por estatuadesal
(José Gabriel, 23/12/2018)
Sim, eu sei, ela nem sempre é feliz nas metáforas que usa; ela revela alguma inabilidade - ingenuidade? - na relação com a pressão da imprensa e com o ataque dos grupos de interesses. Mas ela, Marta Temido, parece ser uma uma das figuras em que, na linha de defesa em quem nós, os que acreditamos e defendemos um verdadeiro Serviço Nacional de Saúde nos situamos, podemos ainda confiar.
O confronto em torno deste tema está aberto, atravessa o interior do próprio PS e convoca toda a nossa atenção - e não faltam tentativas de distracção e evasão. Está em jogo uma dimensão fundamental do conceito de democracia que a Constituição da República consagra e contra a qual há muito se vêm erguendo poderosos interesses, nem sempre disfarçados por uma retórica política minimamente credível.
E o que se joga não é só a dimensão e os contornos do SNS. É o risco da sua instrumentalização para, ao serviço de ambições privadas e lucros de curto prazo, o exaurir até ao ponto da irreversibilidade. Depois, quem vier atrás que feche a porta.
Pela importância vital do problema, todos os aliados mobilizáveis para a defesa do SNS são bem vindos - e a Ministra da Saúde parece afirmar o seu propósito de enfrentar os ventos que contra ela sopram no interior do seu próprio partido. Veja-se a cáustica - mesmo grosseira - intervenção que contra ela fez uma ressabiada Maria de Belém. Para já não falar na sibilina ameaça vinda do próprio presidente da República. Da batota televisiva, nem vale a pena dar conta.
Não sei se a proposta final de Lei de Bases terá a redacção que veio a público, nem sei quais os cortes e reformulações que foram feitos à versão da comissão presidida por Maria de Belém - com a tal perda de "filosofia" que, imagine-se, isso comportou. Mas se é verdade que pelo canto se conhece o galo, os contendores vão deixando boas pistas sobre quem defende o quê.
Espero que não falte a coragem à ministra Marta Temido. E que não se assuste com as ordens de consenso - que significam, geralmente, cedências à direita - e as ameaças de veto. É que se houver vontade política, há maioria para caçar esse veto. Assim o governo mostre firmeza suficiente para acompanhar a sua ministra. Mas disto, já tenho dúvidas.
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