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segunda-feira, 23 de julho de 2018

Entre as brumas da memória

É o mínimo...


Posted: 22 Jul 2018 01:45 PM PDT

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Era uma vez um pirata honrado

Posted: 22 Jul 2018 10:00 AM PDT

Francisco Louçã no Expresso Economia de 21.07.2018:

«Era uma vez um pirata honrado, uma bruxa formosa e um lobito bom, que era maltratado por todos os cordeiros, quando Paco Ibañez cantava este mundo ao contrário em versos de Goytisolo. Lembra-se dele? A recente cimeira de Helsínquia foi como este mundo fantasioso, em que dois piratas não tão honrados se encontram para prosseguir a sua corrida comum. Já tudo se sabe sobre o que trataram e sobre a vitória estrepitosa de Vladimir Putin ao levar Donald Trump a admitir que confiava nas garantias do Presidente russo sobre a não interferência nas eleições norte-americanas. Traidor, disse-se nos EUA, e mesmo entre os apoiantes do Presidente houve algum incómodo por causa desta cedência pacóvia. É o mundo ao contrário, mas porque é que dois piratas não haveriam de acreditar nas fábulas um do outro? Ora, levemo-los a sério e imaginemos então, só por um momento, como seria o mundo se fosse ao invés do que nos dizem e prometem.

Trump ganharia a sua reeleição, adorado pelos seus apoiantes de uma direita radicalizada no ódio imperial aos outros povos, iluminada por inspirações religiosas e prometendo mobilizar as energias militares e o controlo político para criar um mundo temente a Washington, submetendo aliados e apoiando as investidas dos empresários que se escudam no Presidente agente económico.

Trump e Putin dividiriam o mundo em zonas de influência, deixando ao primeiro as mãos livres para um confronto com a China, numa guerra comercial eternizada por sanções e contrassanções. No meio, as instituições da globalização liberal seriam enfraquecidas, a Organização Mundial do Comércio porque não pode ser, a ONU porque é um embaraço. Quanto à NATO, não se exagere, bastaria que continue a assumir o dever estatutário de cumprir as ordens do Pentágono.

Neste mundo ao contrário, a União Europeia poderia desfazer-se por dentro, como vai acontecendo agora à vista de toda a gente. Orban conseguiria aliar-se a Salvini e à CSU da Alemanha e constituir a Internacional Populista, o tradicional Partido Popular Europeu perderia grande parte da sua força na eleição europeia e, se se conservar ainda na posição de primeiro partido, será porque as outras famílias dominantes se esfarelaram em múltiplas seitas. Macron leva uma parte dos liberais e dos socialistas, o Partido Socialista Europeu soçobra, e a esquerda, que se reforça, não tem uma proposta unificada. O Leste está mais próximo de Putin do que de Bruxelas e, quando a crise financeira sacudir a Europa, o euro volta a clamar por troikas.

Acontece o impossível, voltam os fantasmas do passado e as caricaturas tomam o poder. Mas acha mesmo que este mundo em que Trump e Putin se aliam e em que tudo o que era sólido se dissolve está assim tão longe de nós?»

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Viver em Gaza

Posted: 22 Jul 2018 06:01 AM PDT

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Política e ética

Posted: 22 Jul 2018 03:39 AM PDT

«Nesta última semana tivemos, em Portugal e no plano internacional, comportamentos de alguns políticos que causam indignação e deixam, ao cidadão comum, acrescidas desconfianças para o futuro. Trump foi, uma vez mais, a expressão limite da amoralidade, da utilização descarada da mentira, da negação de valores e princípios éticos que se exigem no exercício da política. E não faltam por aí atores políticos com total desprezo pela verdade e dispostos a mobilizar os cidadãos contra a democracia e pela negação da política. Na Assembleia da República (AR) assistimos a um comportamento desses: Manuel Pinho achincalhou os deputados e gozou com os portugueses, talvez por acreditar que os buracos nas leis, o espaço para manobras processuais e o arrastamento dos processos judiciais, e a sobreposição do poder económico ao poder político lhe permitirão passar impune. A sua arrogância e sobranceria foram chocantes.

Entretanto, também esta semana, vimos partir um político exemplar - João Semedo - um Homem de enorme humanismo e compromisso com as gerações futuras, que dedicou a vida à causa pública buscando como contrapartida a construção de vida mais feliz para o conjunto dos seres humanos - sempre a partir da defesa dos que mais precisam - e por consequência para ele. Era esse o alimento da alegria que nos mostrava nas horas boas e más dos combates políticos, sociais ou culturais em que se envolveu, a partir de uma militância empenhada primeiro no PCP e depois no BE.

Este contraste desafia-nos a uma reflexão séria sobre o que se passa com o exercício de responsabilidades públicas, com a política e a ética, identificando e denunciando as suas subversões. Imaginemos, por exemplo, uma associação cuja missão é a ajuda a terceiros em situação de necessidade e que nela, oportunisticamente, alguém se oferece para ocupar um cargo de responsabilidade, não para cumprir a missão da associação, mas para retirar do cargo vantagens pessoais de algum tipo. Quando a tramoia é descoberta, o prestígio da associação sofre um duro golpe, da mesma forma que a honorabilidade de todos os que trabalham para essa associação, mesmo a dos mais honestos e dedicados. E basta a existência de um ou outro caso destes para a reputação de todas as associações serem postas em causa. A partir daí, o desconforto de ser confundido com práticas detestáveis não afastará malandros dispostos a obterem vantagens por qualquer forma, mas levará muitas pessoas generosas e honestas a pensar duas vezes antes de se disponibilizarem para assumir responsabilidades.

Nesta sociedade tão dominada pela economia e pela finança, lembremos o palavrão que os economistas usam - "seleção adversa" - para designar situações em que o mau produto expulsa do mercado o bom produto. É claro que falar de política é mais amplo e exigente do que tratar estas questões, mas na verdade a política é para aqui chamada.

O que designa a expressão "classe política" nestes dias? Um grupo sob suspeita a que se associam normalmente epítetos do tipo "o que tu queres sei eu" e "eles são todos iguais" - uma associação de malfeitores. Quem quer ser da "classe política"?

As coisas estão tão mal que há um certo espanto quando se descobre, geralmente demasiado tarde, que há mulheres e homens honrados que dedicam ou dedicaram uma vida inteira à política por convicção e por generosidade. Aí surge uma espécie de ritual coletivo de penitência pública feito de elogios adiados, alguns genuínos, outros hipócritas.

Se queremos evitar que os partidos e outras instituições sejam desacreditados, que as cadeiras do Governo ou da AR não passem a estar em pleno ocupadas por malandros - mesmo que malandros finos, de gravata e muito "bons modos" - são precisos mais do que elogios requentados. É preciso sermos severos contra a conversa do "é tudo farinha do mesmo saco" que polui as caixas de comentários da Internet. É necessário não transigir com o "ele rouba mas faz" que já produziu, mesmo entre nós, candidatos vencedores. É preciso combater os julgamentos na praça pública feitos pelo jornalismo de cordel. É indispensável construir projetos políticos alternativos de rigor e de compromisso efetivo com as pessoas.»

Manuel Carvalho da Silva

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