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terça-feira, 26 de junho de 2018

Os muros na Europa

Opinião

Inês Cardoso

Ontem às 00:04

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Às vezes falamos dos problemas do vizinho porque isso nos distrai dos nossos próprios. Sobretudo se o vizinho for uma figura bizarra e sem crédito, que suscita críticas legítimas. As políticas de imigração da administração Trump justificam o olhar atento e preocupado do resto do mundo. Mas não devem distrair-nos do tanto que temos por resolver dentro de casa.

Depois do Aquarius, o Lifeline lembra-nos o movimento imparável de migrantes que procuram noutra latitude um recomeço. E enquanto as rotas prosseguem, alimentadas por traficantes e motivações nem sempre fáceis de traduzir, a Europa tem cada vez mais dificuldade em falar a uma voz.

No final desta semana, o tema das imigrações domina a agenda do Conselho Europeu. Mas o preâmbulo serviu-se já ontem, com a minicimeira convocada pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Itália, palco da mais recente viragem antimigrantes, apresentou uma proposta para mudar as regras de acolhimento. Fora do encontro, que consideraram "inaceitável", ficaram os países do Grupo de Visegrado - Polónia, Eslováquia, República Checa e Hungria, que aprovou há poucos dias uma lei que penaliza quem ajuda migrantes.

Sabemos que nos fluxos migratórios se misturam causas complexas, de natureza económica, política e social. E não há respostas simples nem fórmulas mágicas para resolver a turbulência nos países de origem e evitar atritos de integração nos países de destino. Mas essa complexidade não pode servir de desculpa para criar bichos-papões ou justificações para novos muros.

Não pode haver hesitação na escolha de uma Europa humanista, que procura soluções conjuntas e solidárias, repartindo de forma equilibrada o esforço de acolhimento. E que toma posições claras quando algum dos seus estados-membros pisa linhas vermelhas na resposta humanitária. É daqui que deve partir toda a discussão.

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