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terça-feira, 19 de junho de 2018

Ladrões de Bicicletas


Está tudo bem

Posted: 18 Jun 2018 01:40 PM PDT

Desde 2015, as três mil maiores empresas do mundo, listadas em bolsa, viram os seus lucros, medidos em dólares, crescer 44%. Daqui.

Frugalidade individual, abundância colectiva

Posted: 18 Jun 2018 08:45 AM PDT

Num vídeo que circulou há alguns dias por alguns sites noticiosos e redes sociais, vê-se um orangotango do Bornéu a tentar, de forma heróica mas inglória, lutar contra a retroescavadora que acaba de demolir a árvore onde se encontra o seu ninho. Devido à substituição de floresta por plantações de óleo de palma, os orangotangos estão hoje confinados a algumas áreas limitadas do Bornéu e Sumatra e calcula-se que poderão vir a extinguir-se no estado selvagem dentro de dez anos.
Este vídeo deprimente é uma boa ilustração de dois dos problemas ambientais mais críticos do mundo contemporâneo: a desflorestação e a perda de biodiversidade. É destruída uma área de floresta equivalente à Inglaterra a cada ano, estimando-se que metade da área de floresta tropical de todo o mundo tenha já sido eliminada. O ritmo actual de extinção de espécies é entre 100 e 1000 vezes superior à chamada taxa média normal de extinção (antes da intervenção humana), justificando que este seja considerado o sexto evento de extinção em massa na história geológica do planeta – o quinto, há 65 milhões de anos, foi o que envolveu a extinção dos dinossauros.
Estes são apenas dois de um conjunto mais vasto de problemas. No livro Colapso – Como as Sociedades Escolhem o Sucesso ou o Fracasso, o biólogo e geógrafo Jared Diamond aponta alguns outros: o esgotamento dos stocks de animais selvagens, especialmente de pescado; a degradação dos solos utilizáveis na agricultura; a destruição de outros habitats (recifes de coral, áreas lacustres,...); a delapidação das reservas de combustíveis fósseis; o esgotamento dos aquíferos e outras reservas de água doce; a poluição do solo, ar, oceanos, rios e lagos; o esgotamento da capacidade foto-sintética do planeta; a introdução de espécies invasoras; e, talvez o mais crítico e frequentemente referido de todos, o aquecimento global.

Para além da questão intrínseca do impacto sobre outras espécies e ecossistemas, quase todos estes problemas têm o potencial de pôr em causa a viabilidade futura das sociedades humanas. É por isso evidente que constituem limites reais, e bastante imediatos, às nossas escolhas colectivas, que não podem ser ignorados nas discussões sobre desenvolvimento. O desafio que se coloca à humanidade passa por garantir a todos, em todo o planeta, o acesso à água, alimentação, energia, saúde, educação, etc., sem exceder os limites de utilização de recursos que comprometem a viabilidade futura das próprias sociedades humanas.
Que isso não será possível sem uma alteração do padrão de utilização de recursos, especialmente nas sociedades mais ricas em que estes são mais intensamente utilizados, é já reconhecido de forma generalizada. O erro em que continuamos a incorrer, em contrapartida, passa por remeter esta questão unicamente para o plano das escolhas individuais. Não há nada de errado, antes pelo contrário, na opção individual de racionalizar o consumo de energia, usar menos sacos de plástico ou evitar produtos com óleo de palma. Mas isso transforma em mais uma decisão de consumo – atomizada, descoordenada e dependente do poder de compra de cada um – aquilo que é uma questão política que tem a ver com a nossa sobrevivência colectiva.
É no plano colectivo que o essencial destas decisões pode e deve ser tomado. Isso implica transportes públicos gratuitos e de qualidade a par de automóveis e combustíveis mais caros. Implica a fiscalização e penalização sérias – pelo Estado, não pelas decisões dos consumidores – das empresas que poluem os nossos rios e mares ou que destroem ecossistemas globalmente necessários. Implica revogar, dado os riscos que envolvem, as concessões de exploração de petróleo ao largo da costa portuguesa que têm vindo a ser feitas por montantes irrisórios.
Acima de tudo, implica a opção por um modelo de desenvolvimento assente na abundância colectiva a par da frugalidade individual. Mais do que uma escolha individual e de consumo, essa é uma escolha política e colectiva.

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