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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Inimigos do povo

Opinião

Domingos De Andrade

Hoje às 00:02

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É uma resposta do pequeno David contra o gigante Golias. Mais de 100 jornais norte-americanos publicam amanhã editoriais a condenar os ataques do presidente dos EUA ao exercício do jornalismo. Parecem muitos. E parece uma inversão da força: os 100 Golias contra o pequeno David, que acusa os média de serem os "inimigos do povo".

Na verdade são poucos. Os "inimigos do povo", como eram apelidados os adversários políticos de regimes totalitários, acabavam sentenciados à morte. A mesma sentença simbólica a que os órgãos de Comunicação Social tradicionais vão sendo condenados, no papel, na rádio ou na televisão, com a emergência de fenómenos aparentemente noticiosos suportados no digital.

E são poucos porque as máquinas de propaganda avassaladora nas redes sociais, na criação de falsos média, no uso de contrainformação e notícias falsas de Donald Trump, de clubes de futebol, de partidos, estados, empresas, organizações com fins pouco lícitos, fundam-se e medram no fanatismo em que as sociedades se deixam sufocar. Porque é mais fácil aceitar aparentes e simples explicações de quem está no exercício dos diversos poderes do que ler, ver, ouvir. Pensar.

Hoje são mais do que evidentes os efeitos dessas máquinas na eleição de Trump, ou no referendo do Brexit, bem como suspeitas fortes na tentativa de manipulação das eleições em França, na Alemanha ou na Holanda, mas também a "fazer" a opinião dos eleitores, dos adeptos, dos cidadãos nas coisas mais simples.

Claro que não estão isentos de responsabilidade os jornalistas. Pelo facilitismo. Por tantas vezes esquecerem que os leitores são a primeira e última razão da sua existência. Como não está isento um país que não tem na Educação o pilar que sustenta as sociedades democráticas. Ensinar a pensar.

Se não lutarmos, o fim da Imprensa tal como a conhecemos é o fim da Democracia tal como a vivemos. Podemos criar algo melhor, mas até lá serão os verdadeiros inimigos do povo, os capangas da propaganda, a reinar. Às vezes por décadas. Vale mais por isso ser um pequeno David do que um torpe Golias.

*Diretor-executivo

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