Ladrões de Bicicletas
Posted: 30 Nov 2018 12:43 PM PST
Na entrevista de hoje ao DN, Isabel Jonet lança o alerta: «há outra vez mais gente endividada, com salário penhorado, sem subsídio de desemprego». Isto porque, segundo a presidente do Banco Alimentar, «a recuperação económica que houve não chegou às famílias mais pobres», apesar de «algumas melhorias em abonos». «Aquilo que eu noto», acrescenta, «é que nos últimos meses sentimos como que algum agravamento da situação das famílias mais carenciadas».
Curiosamente, o INE divulgou hoje os resultados do Inquérito ao Rendimento e Condições de Vida, que dá conta da redução do risco de pobreza de 19,0 para 17,3% entre 2015 e 2017, com uma diminuição igualmente significativa no universo das formas mais extremas de pobreza: a população em situação de privação material severa passa de 9,6 para 6,9%, numa quebra que ronda as -283 mil pessoas (estimando-se que este indicador atinja os 6,0% em 2018).
A presidente do Banco Alimentar poderia de resto olhar para as estatísticas da instituição que dirige e que convergem com os indicadores oficiais. Entre 2015 e 2017 o número de beneficiários do BACF diminuiu em cerca de 66 mil (-15,2%), passando o peso relativo do número de pessoas assistidas na população total de 4,2 para 3,6%.
Com uma entrevista concedida na véspera de mais uma campanha de recolha de alimentos, é de admitir que Isabel Jonet tenha considerado a necessidade de «forçar a nota» (mesmo que à custa da deturpação da realidade), para melhorar o fund raising (ou food raising, melhor dizendo). O que, convenhamos, não deixa de alimentar a suspeição de que os «objetivos» empresariais do BACF se sobrepõem, uma vez mais, à alegada «causa» a que a instituição se dedica.


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