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Frank Carlucci, o embaixador americano em Lisboa durante o PREC, morreu na semana passada e logo o Facebook e o Twitter se encheram de impropérios em sua memória. Inicialmente fiquei um pouco chocado com a atitude mas, após breve reflexão, partilhei do ponto de vista: o homem prestou um péssimo serviço a Portugal, principalmente na questão das liberdades. Sem a sua intervenção em 1975 o mais provável era não estarmos sujeitos a ler tolices em redes sociais; não por falta de tolos, naturalmente, mas pela proibição do acesso à internet. Como diria o Pacheco Pereira: mau trabalho!
Pelo que se conta nos livros de história, a doutrina dos EUA sobre o nosso país estava profundamente dividida nessa altura: uns queriam deixar o PCP instituir um regime comunista que servisse de exemplo a não ser seguido pelos restantes países do sul da Europa; outros defendiam o apoio a movimentos de extrema-direita com a intenção de tentar restaurar o estado salazarista. Aparentemente, já estava decidido que íamos ser uma ditadura, depois logo se via de que cor. Mas Carlucci, dando mostras da sua falta de juízo, insistiu com os seus superiores que a entediante democracia parlamentar era viável neste caótico cantinho lusitano e, não tendo por estes sido imediatamente internado num manicómio, conseguiu provar-lhes que tinha razão.
O grande mérito do embaixador americano foi ter feito parte de um movimento polémico muito antes de este ser relevante e problemático. Henry Kissinger, o importante líder da diplomacia dos EUA, queria utilizar a penúria do futuro Portugal soviético como um antídoto contra o comunismo no Ocidente. Para grande sorte dos portugueses, Frank Carlucci era fervorosamente anti-vacinas.
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