tenha sido disto que Anthony Bourdain quis fugir. Ou talvez já não haja fuga, apenas espera. Talvez, como escreveu Cesare Pavese, já estejamos mortos, mas não sabemos.»

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No Facebook ou numa TV perto de si

Posted: 16 Jun 2018 07:14 AM PDT

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Não se ponham a dançar em conjunto

Posted: 16 Jun 2018 03:11 AM PDT

José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Marcelo vai-se encontrar com Trump no final deste mês. É um encontro protocolar e normal entre dois Estados que têm relações diplomáticas. Não tem sentido pôr em causa que o encontro aconteça. Mas... o terrível “mas”...

Sabe-se que Trump não lê quase nada do que lhe é enviado pelos diferentes serviços e o resultado é que a informação que provavelmente lhe é dada antes do encontro com Marcelo deve caber em meia folha em letras grandes. A julgar pelos precedentes conhecidos deve incluir a transcrição fonética ou coisa parecida do nome de Marcelo, os pontos de litígio entre os dois países, com relevo para a Base das Lajes, e — e é aqui que as coisas se complicam — um perfil psicológico do Presidente português. A folhinha dirá coisas sobre os “afectos”, talvez sobre as selfies e a popularidade de Marcelo, aconselhará o Presidente americano a ser igualmente próximo e íntimo, como foi com Macron e Kim. Imensas palmadas nas costas, muita linguagem corporal. E essa sugestão será certamente seguida por um presidente que gosta da encenação e da coreografia. O problema é o... outro Presidente que gosta das mesmas coisas, Marcelo Rebelo de Sousa. Por isso, a tentação vai ser grande de andarem a mostrar como gostam um do outro e a usar o narcisismo e a vaidade para marcar pontos. Ambos. Durará uns minutos, mas será penoso de ver.

Trump não sabe nada sobre Marcelo e Portugal, mas Marcelo sabe mais do que o suficiente sobre Trump para nos poupar o espectáculo e reduzir a coreografia ao mínimo. Trump é um adversário da União Europeia, da OTAN, do sistema de globalização de que Portugal faz parte, dos acordos que Portugal assinou com os EUA e que este rompeu sem consideração por nada e sem qualquer política consistente que não seja a de agradar à sua “base” e ao seu ego. Trump é um perigo para a paz e a estabilidade mundial, um amigo demasiado próximo de Putin, Kim, Duterte, Erdogan, acabou por elogiar em termos entusiásticos o novo Governo italiano, apoiou Le Pen, os racistas ingleses e alemães, e de transformar o bom do Canadá em inimigo da América. A lista seria longa, mas aponta sempre para a mesma coisa: machismo, poder, autoritarismo, força e violência.

Quando Marcelo for ter com Trump, terá de ter em conta que a maior repercussão da sua viagem vai ser o tweet de circunstância que ele faz quando encontra os seus congéneres estrangeiros, no intervalo dos frisos de militares, bombeiros e polícias que ele gosta de colocar como paisagem de fundo, para além de Kim Kardashian. Não é até impossível que ele lhe faça um daqueles elogios guturais que costuma fazer, “nice guy”, “very clever guy”, vindo do “beautifull sunshine country, Spain. I’m sorry, Portugal”, “I love bullfights”, e inanidades do género. Pode até perguntar-lhe sobre as oportunidades de negócios imobiliários nas praias do “Mediterrânio”, e se Portugal também quer uma Torre Trump — “I’m joking, President Marcell”.

Senhor Presidente, o nosso, faça tudo para o evitar ter por perto. Mande aumentar a distância dos púlpitos. Deixe a promiscuidade para a alt-rightportuguesa, que tem bons contactos no “trumpismo”. Fale-lhe nos imigrantes que isso basta para o pôr maldisposto, e, quanto às Lajes, não vale a pena ter muita esperança, porque ele deve achar que “custa muito dinheiro” e ainda lhe pede que aumente a contribuição para a OTAN. Nada de bom para Portugal virá do lado de Trump, muito menos dos republicanos, e pouco dos democratas, e lembre-se que a mossa que Trump está a fazer às democracias também cá chegará, ou melhor, já cá está. Talvez repetir na América o discurso do 25 de Abril sobre o populismo tenha mais sentido.

Com Trump é preciso distância, cara cerrada, no máximo esboços de sorrisos, mais esgares do que esboços, com o ar mais enjoado do mundo. A chanceler Merkel faz isso bem. Trudeau e Macron andaram a bajulá-lo e saiu-lhes mal. Bem feito! Marcelo não deve, nem precisa de ser mal-educado, mesmo com o protótipo da má-educação que tem à sua frente, mas deve ter em conta que nos está a representar, e intimidades com Trump são um insulto ao povo português.

Lembre-se, que, quando Trump for para dentro da Casa Branca, entre o último aperto de mão e a porta, ele já se terá esquecido de tudo, do seu nome, de Portugal, de tudo. Mas nós não.»

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