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sábado, 22 de setembro de 2018

Passos Coelho tem razão

22/09/2018 by João Mendes

Fotografia: ZAP

Fazei soar os sinos! Pedro Passos Coelho apareceu às ovelhinhas, a pairar sobre a torre de observação da direita oprimida, para cantar hossanas a Joana Marques Vidal, que tão gentilmente viu o seu Ministério Público arquivar o processo Tecnoforma, apesar das dúvidas dos deuses de Bruxelas.

Temendo pela saúde dos seus, ex-primeiro desceu à Terra, não sem antes espreitar se o Diabo estaria à espreita, e disparou chumbo grosso contra a decisão de Costa e Marcelo, como compete a um ex-primeiro no exílio. Denunciou a ausência da “decência de assumir com transparência os motivos que conduziram à sua substituição”, indo ainda mais longe ao afirmar que “sobra claro que a vontade de a substituir resulta de outros motivos que ficaram escondidos”.

Passos Coelho tem razão. A substituição da procuradora, sem motivo aparente, apesar do bom trabalho que, não sendo perfeito, teve momentos inéditos, levanta dúvidas. Mas só a quem não está minimamente atento. Na Procuradoria-Geral da República, como na Segurança Social ou noutras dependências do poder executivo, que nomeia a bel-prazer, as escolhas são, regra geral, condicionadas por critérios que visam o reforço e a manutenção do poder. É assim com Costa, foi assim com Passos e com todos os que o antecederam. E é natural que Passos, tal como outros altos oficiais do antigo regime, se sintam incomodados com isso. Afinal, aquela que eles escolheram para liderar o Ministério Público já não ocupa o cargo de PGR. Querem ver que é desta que o caso Webrand vem à tona? Ou que desarquivam esse ícone maior da transparência, no que a fundos europeus para a formação diz respeito, de seu nome Tecnoforma? Será que é desta que o Sócrates se safa, com uma avultada indemnização e boas perspectivas de chegar ao Palácio de Belém? Ou que Marcelo regressa ao iate de um absolvido Ricardo Salgado, para umas merecidas férias sem selfies? Ninguém sabe o que aí vem. Mas uma coisa parece certa: ao contrário do que afirma Passos, a acção penal continuou a tratar de forma diferenciada “alguns privilegiados”. Ou será que já nos esquecemos que a cúpula da trafulhice que assolou este país durante décadas continua cá fora, a viver “razoavelmente” bem?

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