Opinião
Hoje às 00:01
Exma. Sra. deputada Emília Cerqueira:Poderia recorrer ao cinismo com que nos brindou no belo momento televisivo de ontem e mostrar solidariedade com a forma como está a ser penalizada pelo "grande crime" de trabalhar quando acedeu ao computador do colega José Silvano e, inadvertidamente, registou a sua presença no plenário. Poderia igualmente deter-me nas questões de segurança decorrentes dessa permanente partilha de passwords. Não o vou fazer porque considero a política um assunto sério, ainda que esta declaração possa dar alguma vontade de rir.
Lamento o tom de vitimização com que criticou o circo mediático dos últimos dias, o ataque à Direção do PSD e a política dos corredores de Lisboa. Nada que admire, tendo em conta que o seu líder partidário também classificou este episódio como mera questiúncula, comentando-a em alemão e recorrendo a eloquentes metáforas sobre a validade do iogurte.
Lamento, porque qualquer eleito tem um dever inequívoco de prestar contas. Exigi-las, como da nossa parte temos feito, não é surreal: é um direito. Lamento, além do mais, porque tem faltado ao PSD capacidade de apontar ao país ideias e caminhos. Falhando nas promessas de rigor e elevação moral, não resta grande coisa. E seria desejável uma Oposição forte, já que a fiscalização e o equilíbrio de poderes são essenciais em democracia.
Lamento, finalmente, porque este caso não é único. Não abrange apenas o PSD. Como não o abrangem, apenas, casos como as falsas moradas, em investigação pelo Ministério Público, ou o duplo recebimento de apoios por parte de deputados dos círculos da Madeira e dos Açores.
Cada vez que um deputado ou outro eleito coloca as suas falhas - tenham elas um alcance criminal ou tão-somente ético - ao nível de "questiúnculas", menoriza as suas responsabilidades e enfraquece a própria democracia. E isso, por mais que discorde das opções editoriais dos jornalistas, continuará a preocupar-nos.
DIRETORA-ADJUNTA
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