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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

TEMPOS DE SALAZAR

  por estatuadesal

(Virgínia da Silva Veiga, 28/12/2018)

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(Se pensam que já não há saudosistas do ditador e dos tempos da ditadura, desenganem-se. Esta "pérola" foi publicada hoje, 26/12/2018:

"A Direita portuguesa tem enjeitado Salazar, mas deveria integrá-lo no seu pensamento, na sua ordem ideológica. O país real ainda se revê em Salazar, apesar de as esquerdas afirmarem repetidamente os óbvios e inventados defeitos do ditador, numa lavagem ao cérebro que não tem fim." (Ver aqui).

Ou seja, quanto mais os tempos são de descontentamento larvar, terreno propício ao florescer dos populismos de todos os matizes, mais os saudosistas saem da toca.

Comentário da Estátua de Sal, 26/12/2018)


Agora querem uma manifestação em memória de Salazar. Acho bem. Em matéria de presidentes há portugueses que adoram múmias. Não sendo original, é bonito.

Para recordarmos tempos em que uma percentagem de Portugal vivia à luz da vela e, logo, não tinha frigoríficos nem televisores. Água canalizada? Casas de banho? Para quê se havia uma fonte lá na aldeia e uma retrete ao fundo do quintal?

Também era bonito ver crianças descalças, a escrever em lousas, a trabalhar em idade escolar ou entregues aos soldados americanos das Lages para poderem ter que comer. E as raparigas? Essas, as que vinham dos confins das aldeias, sem estradas nem transportes, para chorar a distância das famílias, em tempos em que servir alguém era emprego de luxo mesmo que o rendimento fosse comer os restos na cozinha dos patrões.

Chique, chique, era então ver a malta a pagar a passadores para dar o salto para França, para a Venezuela, mas pela calada da noite, montes fora, passando a Espanha, porque de outro modo ia tudo preso. Se não levasse um tiro, claro. A emigração era proibida porque era precisa malta de olhos fechados e mãos abertas, que trabalhasse muito e pedisse pouco. Ir lá para fora era diminuir o contingente, era, sobretudo, mostrar-lhes que havia outro mundo.

E os monopólios? Que lindos eram os monopólios portugueses num globo que já então se abria à concorrência!

Que saudades da guerra colonial, dos filhos que as mães portuguesas por lá perderam, dos aerogramas que enviavam às famílias, essa espécie de postais, feitos ao propósito das notícias que as rádios e as televisões estavam proibidas de dar, ditados às senhoras da Cruz Vermelha porque os mais dos soldados não sabiam ler nem escrever, mas “estavam bem graças a Deus”.

E tudo caladinho, pois claro, que piar traz à memória a anedota dos pássaros dentro da dita, cuja palavra não digo.

Gosto da ideia. Sobretudo gosto que seja propalada no Facebook. Porque então os mais dos portugueses, se houvesse tal coisa em tempos de Salazar, nem podiam participar porque eram analfabetos. Voltássemos, aliás, aos tempos do homem de Santa Comba e era o descalabro nas ações do Zuckerberg, não havia Facebook para ninguém porque isso da liberdade de expressão não dava para ter um livro lá por casa quanto mais uma porta aberta ao mundo.

Perguntem lá aos organizadores como é que fariam para divulgar as convocatórias, sem Facebook, sendo proibida a distribuição de panfletos e os ajuntamentos.

E apreendiam tudo, os desgraçados! Até romances. Ah, pois é!

Primeiro meteu-se na cabeça destes novos organizadores da confusão que Portugal é a França. Agora andam a inventar o estilo espanhol, uma trapalhada escusada por mexerem no túmulo de Franco.

Em matéria de saudosismos ou de mexer no que está no sítio e sossegado, também era bom lembrar àqueles outros que o Carmona também já morreu e é para estar sossegado.
Quando é que alguém ensina a essa gente que isto é Portugal e que quem olha para trás só vê passado?

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