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terça-feira, 3 de julho de 2018

Geringonça. PCP diz que “o mito acabou” e aguarda encontro com Costa

CRISTINA RITA03/07/2018 12:40

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Comunistas endurecem o discurso sobre o acordo e o Orçamento. O primeiro-ministro ripostou: investe-se no IP3, mas não há dinheiro para “evoluções” salariais

“Termina um mito de que era possível fazer a quadratura do círculo de corresponder à reposição de direitos (...) e aceitar a submissão aos ditames da União Europeia e do euro”. A frase do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, depois de dois dias de reunião do comité central, traduz-se no registo mais duro dos comunistas sobre o acordo com o PS, o “exame comum”, como lhe prefere chamar o PCP.

O líder do PCP não tinha ontem data e hora marcada para se encontrar com o primeiro-ministro e iniciar a negociação do Orçamento de 2019 ao mais alto nível. Talvez ainda seja esta semana, apurou o i – um detalhe que em política é sintomático do distanciamento entre as esquerdas. O Bloco de Esquerda já falou com Costa no passado dia 19, mas os comunistas ficaram na lista de espera. E o chefe de governo repisou ontem a ideia de que não há dinheiro para se fazer tudo. Para o efeito usou a requalificação do IP3, que liga Viseu e Coimbra.

“Quando estamos a decidir fazer esta obra estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos.” A declaração do primeiro-ministro é clara. Não vai ceder aos argumentos do PCP ou do Bloco sobre o descongelamento integral de nove anos das carreiras dos docentes. O custo da intervenção no IP3 são 134 milhões de euros, e sem espaço para a introdução de portagens.

O primeiro-ministro insistiu: “É preciso ter em conta que, quando decidimos fazer esta obra, significa que estamos, simultaneamente, a decidir não fazer outra obra.” O aviso tinha um destinatário: os sindicatos de professores. Os recursos são limitados, mas o PS parece estar apostado numa nova bandeira, a do investimento público.

Mais a sul, o líder parlamentar, Carlos César, fez o discurso de que o Alentejo tem ficado em segundo plano e que o momento é de inverter a tendência.

Nas jornadas parlamentares, que terminam hoje na Pousada do Alqueva, César confessou o objetivo das visitas aos concelhos de Beja e Évora: “Viemos para aprender e apreender. Saímos daqui com a convicção do que é prioritário.” Os socialistas prometem pressionar o executivo a incluir Beja no mapa do plano nacional de investimentos, o projeto sobre o qual o chefe de governo já pediu uma maioria de dois terços no parlamento, facto que irritou Os Verdes no último debate quinzenal com António Costa.

Memórias do pec IV

No PS, o discurso de crise política tem um preço e uma memória. Em 2011, com o chumbo do PEC iv, do então primeiro-ministro José Sócrates, abriu-se a porta a eleições antecipadas e a esquerda foi penalizada por ajudar o PSD e o CDS a derrubarem o executivo. Os riscos são elevados, apesar de a História não se repetir. Este fim de semana, o ministro do Trabalho deu corpo à voz corrente de vários parlamentares. “Hoje, os eleitores são muito exigentes a esse respeito e estão à espera de que esta legislatura termine, e termine nesta lógica de compromissos”, declarou Vieira da Silva ao “DN”.

No dia em que o primeiro- -ministro voltou a dizer que não haverá dinheiro para se fazer tudo, a coordenadora do Bloco de Esquerda atacou o executivo. “É pouco prudente que o governo esteja à espera da muleta do PSD para quebrar o compromisso”, defendeu Catarina Martins, aludindo à situação dos professores.

pacote laboraL Os comunistas apelaram ao protesto no dia 6 de julho, data da discussão no parlamento sobre o pacote de medidas de alterações legislativas laborais, e, hoje, o Bloco senta à mesma mesa Carvalho da Silva, antigo líder da CGTP, a coordenadora do BE e o deputado José Soeiro para discutir a “valorização laboral”.

Ainda não é certo se o PSD votará a favor das propostas do governo ou se optará pela abstenção. A decisão deve ser tomada esta quinta-feira, dia 5, com a hipótese de se fazerem algumas propostas de alteração. E tudo depende da estratégia que os socialistas adotarem: se as alterações mudarem o acordo de concertação social, então, o PSD não passará cheques em branco aos socialistas.

Agora, tudo depende da geometria parlamentar. Basta que os partidos à direita do PS se abstenham para assegurar a aprovação dos diplomas, num dia que servirá para medir o nível de tensão entre os partidos que sustentam o executivo.

As negociações para o Orçamento do Estado de 2019 ainda não entraram no detalhe de propostas concretas, mas os comunistas sublinham que não aceitam pressões nem do Presidente da República nem do primeiro-ministro para votarem favoravelmente o documento.

No Bloco de Esquerda, o discurso varia entre a cautela e o ataque. “O que está a acontecer neste primeiro semestre de 2018? António Costa perdeu a estrelinha, demonstrou que as suas escolhas são mero jogo político. E dá razão ao Bloco de Esquerda: a ausência histórica de entendimentos à esquerda não foi defeito da esquerda. Foi feitio do PS. E só aconteceram em 2015 porque a esquerda teve força para os impor e o PS não teve força para lhes resistir. O mel com que a esquerda era tratada passou recentemente a fel”, escreveu Pedro Filipe Soares, líder parlamentar, num artigo de opinião no “DN”. Entre os bloquistas, o sentimento é o de esperar para ver até onde vai António Costa e se há a tentação de obrigar o Bloco ou o PCP a romperem a corda.

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