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sábado, 8 de dezembro de 2018

Preocupações soberanas

Ladrões de Bicicletas


Posted: 07 Dec 2018 02:20 PM PST

No Público, de Vicente Jorge Silva a Manuel Carvalho, notou-se nos últimos dias uma surpreendente preocupação com a soberania nacional na relação dita assimétrica com a China. Trata-se de uma preocupação assaz selectiva. Afinal de contas, estamos perante apoiantes da mais significativa perda de soberania democrática, a que esteve e está associada a uma integração europeia que também fragilizou brutalmente as possibilidades de uma política externa digna de um Estado a sério num mundo felizmente mais multipolar. Basta pensar, e só para dar um exemplo, nas privatizações impostas pela troika e no reforço do controlo estrangeiro de recursos estratégicos, incluindo por parte do Estado chinês.
Entretanto, alguns intelectuais do eixo político euro-atlântico têm-se manifestado preocupados com o potencial desalinhamento com Washington e com Bruxelas que se pode gerar num contexto de ascensão da China e de aumento da sua influência. Em Portugal, uma certa reflexão sobre as relações internacionais parece ser feita a partir do que se imagina ser o centro e os seus interesses.
A multiplicação das dependências económicas, e logo políticas, externas é o melhor que as elites nacionais conseguem fazer, com alguma venalidade à mistura. Só consigo lembrar-me de uma analogia impertinente: é uma espécie de versão suave da política de porta aberta que a China desgraçadamente conheceu tão bem no seu século de humilhações, algures entre a primeira guerra do ópio e a fundação da República Popular. Diz que os comunistas chineses são nacionalistas. Pudera. Mao bem dizia que “em última análise, a luta nacional é uma questão de luta de classes”.
Enfim, no campo exclusivo do controlo nacional, ou seja, público, de sectores económicos estratégicos e de instrumentos de política económica relevantes, é caso para dizer, atirando barro à muralha: aprendamos e façamos o que o regime chinês ainda faz em domínios como o sistema financeiro ou a electricidade. Esta seria a base material, o ponto de partida popular, para a saudável reciprocidade, de que tanto se tem falado, nas necessárias relações.

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