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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Crítica da macroeconomia convencional

Ladrões de Bicicletas


Posted: 31 Dec 2018 02:41 AM PST

O vídeo de hoje fala da necessidade de rejeitarmos a visão da economia como um agregado de comportamentos dos agentes económicos. Esta visão é errada porque um sistema é mais que a soma das partes, é uma organização das partes através de inúmeras relações de causalidade não lineares de elevada complexidade. Tem propriedades que lhe são específicas; é um sistema social dinâmico, aberto aos restantes sistemas da sociedade, também ela aberta ao resto do mundo. Por isso, é um sistema com História.

Ver a economia neste termos implica ver mercados institucionalizados e inculturados. Implica também a rejeição dos pressupostos fantasiosos da Economia convencional e a passagem a uma metodologia realista e científica no quadro da Economia Política. A abordagem convencional que explica a macro-economia através de uma micro-economia de agentes, vistos como átomos sociais que se comportam segundo a racionalidade do pensamento neoclássico, é uma abordagem errada. Mas é isto, e só isto, que se ensina nas faculdades de economia.

O vídeo também alude a uma implicação política desta crítica à macroeconomia convencional. O desemprego tem de ser visto como um indicador do funcionamento do sistema económico e as políticas de redução do desemprego devem atacar as causalidades sistémicas que o geram. Keynes viu bem esta dimensão e, por isso, insistia na necessidade de uma política orçamental dirigida à procura efectiva destinada a criar empregos numa conjuntura em que o sector privado tem receio de gastar. O desemprego deve ser visto como um problema macroeconómico e a abordagem através das políticas activas de emprego, não sendo completamente inútil, falha o alvo em questão porque é uma abordagem micro.

A macroeconomia dominante desvaloriza a política orçamental. Dadas as limitações metodológicas dos seus modelos, e os óculos ideológicos que lhe convém usar para que os seus praticantes tenham 'sucesso', não só não fez propostas adequadas para uma recuperação efectiva da crise de 2007-8, como continua a dizer disparates a propósito da crise que está em gestação. Designadamente, que os governos não dispõem de margem de manobra porque já estão muito endividados, ou porque os bancos centrais já têm demasiada dívida no seu balanço. Ao que parece, a macroeconomia convencional já esqueceu o que significa um governo com soberania monetária, e ignora o poder de intervenção de um banco central que, por definição, não é uma empresa que precise de recorrer ao reforço do capital social para evitar a falência.

A macroeconomia convencional é uma construção intelectualmente falida. Ou, como diz Lars Syll, uma perda de tempo.

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