Translate

domingo, 20 de maio de 2018

Isaltino Morais na tribuna do Jamor

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

Sim, eu sei que o homem é autarca do concelho onde se situa o Estádio do Jamor. Mas vê-lo ali, todo sorridente na tribuna de honra, faz-me perder um pouco mais de esperança neste país. Faz-me acreditar, ainda mais, que o crime compensa mesmo.

Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, vai ser cardeal

EM ATUALIZAÇÃO 1.30

O bispo de Leiria-Fátima vai ser criado cardeal no dia 29 de junho. A nomeação foi publicada este domingo. Vigário de Leiria-Fátima diz que a nomeação reforça ligação entre o Vaticano e Fátima.


D. António Marto, 71 anos, é bispo de Leiria-Fátima desde 2006

JÚLIO LOBO PIMENTEL / OBSERVADOR

Autores
Mais sobre

O Papa Francisco anunciou este domingo, em Roma, que o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, vai ser nomeado cardeal. O consistório (reunião de Cardeais que aconselham o Papa) para a criação de 14 novos cardeais vai ocorrer a 29 de junho, no Vaticano.

António Augusto dos Santos Marto tem 71 anos e é Bispo de Leiria-Fátima desde 2006. Em 2017, por ocasião da celebração do centenário de Fátima, recebeu o Papa Francisco na visita que fez ao país.

Segundo comunicado de imprensa do Vaticano, o Papa afirma que a nomeação dos 14 novos Cardeais “expressa a universalidade da Igreja que continua a proclamar o amor misericordioso de Deus a todas as pessoas na terra.” O mesmo documento pede aos fiéis que rezem pelos novos cardeais.

Nomeação “reforça a ligação do Papa com Fátima”

O vigário-geral da diocese de Leiria-Fátima, padre Jorge Guarda, o braço direito de D. António Marto, considerou, em declarações ao Observador, que a nomeação “reforça a ligação do Papa com Fátima”.

O que pesa nesta nomeação é, sem dúvida, a figura do D. António, pelo seu serviço à Igreja e pela sua dedicação, mas também o contexto em que ele se insere. O facto de ser bispo de Fátima contribuiu, sem dúvida“, sublinhou o padre Jorge Guarda.

Segundo explica o sacerdote, a nomeação dos cardeais é uma forma de estabelecer uma relação mais profunda entre a sé de Roma — liderança universal da Igreja Católica — e as diferentes realidades da Igreja em todo o mundo.

“Os cardeais ficam inseridos na diocese de Roma, como colaboradores diretos do Papa, mas sem saírem da sua diocese local. Estabelece-se uma ligação maior entre a sé de Pedro e as diferentes dioceses do mundo inteiro”, detalhou o sacerdote.

Bispo foi surpreendido com anúncio

O bispo de Leiria-Fátima estava esta manhã a entrar para a celebração do Crisma na catedral de Leiria quando soube do anúncio, explicou ao Observador o padre Vítor Coutinho, vice-reitor do Santuário de Fátima e chefe do gabinete episcopal.

Foi uma “surpresa total”, até para o próprio D. António Marto, sublinhou. Até porque antes do Papa Francisco, os anúncios eram comunicados aos visados antes de serem tornados públicos, mas o Papa mudou os procedimentos, pelo que o bispo acabou por saber da nomeação ao mesmo tempo que o resto do mundo.

O cético de Fátima que se tornou bispo de Fátima

D. António Marto nasceu em Tronco, concelho de Chaves, a 5 de abril de 1947. Fez os seus estudos entre o Porto e Roma, onde concluiu o seu doutoramento sob a orientação do cardeal alemão Joseph Ratzinger, que viria a ser eleito Papa. Foi também em Roma que, em 1977, foi ordenado padre.

Depois de regressar a Portugal, foi ocupando posições académicas até ser nomeado, em 2000, bispo auxiliar de Braga. Da arquidiocese passou para bispo de Viseu em 2004 e dois anos depois para Leiria-Fátima, onde permanece desde então.

Numa longa entrevista de vida que deu ao Observador em maio de 2017, a propósito da visita do Papa Francisco ao Santuário de Fátima, D. António Marto recordou a sua infância e juventude e como foi um cético dos acontecimentos de Fátima até ler as memórias da Irmã Lúcia.

[Recorde aqui um excerto da entrevista de vida a D. António Marto]

O bispo lembra como olhava “com desprezo” para as “expressões de piedada popular”, criticando procissões, peregrinações e até a oração do terço em família, o que levou inclusivamente a conflitos com o seu pai, que não entendia como é que um padre podia criticar aquelas dimensões da fé.

A sua visão racionalista, recorda, punha em causa algumas expressões da fé, sobretudo a piedade popular, algo que era “típico de uma espécie de cultura de elites, que olha com desprezo para o que é do povo, para o que é popular”.

A conversão a Fátima aconteceu em 1997, quando, já considerado um especialista em teologia, foi convidado para um congresso sobre a Eucaristia na Mensagem de Fátima. Ficou perplexo com o convite, pois Fátima não lhe dizia grande coisa, mas acabou por aceitar o desafio.

“Por honestidade intelectual, comecei por ler as Memórias da Irmã Lúcia, pela primeira vez, e fiquei de facto impressionado. Impressionado pela seriedade do que tratava a mensagem”, recordava o bispo, na entrevista. Acabou por ficar convencido. “Pensei que estávamos ali diante de algo muito sério, muito mais sério do que eu imaginava.”

Atualmente, além de bispo de Leiria-Fátima, é também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

Quarto português no colégio cardinalício

A nomeação de D. António Marto vai colocar mais um português no colégio cardinalício, o órgão com responsabilidade para, entre outras coisas, elege o Papa. O bispo de Leiria-Fátima vai juntar-se a dois cardeais portugueses que residem em Roma — D. José Saraiva Martins (prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos) e D. Manuel Monteiro de Castro (penitenciário-mor emérito da Santa Sé) — e a D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa.

D. António Marto vai falar aos jornalistas às 16h30 a partir do Santuário de Fátima.

Mário Nogueira: “Tempo dos compromissos acabou”

19/5/2018, 18:54

Os sindicatos dos professores discursaram este sábado perante milhares de professores em Lisboa.


Mário Nogueira é secretário-geral da Fenprof

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Autor
  • Agência Lusa
Mais sobre

Os sindicatos que este sábado discursaram perante os milhares de professores que se concentraram em Lisboa avisaram: “o tempo dos compromissos acabou”. As palavras foram ditas aos jornalistas por Mário Nogueira, líder da Fenprof, antes de subir ao palco que partilharia com uma dezena de outros sindicatos.

Usando uma t-shirt com um smile zangado, Mário Nogueira apelou ao ministro ao Educação, Tiago Brandão Rodrigues, para que “ouça e veja a rua”, porque “o tempo dos compromissos acabou” e “agora o ano vai entrar numa fase sensível”.

Às principais reivindicações — contabilizar o tempo de serviço congelado (nove anos, quatro meses e dois dias, traduzidos na mensagem “9A-4M-2D”, replicada em cartazes, folhetos e t-shirts) e aprovar um regime especial de aposentação, ao fim de 36 anos de serviço — os sindicatos acrescentaram outras: baixar o número de alunos por turma, melhorar as condições de trabalho e garantir estabilidade e segurança na profissão.

Pela Federação Nacional da Educação, João Dias da Silva criticou as “políticas de desvalorização”. Saudando “o grande número” de professores que aderiram ao protesto, o dirigente dirigiu-se ao ministro para lembrar que “não chega dizer que a escola é a sua paixão”.

Os professores exigem reconhecimento e respeito”, frisou. “Somos a escola, construímos a escola”, disse, recordando que para a banca “não há limites” de financiamento. A coordenadora do BE foi uma das figuras políticas presentes na manifestação. À pergunta dos jornalistas sobre os apelos à demissão do ministro da Educação, Catarina Martins relativizou, dizendo que “está na altura” de o Governo resolver os “muitos problemas da escola pública”.

Para a líder bloquista, são três as reivindicações principais para demonstrar que os professores são “o pilar da educação”: garantir “respeito pelas carreiras”, assegurar “concursos corretos e justos, que não deixem ninguém para trás” e alterar a situação de “alunos a mais por turma” e “carreiras longas demais”, que explicam o terço de professores “em burnout”, cuja única solução é entrarem de baixa.

Na resolução aprovada pelos sindicatos a propósito da manifestação nacional, é deixado um aviso ao Governo: caso não ouça as reivindicações, os professores e educadores estão disponíveis “para continuar a luta, se necessário, ainda no presente ano escolar”.

Anda o mundo doido, cá dentro e lá fora!

por estatuadesal

(Carlos Esperança, 20/05/2018)

bola

Assunção Cristas chegou a líder do CDS, partido amigo da UNITA, racista e tribal, que a guerra fria alimentou, e foi recebida pelo MPLA, de João Lourenço, na sequência das aulas que serviram de pretexto à viagem ao país que enjeitou. Foi um abraço póstumo do MPLA a Savimbi.

A PGR ignora os autarcas do PSD, Agostinho Branquinho, Valentim Loureiro, Virgílio Macedo, Hermínio Loureiro, Luís Filipe Meneses e Marco António, alegados autores do desvio de muitos milhões de euros municipais, revelados pela revista Visão, e constitui arguido, Manuel Pinho, para acabar despronunciado, não por capricho do juiz, mas por o MP se ter esquecido de o ouvir e de lhe comunicar os crimes de que era suspeito.

Julgado foi o reitor da Universidade Fernando Pessoa, sempre à porta fechada, para não lhe denegrir a imagem, e condenado por comprovado desvio, superior a 2,19 milhões de euros, para si e familiares. Foi condenado a 1 ano e 3 meses de prisão, pena suspensa, e à devolução da importância, apenas a apurada, ao Estado se, entretanto, a Fundação, que é sua, da mulher e de dois filhos, não exigir de volta a verba a que, segundo o juiz tem direito. Valeu-lhe a boa conduta e não ter sido apanhado, com meia dúzia de chocolates, a fugir de um supermercado, embora nos finais dos anos 90, já tivesse sido condenado a dez meses de prisão, suspensa, num processo que envolvia o desvio de subsídios do Fundo Social Europeu, quando era diretor da Escola Superior de Jornalismo do Porto.

Faltava Erdogan, genocida dos curdos, autor de atrocidades contra os direitos humanos, carcereiro de intelectuais, jornalistas e juízes, a denunciar os crimes de Israel contra os palestinos e a Arábia Saudita, do Eixo do Bem, calada quanto à provocação da mudança da Embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém.

E sobrou Trump, a fazer manobras militares conjuntas com a Coreia do Sul, quando a do Norte se tinha comprometido a desnuclearizar-se.
Sobra ainda, para gáudio da comunicação social, e da arraia miúda e graúda, o alvoroço que aí vai num desporto cada vez pior conduzido, mais obscuramente praticado e onde bandos fascistas à solta se portam pior do que os dirigentes que os açulam.

É a vida. Voltámos aos 3 FFF.

Pensar Portugal

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por Telmo Azevedo Fernandes

The-Paris-Opera-6-1600x900-c-default

Fico sempre desconfiado quando se junta um grupo de pessoas para “pensar o país”. Desatam normalmente a descobrir políticas de “interesse nacional” e eu, confesso, já estou farto de me irem ao bolso…

Pus de lado o meu preconceito e admiti que o evento pudesse decorrer em São Mamede de Ribatua para demonstrar a preocupação desta gente pelo Interior, mas calha afinal que se juntaram nessa localidade periférica votada ao ostracismo que é Cascais.

Em luta contra as minhas próprias ideias feitas, reconheci que pelo menos os oradores principais certamente seriam pessoas normalmente sem palco mediático, distantes da oligarquia que nos pastoreia, indivíduos livres e com ideias inovadoras. E não é que eram mesmo?!

Vejam só: Marcelo Rebelo de Sousa; Manuel Caldeira Cabral; António Vitorino; Luís Marques Mendes; Luís Amado; Carlos Carreiras; Jorge Coelho; Guilherme d’ Oliveira Martins; Nunes Liberato; Pedro Reis; Rui Moura Ramos; entre outros. Nem sei como António Costa não se juntou ao acontecimento.

Percebi melhor o que moveu as pessoas a deslocarem-se ao hotel de luxo da Cidadela para assistirem às conferências quando um amigo (mais perspicaz e com maior talento do que o meu) sintetizou da seguinte forma: “é o equivalente a ir à ópera, mas sem a gorda a cantar”.

O país refém de Bruno de Carvalho

por estatuadesal

(Vicente Jorge Silva, in Público, 20/05/2018)

vicente

Hoje, a partir das cinco da tarde, todo o país vai estar de olhos postos no Jamor, não exactamente para ver a final da Taça de Portugal entre o Sporting e o Aves mas para assistir a um novo episódio do folhetim que capturou as atenções gerais e foi tema quase único dos noticiários jornalísticos da semana. Que vai acontecer dentro e fora do relvado? Como vão reagir os jogadores do Sporting, depois dos ataques selváticos de que foram vítimas às mãos de um bando de energúmenos em Alcochete? Qual será o comportamento da assistência, nomeadamente das claques sportinguistas, e como irão actuar as forças de segurança? Qual irá ser a postura do Presidente da República e do primeiro-ministro (sabendo-se que o presidente da Assembleia da República não estará presente)? De qualquer modo, para arrefecer os ânimos, soube-se ontem que o presidente do Sporting desistiu de comparecer, depois de notícias em contrário.

Estas questões não seriam normais num país normal, não tivesse sido ele literalmente capturado por essa personagem improvável chamada Bruno de Carvalho – a que ninguém escapou nos últimos dias, designadamente os comentadores menos versados em matéria futebolística (entre os quais me incluo, apesar da paixão que me persegue desde a infância, nesses anos longínquos em que o futebol não passava de uma actividade de amadores e seria inconcebível a sua transformação numa indústria de milhões, suscitando os comportamentos mais aberrantes). Ora, ao sequestrar todo um país, depois do sequestro da equipa de futebol em Alcochete – do qual é o indiscutível autor moral, por ter criado as condições emocionais e psicológicas para que acontecesse –, Bruno de Carvalho tornou-se a vedeta de um caso em que Portugal, através dos media e das conversas quotidianas, se revê como num espelho.

Aconteça o que acontecer, venha a ser ou não destituído nos próximos dias, o ainda presidente do Sporting pode vangloriar-se de um feito verdadeiramente invulgar e que justificará amplamente a sua megalomania ou, como confessou ao Expresso, a sua estratégia de fazer-se passar por maluco: ele foi (ainda é) o centro das atenções e perplexidades nacionais, esse espelho em que o país foi obrigado a rever-se e questionar-se, incomodado e incrédulo, sobre como foi possível chegar ao ponto a que se chegou. Que uma personagem tão boçal, grotesca e quase inverosímil tenha sido durante tanto tempo adulada, entronizada e legitimada por tanta gente – nomeadamente por pessoas com qualificações muito diversas, desde as áreas económicas até, pasme-se!, à psiquiatria – é um fenómeno que ultrapassa o campo das meras paixões futebolísticas, para se inscrever no universo das dependências ou submissões mais inconfessáveis e da irracionalidade pura e simples. Finalmente, que tenha sido preciso acontecer o que aconteceu em Alcochete para alguma dessa gente acordar subitamente e retirar o apoio a uma personagem a que se atribuíam dons prodigiosos constitui um indicador muito sintomático da cegueira, do sono e da cobardia a que se acomodam as consciências, fugindo a sete pés do desastre anunciado e que elas foram incapazes de prevenir.

Se o futebol se tornou um reflexo das derivas do funcionamento das sociedades, enquanto domínio imune, tantas vezes, à própria legalidade, o caso Bruno de Carvalho fez-nos confrontar, em Portugal, com um fenómeno corrosivo que desejaríamos iludir: o populismo. A partir do momento em que um país ficou refém de tal caso e tal personagem, importa extrair rapidamente as conclusões desse sequestro que, pela sua amplitude mediática e social, ultrapassou claramente as fronteiras futebolísticas.

Não podemos continuar a dormir se não queremos que os Brunos de Carvalho se reproduzam noutras espécies – sociais e políticas – e os bandos de arruaceiros das claques antecipem as brigadas fascistas e nazis de sinistra memória.

Desculpe, senhor juiz, mas ele abriu a carteira e não pude deixar de o assaltar

Novo artigo em Aventar


por j. manuel cordeiro

Enquanto os holofotes mediáticos nos entretêm com o circo, o governo entreteve-se a não zelar pelo interesse nacional.

Entretanto, voltado ao tema do post, Costa, não destoando dos seus antecessores, aposta em resolver os problemas com mais legislação. Sempre fica mais simples dar a entender que a causa do problema é a ausência de legislação do que explicar porque é que a legislação existente não é aplicada.

Teerão diz que, com apoio da União Europeia, exportações de petróleo mantêm-se

20/5/2018, 0:43

O ministro do Petróleo iraniano, Bijan Namdar Zanghaneh, afirmou que as exportações de petróleo vão-se manter estáveis se a União Europeia ajudar o Irão e mantiver em vigor o acordo nuclear.


Quem fez a afirmação foi o ministro do Petróleo iraniano, Bijan Namdar Zanghaneh. Cerca de 20% das exportações de petróleo do Irão têm como destino a UE.

ABEDIN TAHERKENAREH/EPA

Autor
  • Agência Lusa
Mais sobre

O ministro do Petróleo iraniano, Bijan Namdar Zanghaneh, afirmou este sábado que o nível das exportações de petróleo se vai manter estável se a União Europeia (EU) ajudar o Irão e salvar o acordo nuclear. “Creio que se a UE nos ajudar […] o nível das nossas exportações de petróleo não vai mudar”, disse o ministro após uma reunião com o comissário europeu da Energia, Miguel Arias Cañete.

Cerca de 20% das exportações de petróleo do Irão têm como destino a UE e 70% a China e outros países asiáticos. Segundo o ministro iraniano, citado pela agência Irna, Teerão também “negociou” com os seus clientes asiáticos, em particular a China e a Índia, e não recebeu nenhum “sinal negativo” da parte deles.

O Irão produz atualmente 3,8 milhões de barris de petróleo por dia e exporta cerca de 2,6 milhões de barris diários de petróleo bruto e de gás condensado. O comissário explicou por seu lado que o euro tornar-se-á a divisa das transações de petróleo iraniano, realizadas através de transferências entre os bancos centrais europeus e o banco central do Irão.

Miguel Arias Canet é o primeiro responsável ocidental a ser recebido na capital iraniana desde a decisão dos Estados Unidos, anunciada a 8 de maio, de sair do acordo nuclear iraniano alcançado em 2015 e de impor novamente sanções económicas.

O ministro iraniano admitiu que as sanções norte-americanas vão ter “impacto nos investimentos [estrangeiros], reduzindo a taxa de crescimento” da economia.

O comissário europeu afirmou, por seu lado, que a UE está disposta “a intensificar” as trocas comerciais com o Irão e a “tentar neutralizar os efeitos” das sanções norte-americanas que, no caso do setor energético, começam a ser aplicadas em novembro.

O acordo nuclear, assinado em 2015 entre o Irão e o Grupo 5+1, constituído pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha, prevê limitações ao programa nuclear iraniano em troca do levantamento gradual das sanções internacionais.

Depois da decisão dos Estados Unidos, a Comissão Europeia ativou na sexta-feira o chamado “estatuto de bloqueio”, que liberta as empresas europeias dos “efeitos extra territoriais das sanções dos Estados Unidos”.

A Comissão lançou também o processo formal para permitir ao Banco Europeu de Investimento (BEI) financiar atividades no Irão, o que abre a possibilidade de os países da UE fazerem transferências pontuais para o Banco Central do Irão.

China e EUA renunciam a guerra comercial entre os dois países

20/5/2018, 9:59

O vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, anunciou que os dois países chegaram a um consenso e decidiram não aumentar as taxas comercias. Decisão surgiu num encontro bilateral em Washington.

Ana Freitas/LUSA

Autor
  • Agência Lusa
Mais sobre

A China e os Estados Unidos decidiram renunciar a qualquer guerra comercial e à imposição de novas taxas entre os dois países, afirmou este domingo o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, citado pela agência de notícias Xinhua.

“As duas partes chegaram a um consenso, não participarão numa guerra comercial e não aumentarão as respetivas taxas”, adiantou o governante, que liderou a delegação chinesa que se encontrou com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, em Washington.

Presidente da República considera “plausível” aprovação do próximo Orçamento do Estado

19/5/2018, 20:39

Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que "é plausível" a aprovação do quarto e último Orçamento do Estado do atual Governo.


O Presidente da Republica fez as declarações em Cascais, numa conferência organizada pelo movimento cívico Portugal XXI

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Autor
  • Agência Lusa
Mais sobre

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou este sábado que “é plausível” a aprovação do quarto e último Orçamento do Estado do atual Governo, que permitirá a conclusão da legislatura.

Numa conferência sobre os desafios de Portugal para a próxima década, em Cascais, organizada pelo movimento cívico Portugal XXI, Marcelo Rebelo de Sousa apontou a estabilidade e a durabilidade da atual solução de Governo — apoiado no parlamento por acordos à esquerda — como o primeiro desafio dos últimos dois anos.

“Foi vencida no que respeita à aprovação de três sucessivos Orçamentos do Estado, é plausível que seja vencida com a aprovação do quarto orçamento, assim permitindo chegar ao final da legislatura”, afirmou.

Apontando que dentro de um ano o país iniciará um ciclo eleitoral — com europeias, legislativas e regionais da Madeira -, o chefe de Estado deixou um reparo: “Olhando para a realidade portuguesa, dir-se-ia que a campanha eleitoral já começou. Nada que não tivesse previsto ou temido uns meses atrás”, sublinhou.

Entre os desafios para a próxima legislatura, Marcelo Rebelo de Sousa incluiu os temas sociais, como a saúde e a educação, a coesão territorial e deixou um alerta sobre um eventual processo de regionalização, depois de um acordo entre PS e PSD circunscrito à transferência de competência para os municípios.

“Estamos perante uma primeira fase da descentralização ou municipalização, ficando para a segunda fase a questão da regionalização, questão de experiência feita complexa, pressupõe saber o que se quer regionalizar, como se quer regionalizar (…) os meios alocáveis, o estatuto orgânico e depois o procedimento”, disse.

Neste ponto, o chefe de Estado lembrou que a Constituição “tem um procedimento” — prevê a realização de um referendo — e que “alterar esse procedimento implicaria uma prévia revisão constitucional”.

Na sua intervenção, de cerca de 45 minutos, o Presidente da República revisitou os alertas que tem feito sobre o perigo de aparecimento de populismos em Portugal e alertou que estes vêm muitas vezes de fora da política, numa referência que parece aplicar-se ao momento que se tem vivido em Portugal no desporto e em particular no futebol.

“Virão de fenómenos de insegurança e de medo, virão de sensações de debilidade das instituições, virão de problemas de radicalismo de debate ou de prática em áreas que são socialmente muito relevantes e têm muito peso e que muitas vezes se cruzam com o sistema político”, afirmou, alertando que “é fácil haver uma importação para o sistema político de lideranças populistas e fenómenos xenófobos”.

O chefe de Estado defendeu, neste campo, ser necessária uma atuação rápida e preventiva, para que não se entre “num debate fulanizado, pessoalizado, em que as instituições vão a reboque dessa fulanização”.

“Eu tenho por vezes a sensação de que há alguns sinais disso na sociedade portuguesa, pode ser que esteja enganado, mas foi assim que começou noutras sociedades”, avisou.

Marcelo Rebelo de Sousa fez também questão de incluir nesta reflexão sobre os principais desafios do país a sua leitura dos poderes presidenciais, que defende só poderem variar “no estilo”.

“Não se espere, pois, a mínima abertura a apelos sebastiânicos intoleráveis em democracia, nem a presidencialismos incompatíveis com o sistema vigente”, afirmou, dizendo estranhar que alguns fiquem “irritados” com esta sua visão conservadora e em que não defende qualquer expansão dos poderes presidenciais.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, “compete ao Presidente da República não fazer nada que ultrapasse um milímetro que seja as fronteiras constitucionais”, tal como lhe compete “não deixar de fazer nada que dentro dessas fronteiras e até ao limite dessas fronteiras sinta ser seu dever fazer”.

“Quanto ao mais, que é estilo, sabem que prefiro prevenir a remediar, intervir atempadamente a silenciar (…), estabilizar em vez de suscitar crises e assumir a suprema responsabilidade porquanto de extrema gravidade revele impotência reiterada de autoridade do Estado”, disse.

Grécia e credores fecham acordo institucional sobre última revisão de resgate

19/5/2018, 22:43

O Governo grego e as instituições de credores chegaram a um princípio de acordo sobre os requisitos necessários para finalizar a última avaliação do programa de assistência financeira.

NUNO VEIGA/LUSA

Autor
  • Agência Lusa
Mais sobre

O Governo grego e as instituições de credores chegaram este sábado a um princípio de acordo sobre os requisitos necessários para finalizar a última avaliação do programa de assistência financeira.

Citados pela agência EFE, os credores — Banco Central Europeu (BCE), Comissão Europeia (CE), Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) — anunciaram que o acordo será submetido à aprovação do Eurogrupo na próxima quinta-feira.

“Houve um acordo a nível institucional sobre um conjunto de reformas necessárias para terminar, com êxito, a quarta avaliação do programa do MEDE. O acordo será apresentado na próxima reunião do Eurogrupo”, adiantaram as instituições.

O grupo de credores referiu ainda que as autoridades gregas “pretendem avançar com a implementação das reformas” antes da reunião de 21 de junho com o Eurogrupo, mantendo-se, até lá, em “intensa cooperação” com as instituições”.

A cumprir-se a calendarização, previamente estipulada, a Grécia poderá sair do terceiro programa de assistência financeira a 20 de agosto.

Em 27 de março, o MEE aprovou o desembolso da quarta tranche do programa de assistência à Grécia, no valor de 6,7 mil milhões de euros.

Em comunicado, o Conselho de Administração do MEE indicou, na altura, que aprovou o desembolso de uma primeira subtranche de 5,7 mil milhões de euros, a realizar-se a 28 de março, e o desembolso extra de mil milhões de euros depois de 01 de maio, com este a depender dos progressos de Atenas na redução do nível de pagamentos em atraso e na melhoria da eficácia do sistema de contratação eletrónica.

“A decisão de hoje do Conselho de Administração do MEE reconhece o trabalho árduo do Governo e do povo grego para completar um extenso conjunto de reformas. Estas incluem importantes ações na área das privatizações, da cobrança das receitas públicas, da política fiscal e na resolução do crédito malparado. A quarta e última revisão já começou e estou confiante de que a Grécia se mantém no caminho para sair com êxito do programa de assistência em agosto de 2018”, disse o diretor executivo do MEE, Klaus Regling, citado em comunicado.

Já em 22 de janeiro, o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, havia anunciado “boas notícias” sobre a Grécia, com o acordo político alcançado sobre a terceira revisão do programa de assistência em curso.

Centeno considerou, à data, que o sucesso da terceira revisão refletia “o enorme esforço e a excelente cooperação entre o Governo grego e as instituições” e indicou que, uma vez concluídas as restantes medidas acordadas com Atenas, seria efetuado um novo desembolso de 6,7 mil milhões de euros.

Sousa Tavares responde a Bruno de Carvalho: “Pessoas pouco inteligentes fazem interpretações literais”


19/5/2018, 17:35

Bruno de Carvalho criticou crónica onde se lê que "Brunos de Carvalho devem ser mortos à nascença". Ao Observador, Sousa Tavares diz que não é literal e que só pessoas pouco inteligentes não entendem.

Andre Kosters/LUSA

Autor
Mais sobre

Bruno de Carvalho chegou à longa conferência de imprensa desta tarde, em Alvalade, com os jornais do dia debaixo do braço. À cabeça, criticou logo o artigo de opinião assinado por Miguel Sousa Tavares no Expresso, onde se lê, na chamada de capa, que “Brunos de Carvalho devem ser mortos à nascença”. Mais à frente, nas mais de 2 horas de duração da conferência de imprensa, o presidente do Sporting voltaria a criticar mais do que uma vez o mesmo artigo, sem nunca referir o nome do jornalista. Miguel Sousa Tavares, contudo, não recua no que escreveu, admitindo apenas ao Observador que a chamada de capa é “abusiva, tirada do contexto e presta-se a que pessoas pouco inteligentes façam interpretações literais“.

“Obviamente que não defendo o homicídio de ninguém, não faço parte do bando de arruaceiros que invadiu Alcochete. O que digo ali é que a demagogia deve ser morta à nascença, e toda a gente com o mínimo de inteligência que ler o texto percebe isso”, disse o jornalista e escritor ao Observador, minutos depois de ter terminado a conferência de imprensa em Alvalade. Uma conferência de imprensa que, de resto, Sousa Tavares não viu. “Já chega de Bruno de Carvalho a falar dele próprio, mas de certeza que as referências que fez não foi ao meu texto mas à chamada de capa”, acrescentou.

Numa das alíneas do dossiê “Sporting” destacado na capa do semanário, lê-se: “Sousa Tavares: Brunos de Carvalho devem ser mortos à nascença”. O título do artigo, esse sim da autoria do escritor, é: “Como nascem os Brunos de Carvalho. E porque devem ser mortos à nascença”. No artigo, Miguel Sousa Tavares explica como a demagogia associada à figura de Bruno de Carvalho era “cristalinamente clara” desde o primeiro dia, pelo que devia ter sido travada.

[Bruno de Carvalho] é, à vista desarmada, um narciso doentio, vaidoso e egocêntrico, sedento de um protagonismo insaciável, um Kim Jong-un da Reboleira. Porém, mais do que os 90% de povo sportinguista que o seguiram — e que metem medo porque demonstram como a ocasião pode fazer triunfar o demagogo — o que impressiona é perceber como tantos que, pelo menos, não poderiam deixar de ver o ridículo do personagem, o seu evidente descontrolo psicológico, o perigo do seu distúrbio de personalidade, o aventureirismo da sua óbvia incompetência, não viram nada disto e até ao fim o seguiram como cordeirinhos para o matadouro”, lê-se no artigo de opinião.

No final da crónica, Sousa Tavares explica que o que “assusta” é o facto de a demagogia ter estado bem à frente do nariz de todos, incluindo de figuras letradas (“elites”) como o psiquiatra Daniel Sampaio, o jornalista Daniel Oliveira, ou o médico Eduardo Barroso, e mesmo assim não ter sido detetada por eles, que votaram em Bruno de Carvalho. “Porque os Brunos de Carvalho do futebol antecipam o que poderá ser um dia o aparecimento dos Brunos de Carvalho da política. E, a avaliar pelo que vimos no Sporting, o povo está maduro para lhes abrir os braços. O povo e as pretensas elites, que se julgava educadas para defender a democracia contra a demagogia”, escreve.

Na conferência de imprensa, Bruno de Carvalho referiu várias vezes o artigo, lembrando inclusive um processo antigo que interpôs contra o mesmo jornalista e do qual Sousa Tavares saiu ilibado em nome da liberdade de expressão. Mas Bruno de Carvalho não esquece, e voltou a desafiar a Entidade Reguladora para a Comunicação, o sindicato dos jornalistas e os juízes a estarem atentos ao artigo deste sábado.

Entretanto, o semanário Expresso abriu o artigo em questão a todos os leitores, e não apenas a assinantes, e emitiu uma nota da direção onde dá um passo atrás para contextualizar a chamada de capa, “deixando claro que é uma expressão não literal e que critica os demagogos em geral”. “Porque a chamada de primeira página pode levar a uma leitura errada porque não contextualizada, a direção do Expresso vem deixar claro que a frase é não literal e se refere aos demagogos em geral, como resulta claro da leitura integral do texto. Para amplificar este esclarecimento, o texto foi aberto a todos os leitores”, lê-se.

A versão mais bélica para agradar a uns deu o flanco para os tiros de outros: Bruno de Carvalho, nas entrelinhas


19 Maio 2018116

Bruno Roseiro

Bruno de Carvalho tem poucas fichas mas fez all in. Em muitas partes, regressou até à versão bélica de 2011. Foi à luta com as armas do passado para se segurar no presente mas o futuro está em risco.

Partilhe

Bruno de Carvalho sofreu uma autêntica metamorfose entre as eleições de 2011, em que surgia como um outsider ou o “candidato do um por cento”, como recentemente se intitulou, e o sufrágio de 2013, em que partia como favorito por ter marcado uma posição dois anos antes. E mudou exatamente por isso, por perceber o contexto em que se encontrava. Cinco anos depois, teve de novo essa perceção de, perante tudo o que tem acontecido ao Sporting, ter passado para um patamar de segundo plano perante um cerco apertado para o qual também contribuiu muito.

Esta tarde, mais de uma hora depois do que estava marcado, e durante cerca de 120 minutos, o presidente leonino falou. E falou. E falou. Com as demissões em catadupa, a pressão externa, a relação claramente debilitada com o plantel de futebol e notícias que dão conta de alegados esquemas de corrupção no Campeonato Nacional de futebol e andebol, Bruno de Carvalho tem sido um alvo com diversas miras apontadas. Diversas, ainda não demasiadas na sua ótica. Por isso, regressou ao estilo mais bélico, recordando as duas décadas que lhe antecederam e que deixaram a SAD com um PER — Processo Especial de Revitalização que pretende evitar a insolvência — em cima da mesa para sobreviver. Para muitos, ou quase todos, o mais importante foi os disparos que fez para fora; para ele, o mais importante eram as mensagens que passava para dentro, para aqueles que irão decidir sempre o seu futuro, seja em sessões de esclarecimento, reuniões magnas ou eleições.

No entanto, entre tantos os disparos, também abriu o flanco e as reações de fora sucederam-se em catadupa (incluindo desmentidos de alguns órgãos de comunicação social, que voltou a ser estar na mira). Foi no estilo do passado que Bruno de Carvalho tentou assentar as suas hipóteses de ter um presente, mas o seu futuro em Alvalade está cada vez mais em risco, sobretudo depois da final da Taça de Portugal. Etudo com um outro ponto estrutural que terá reflexos a médio prazo muito maiores do que todos os problemas conjunturais: o ruído que está a ser criado coloca o clube numa posição onde as fações estão cada vez mais extremadas. Algo que, como se viu com vários exemplos que lhe antecederam na liderança, pode deixar feridas que nunca chegam a sarar.

Alvo de bullying, (quase) vítima de chantagem

“Nós somos pais, filhos, maridos, temos a nossa dignidade, honra e respeitabilidade, e esta campanha que se instalou e que a comunicação social dá eco chegou ao limite de hoje na capa do Expresso, a dizer “Brunos de Carvalho devem ser mortos à nascença”. Temos outra capa com uma caricatura onde estou com uma matraca ou uma moca a dizer: “Bruno deu aval a agressões”. Outra que diz que jogadores acham que seria uma afronta ir ao Jamor. Outra que tem que os jogadores não querem Bruno. Outra que diz que comprámos outro atleta. E mais, e mais, e mais… Tem de ter o seu limite. É um total desrespeito pelo sentido das regras mais basilares da democracia e pelos princípios e direitos humanos. Estamos a ser alvo – e aqui falo de mim e dos meus colegas, a quem muito agradeço estarem comigo apesar das chantagens diárias – de bullying, de completo terrorismo e a única coisa que falta é entrarem por aqui como aconteceu naquele ato criminoso e arrancarem partes do corpo…”.

Como responderia mais tarde Miguel Sousa Tavares, "qualquer pessoa inteligente não faria interpretações literais" à frase nomeada pelo presidente do Sporting no arranque da conferência. E o próprio Bruno de Carvalho sabe disso. No entanto, encontrou numa frase de oito palavras o arranque para duas horas de intervenção que quis balizar num embrulho de "mega campanha" montada para retirá-lo da liderança do clube, que envolve não só a alegada ligação aos ataques na Academia mas também à relação com os jogadores e à operação CashBall. Há um cerco muito claro ao número 1, todos perceberam, e perante isso o líder verde e branco utilizou (mais) um dia carregado de notícias que não o favorecem para responder com um ataque cerrado a inúmeras pessoas ou órgãos. Mas foi de passagem que falou naquilo que, em termos práticos, ainda o mantém em Alvalade: o vice-presidente e os cinco vogais que não apresentaram a demissão e que têm sofrido inúmeras pressões no sentido de saírem e provocarem um cenário de eleições antecipadas - pressões que surgem, inclusive, de alguns dos dirigentes que entraram e saíram com Bruno de Carvalho. Resultado na mistura das duas ideias: quem sair agora cede às campanhas externas e vai ficar "colado" a qualquer coisa de negativo que venha a acontecer no clube a partir desse momento.

As manobras externas e a (contínua) falta de militância

“Vamos aqui fazer um exercício que não queríamos fazer, da forma mais responsável e cuidadosa possível. Tenho pena que a comunicação social, assim como alertei os sportinguistas na Assembleia-Geral, esteja a contribuir para atos de verdadeiro terrorismo. Sempre disse que se não estivessem atrás de mim que me matavam e sempre me disseram para ir em frente porque estavam ali, eram o exército. Neste momento, perante o ataque mais vil, pessoal e indigno que me estão a fazer, não vejo afinal onde estão as pessoas que sabiam da capacidade de manipulação e estão a deixar morrer aquele presidente que juraram nas Assembleias Gerais e nas eleições que podia dar 24 horas do seu tempo e o corpo às balas para denunciar o que está mal no desporto. Entregámos o nosso destino nas mãos dos sportinguistas e 90% disseram que queriam este estilo e esta gestão.”

Bruno de Carvalho tem a completa perceção que, se fizessem uma sondagem a todo o universo Sporting entre os sócios e os adeptos do clube, mais ou menos desligados, atravessa de longe o pior período desde que ganhou as eleições de 2013. No entanto, e como também mostrou o pedido para uma Assembleia Geral Extraordinária, existe uma realidade paralela entre o que pensam os adeptos e o que acreditam os associados que têm participação ativa, com presença em reuniões magnas e eleições. Foi para esses, que serão amanhã, no próximo ano ou daqui a três aqueles que irão sufragá-lo nas urnas, que o presidente falou. Neste caso, numa perspetiva dupla: por um lado, recordando que se em dois meses acreditavam tanto nele, não pode ter havido uma quebra tão grande (na verdade pode, porque a forma e as razões que levaram à convocatória dessa Assembleia Geral não deixaram toda a gente satisfeita); por outro, para reclamar algo que fala desde que chegou a Alvalade – a falta de militância na defesa pública dos interesses dos leões.

O ataque a Sobrinho e a saída da Holdimo da SAD

“A Holdimo é um caso curioso da comunicação. Álvaro Sobrinho era dos homens mais mal falados, e ainda é mas esta semana passei a ser eu, por todos os motivos: BESA, congelamentos de contas, problemas em vários países… Aparece quase como herói nacional e aquilo que ele diz afinal tem relevância e para a vida do Sporting. Quero dizer que não tivemos nenhum relacionamento especial com a Holdimo, dos 20 milhões que colocaram na altura de Godinho Lopes – e quero relembrar porque isto é um jogo e ele foi trazido por José Maria Ricciardi – só fizemos um acerto de contas de 500 mil euros e ofereceram a tal carrinha para o futebol profissional. Para nós, enquanto sportinguistas e Comissão Executiva da SAD, [a Holdimo] já devia ter vendido a sua participação na SAD porque não é a marca ideal para dar nome e reputação ao Sporting. E recordo-me que, quando fomos buscar Jorge Jesus para o Sporting, isso era possível com o dinheiro sujo de Álvaro Sobrinho…”

A Holdimo já tinha mostrado o seu desconforto com Bruno de Carvalho após a crise institucional que sucedeu à derrota em Madrid. Mas desta vez foi o próprio Álvaro Sobrinho, com três/quatro intervenções em diferentes meios num curto lapso de tempo, que pediu directamente a saída do presidente leonino (primeiro da SAD, depois do clube também). Bruno de Carvalho e Sobrinho criaram uma boa relação, de confiança, quando o atual líder entrou em Alvalade. E a questão do autocarro citada por Bruno de Carvalho, por exemplo, tem uma simbologia muito maior do que o número 1 verde e branco lhe atribuiu. Foi a "prenda" e o momento alto da I Gala Honoris Sporting, no Meo Arena. Mais profundo ainda porque, se recuarmos a essa altura, e falamos de 2015, havia um movimento inverso – os sportinguistas torciam o nariz a um eventual aumento da percentagem da Holdimo na SAD e era Bruno de Carvalho que minimizava a questão, dizendo tratar-se de um parceiro importante para os leões e nada mais. Depois, as relações azedaram e muito, com a noção de que os 30% do maior investidor privado da sociedade poderiam ser reduzidos caso se concretizasse a entrada de um novo parceiro com 18 milhões. O presidente leonino não quis apenas "atacar" Álvaro Sobrinho; pretendeu, mesmo para quem deseja agora a sua demissão, deixar uma imagem negativa da Holdimo para que a sociedade nunca faça crescer a sua importância na SAD.

Ricciardi, o dono disto tudo com quem era hipócrita

“Durante estes anos errei muito e aprendi muito. Dizem que os líderes têm de ser hipócritas e fui, a bem da união e coesão do Sporting que sempre disse que era estéril. Há uma parte do Sporting que nos recusa e que sempre nos recusará. Ricciardi é o estratega de tudo isto, com promessas nos corredores de entradas de milhões no Sporting com Álvaro Sobrinho, quando só se viu o acerto de contas de 500 mil euros e uma carrinha. É um sobrevivente, um daqueles que vai passando pelos pingos da chuva nem que tenha de ter a família toda na cadeia… Quis assessorar com a sua nova empresa o empréstimo obrigacionista com o Montepio. A proposta foi analisada, recusada e entrou num loop de uma campanha vergonhosa. Continuava a achar que era dono do Sporting, que poderia pôr e dispor, e quando se disse ‘não’ entrou num loop completo e começou a juntar as suas tropas. Ricciardi, Rogério Alves, estamos a falar de tudo aquilo que o Sporting conseguiu afastar e que sempre me orgulhou e deve continuar a orgulhar os sportinguistas. Quando renovei com Jorge Jesus, prometeu 15 milhões ao Sporting que seria o incremento do contrato de Jesus e ele jurou que sim, que dava. Estamos à espera até hoje”

Este foi um dos momentos em que a versão belicista "Bruno de Carvalho 2011" mais se notou. Mas, ao mesmo tempo, acabou por servir também como um pedido de desculpa aos apoiantes que sempre teve e que não gostaram de ver a aproximação que o presidente leonino teve ao banqueiro nos últimos tempos, após muitas críticas entre ambos (até porque no Sporting é assim há alguns anos: Ricciardi escolhe um candidato e os restantes criticam-no para tentar capitalizar votos). Ao dizer que foi hipócrita na relação que tinha com o antigo conselheiro leonino, o líder do clube de Alvalade quis justificar essa ligação à figura que agora lhe retirou o apoio; depois, criticou de forma dura aquele que considera ser uma espécie de "dono disto tudo" no Sporting, ao ponto de colocar algumas questões familiares pelo meio do discurso. Bruno de Carvalho quis recuperar o fantasma de duas décadas onde o clube esteve mais colado àquilo que alguns consideram ser uma elite, focando-se também no "caso" do empréstimo obrigacionista, assunto que estava ainda fechado no clube. Em paralelo, o presidente leonino visou ainda dois pontos: o posicionamento de Rogério Alves em caso de eleições antecipadas e a ligação estreita que o banqueiro tem com o treinador Jorge Jesus.

Balizar o início do filme na Madeira e não no pós-Madrid

“Vamos falar do sucedido na Academia e vou tentar ser o mais cuidadoso possível estando 100% disponível para auxiliar a Justiça em todos os aspetos do que aconteceu. Foi um ato bárbaro de terrorismo e aproveitaram-se de um homem que estava abatido e estava em estado de choque com o que viu, tentando e conseguindo colar na opinião pública que “0 crime era chato e faz parte do dia a dia”. Foi um ato hediondo mas que tem o seu início. Aquilo que sabemos é que na Madeira houve atletas do Sporting que infelizmente, por impulsividade, pelo seu temperamento quente, não conseguiram aguentar aquilo que é a frustração. Confesso que os percebo porque já passei por isso, é duro para quem se sente injustiçado, mas temos de saber na vida aguentar e aceitar. Sem o nosso conhecimento, foi dito por um dos ex-líderes da claque Juventude Leonina que iria na terça-feira falar com esses atletas que lhes chamaram nomes e que se viraram. Mas continuo a dizer que os atletas não têm culpa nenhuma. Foi um ato vil, que teve uma origem mas não foi a 6 ou a 7 de abril, quando estava a um dia de saber se a minha filha mais nova sobrevivia ou não. Teve início na Madeira, local onde infelizmente não fui porque gosto de acompanhar [a equipa] mas havia uma prova europeia e uma Taça de Portugal, mas era minha forte convicção que íamos à Madeira ganhar. Não era minimamente expectável perdermos o jogo.”

Por mais de uma ocasião, o presidente leonino condenou os ataques a jogadores e à equipa técnica na Academia. E cumpriu aquilo que o Observador tinha colocado durante a semana como ponto de honra de Bruno de Carvalho: deixar claro que não teve nada a ver com as agressões, nem nenhuma ligação ao que se passou. Nesta primeira fase, teve três grandes objetivos: 1) a descontextualização que houve, na sua ótica, da primeira reação, ainda na Academia, através do canal do clube, logo nessa terça-feira à noite, e da qual só teve consciência quando se apercebeu das reações que se viam na blogosfera leonina; 2) a explicação para não ter estado na Madeira, justificada pela Liga Europeia de hóquei em patins no Porto e pela Taça de Portugal de futsal em Gondomar (embora, cruzando com aquilo que disse depois, não façam muito sentido as justificações, porque o jogo frente ao Marítimo "valia" uma possível quantia de 22 milhões de euros e uma planificação completamente diferente da próxima temporada); 3) a confirmação de algo que tem vindo a ser escrito e que tem a ver com a reação de alguns elementos da Juventude Leonina após a "resposta" em tom duro de alguns jogadores (Battaglia e Acuña) às críticas que foram feitas ainda no estádio, no aeroporto e na garagem de Alvalade após a derrota na Madeira que atirou o Sporting para o terceiro lugar e deixou a Liga dos Campeões para o Benfica.

A defesa dos jogadores, a sua família, até à morte

“Não foi a SAD que deu autorização para alguém entrar. Nunca houve nada em cinco anos, tínhamos uma folha de limpa e ficámos manchados por isto. Lamento que, com o apoio da bem montada teia cartilheira do Benfica, se diga que sou culpado moral. Falou-se em provas, testemunhos fidedignos. Sou pai. Os atletas são a minha família, posso criticar ou dar os parabéns, mas são a minha família e jamais em tempo algum deixaria que fizessem mal à minha família (…) Só não estive lá porque nesse dia do treino saem as notícias mentirosas do Cashball. Temos um nome e uma política contra tudo o que é corrupção e estivemos com o gabinete jurídico a perceber aquele claro ataque. Por um ato que desconhecia na totalidade, podia estar com pontos e fraturas porque eu ia lá estar (…) Jogadores que vão ser nossos, como o Raphinha, também sofreram situações destas mas como não era Bruno de Carvalho, Portugal não ficou assim. Não fazia a menor ideia deste ‘pedido’ do “Vais dizer-me isso na cara”. O que me foi transmitido pelos jogadores quando perguntei o que se tinha passado era que estava bem, que não era nada que não se resolvesse. Tenho pena que não me tenham dito o que se passou e tenho pena de não estar lá porque, para passarem por mim, tinha de sair de lá morto. Pela minha família e pelo meu clube, eu morro”

Bruno de Carvalho leva as palavras e as promessas ao exagero quando quer que uma mensagem não passe mesmo ao lado de ninguém. Foi o que aconteceu, colocando-se também ele como vítima de uma alegada campanha que o tenta colar a um ato que diz que desconhecia por completo que pudesse acontecer e que também o poderia ter envolvido a ele, antes de passar ao ataque. Ao dizer que, se estivesse na Academia seria preciso matá-lo para chegarem aos jogadores, o presidente leonino deu uma versão paternalista da relação com o plantel, tal qual uma família. Para Bruno de Carvalho, sendo um "pai" do plantel, tem direito para elogiar ou criticar os seus "filhos", mas sempre com limites, que neste caso foram extravasados por completo. Mas aqui também foram deixados dois "recados": para todos aqueles que, não sendo da esfera do desporto, vieram falar sobre o caso sem que tivessem feito o mesmo quando os adeptos do V. Guimarães invadiram um treino; e para a própria opinião pública, porque depois daquilo que disse sobre a liderança de Jesus no balneário na crise institucional pós-derrota em Madrid, quis vincar que as coisas só aconteceram porque não estava na posse de todos os dados e antecedentes.

O aviso para as rescisões unilaterais e a “farpa” em Patrício

“Criou-se uma campanha de pânico para sermos corridos do Sporting, dizendo que os jogadores estavam a preparar rescisões de contrato. Pedir rescisão por um ato que começa numa rixa, e entendam como termo para os jogadores que não perceberam o impacto nem a dimensão, mas que pelos vistos o teve. Começa nos jogadores. O Rui Patrício tem tempo suficiente no Sporting, e eu respeito-o, e não pode nem deve nos estacionamentos dirigir-se a sócios e adeptos a chamar nomes e a dizer que sabiam que estavam pagos, como quando aconteceu quando chegaram de Madrid. Tem mais inteligência emocional do que isto. Não devemos entrar neste tipo de situações com os adeptos. Alguma vez estou a dizer que merecia um ato criminoso? Nunca! (…) Já disse a Joaquim Evangelista, por exemplo, que não pode haver uma tentativa de rescisão por algo que involutariamente saiu dos jogadores. Eles não merecem nada do que passaram, aquilo não é o Sporting nem vai ser nunca mais, mas manter este terror, este silêncio ensurdecedor (…) Cheguei a colocar-me à frente de centenas de adeptos, em Chaves ou em Portimão, e coloquei-me à frente para que se quisessem fazer alguma coisa fizessem a mim e não a eles (…) Tive uma reunião com eles na segunda-feira e disse que tinha sido uma desilusão mas que nos tínhamos de focar. Todos eles responderam que sim e fui perguntar a um atleta do Sporting se ele tinha a noção do que era virar-se a um líder de uma claque; respondeu-me que tinha um sangue quente. Fui falar com o outro e ele disse que só foi ajudar. E com outro, disse que não houve problemas. Isto na véspera do ataque hediondo, mas disse aos jogadores que se houvesse qualquer indício ou ameaça para transmitirem a mim ou ao André [Geraldes]. Em momento algum transmitiram que havia aquele encontro apalavrado para terça-feira e podiam-me ter dito isso. Teríamos motivo para fazer alguns processos disciplinares perante o que aconteceu mas com um crime daqueles não merece, mas não me venham falar mais de rescisões.”

Bruno de Carvalho tinha um objetivo claro: combater a ameaça que tem vindo a ouvir de várias pessoas, incluindo do clube, sobre a possibilidade de haver uma rescisão unilateral do plantel após a final da Taça de Portugal. E deixou várias indicações nesse sentido, incluindo a conversa que manteve com Joaquim Evangelista, o presidente do Sindicato dos Jogadores. Argumento? Uma visão alternativa do que se passou na Academia, que, sublinhou, nunca deveria ter acontecido nem tem justificações, mas que, ao contrário do que poderia sustentar uma intenção radical dos atletas, não teve início nem a mando nem por causa de declarações do presidente, mas sim por causa da altercação com elementos da claque. E sustentou essa análise num outro ponto: caso os jogadores lhe tivessem dito o que se tinha passado, teria tido uma perceção do real teor da ameaça, algo que os jogadores não terão tido. Mas esta é também a parte que está a ser mais criticada em todo o discurso, não só pela farpa deixada a Rui Patrício (um dos jogadores que pior relação tem nesta altura com Bruno de Carvalho e a quem o presidente voltou a criticar), mas também pelo panorama traçado que deixa a clara ideia de que as claques, com quem o Sporting tem uma ligação concreta através de um protocolo, possui um poder e uma força acima do que seria normal.

Guerra aberta às instituições e a operação CashBall

“A Academia é e sempre foi um local seguro. As pessoas têm de tirar as ilações, fazer as auditorias e alterações que devem ser feitas, mas jamais posso dizer que não é um local seguro para os atletas estarem a treinar. Até porque, volto a dizer, a Sporting SAD garantirá toda a segurança de todos os atletas de todas as modalidades e são 55. Todos os atletas e staff podem estar calmos porque o que for preciso mudar, mudaremos, mas parem este ato de terrorismo. Lamento que não tenha chegado nenhuma nota oficial de nenhum órgão de soberania de lamento por aquilo que aconteceu ao Sporting. É de cortesia institucional um voto de solidariedade e de repúdio e solidariedade com órgãos sociais, atletas, treinadores e staff. Bem sei que afronto os interesses instalados (…) Os sportinguistas podem estar orgulhosos daquilo que é o clube, da Direção e da Comissão Executiva da SAD. Aqui não há sacos azuis nem verdes, não há contratos com o Braza, não há emails a pedir nomeações que escamotearam. Existem jogadores em choque mas muitas vezes, por trás, aproveita-se emocionalmente um advogado ou um agente”.

Para rematar a argumentação a propósito de todas as reações ao bárbaro ataque na Academia, Bruno de Carvalho colocou o enfoque num argumento que há muito já vinha a usar internamente. O facto de tanta gente da esfera pública não ligada ao desporto ter condenado o ataque e inclusive ter tentado chegar à fala com jogadores e Jorge Jesus para manifestar essa posição de forma privada deixou o presidente leonino perplexo. Entende que esses gestos, sem deixar uma única palavra ao clube, acabou por corroborar, de forma indireta, a ideia que teria algum tipo de ligação ao sucedido. Aproveitando isso, o líder leonino enfrentou de novo as polémicas que têm assolado o clube, como a operação CashBall, alegando a total inocência de André Geraldes no caso. Ao mesmo tempo, virou o enfoque para os novos emails do rival, depois de ter havido esta sexta-feira mais uma fuga de correspondência comprometedora através do blogue Mercado de Benfica. Por fim, falou no aproveitamento que está a ser feito do ataque em Alcochete por terceiros.

A cimeira pedida por Luís Filipe Vieira, via Marta Soares

“Dias antes do jogo de Madrid, Marta Soares veio propor-me a pedido de Luís Filipe Vieira uma cimeira com o mesmo, uma cimeira secreta com o amigo Luís Filipe Vieira. Quando diz que não tem sido fácil falar com o presidente, confesso que nunca tinha dito tanto palavrão numa frase só porque o simples convite é um desrespeito por mim e pelo Sporting. Devia era ser um homem de bom senso que colocasse os interesses do Sporting acima de tudo. É mais um sobrevivente. Apareceu tipo emplastro na Academia. Tem direito a ir lá? Sim. Mas não o direito de mentir. Disse que tinha trocado parcas palavras com Jesus, falei duas horas com ele. Diz que jogadores não falaram,  com um deles, o Bruno Fernandes, foi à frente dele. E o Bruno diz: “Isso foi terrível, já disseram que vou para o Norte mas não ligue a isso, o que interessa é o que aconteceu”. Horas ali, falei com vários jogadores. Relembro palavras de Jesus ontem: “Quando vi a notícia que tinha provas que o presidente tinha sido o mandante, a primeira coisa que fiz foi ligar ao presidente” (…) Neste momento, não sei onde está a minha filha Diana porque a minha ex-mulher diz que não estão reunidas condições de segurança e desapareceu com a minha filha Diana. É criminoso o que estão a fazer e espero que os sportinguistas percebam isso. O que está a ser armadilhado por Jaime Marta Soares? Se apresentarmos a demissão, só nos permite recandidatar seis meses depois. Entretanto, coloca uma Comissão de Gestão, e Ricciardi, que sabe que estamos a acabar uma negociação para ficar com a dívida por metade, a tentar vir dizer depois que eles é que são bons.”

Bruno de Carvalho tinha na mão aquilo que considerava ser uma "bomba atómica", que foi partilhando com algumas pessoas próximas e que estava a guardar para um momento em específico pelas ondas de choque que a mesma poderia provocar. A cimeira que lhe teria sido proposta pelo Benfica (mas que o clube encarnado negou ainda durante a conferência do presidente leonino), através de um contacto de Luís Filipe Vieira com Marta Soares. Na semana passada, em declarações feitas à Sporting TV, onde acabou a responder às declarações de Jorge Jesus umas horas antes em conferência de imprensa, falou nessa cimeira; esta tarde, rebentou com o resto: revelou que foi Jaime Marta Soares que o abordou com essa possibilidade. Não foi por acaso que o líder da Mesa da Assembleia Geral ficou para o fim do seu rol de críticas. Bruno de Carvalho queria também abordar as palavras que este dissera na Academia, assumindo que o plantel se recusava a falar com Bruno de Carvalho. Houve a ideia clara de colar o ónus de toda esta situação no líder demissionário da Mesa da AG, ao ponto de falar num suposto plano feito entre Marta Soares com José Maria Ricciardi. Na ótica do presidente sportinguista, existe uma campanha que já teve reflexos na vida pessoal, por causa de toda a instabilidade entretanto gerada. Bruno de Carvalho não perdoa o facto de Marta Soares ter cedido perante as pressões externas para aquilo que cataloga de "golpe"

As sessões de esclarecimento, a última tábua de salvação

“Vamos fazer três sessões de esclarecimento pelo país, não preciso de um presidente da Mesa da Assembleia Geral que anda a brincar. Vamos ouvir e dar explicações às pessoas. Vamos lutar pela nossa dignidade e pelo Sporting. Somos honrados e sérios, não brinquem mais com os sportinguistas. A operação CashBall vai dar, como diz o meu treinador, bola (…) No Sporting não há corrupção e não há sacos azuis. Somos pessoas honradas, trabalhadoras, que não vão deixar que tomem de assalto o clube e o coloquem como esteve 20 anos (…) Portugal quer destruir o seu enfant terrible. Espero que tudo acabe com os sportinguistas a perceberem tudo o que se está a passar. Avisei que estava a guardar muita coisa, hoje foi uma abertura de porta. Vou dizer tudo o que quiserem e mais, que não disse hoje porque amanhã tem de ser um dia de paz. Não vou ao Jamor, não acho que estejam criadas as condições para ir ao Jamor. E não mereço o que se está a passar e que me tirem isso.”

O presidente do Sporting saiu sempre por cima nas Assembleias Gerais do clube. É aí que se sente bem, é aí que gosta de estar para tentar mover plateias com as palavras. No entanto, percebe-se que a hipótese de haver uma "cedência" para que se fizesse uma Assembleia Geral Extraordinária não vai acontecer tão depressa, pelo que surgiu um plano B: a figura das sessões de esclarecimento. Aí, é muito provável que Bruno de Carvalho continue a lançar "bombas" como a suposta cimeira pretendida pelo Benfica e outras mais graves, sobre as quais deixou o aviso. Apercebendo-se que o espaço para ir ao Jamor era nulo, com mais contras do que prós em qualquer dos sítios em que pudesse assistir ao jogo, o líder verde e branco anunciou que não irá à final da Taça de Portugal, mas nem por isso baixou a guarda contra um adversário que recuperou na sua linha de pensamento: as duas décadas conhecidas como "Projeto Roquette".

Que grande cartão de apresentação!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Eduardo Louro

  • 19.05.18

Resultado de imagem para ebuehi benfica youtube

O Benfica começou a apresentar as primeiras contratações para a próxima época. O guarda-redes Vlachodimos estava há muito anunciado, mas o jovem (22 anos) lateral direito nigeriano, Hebuhei é uma enorme surpresa.

Diz-se que faz lembrar o Nelson Semedo, e isso já é bom. Mas bom, extraordinário mesmo e nunca visto, é o fluente e escorreito português com que se apresentou. Não faço ideia onde, nem como, aprendeu português. Sei que vem da Holanda e que não precisou nada daqueles toques na bola que, em "jeans" e camisola da equipa, constituem o estereotipo da apresentação das novas contratações. Expressar-se tão clara e correctamente na língua de Camões vale mais que milhões de toques sem deixar cair a bola!

Benvindo Hebuhei, e toda a sorte. De certeza que o manto glorioso te assenta muito bem!

Futebol: o reservatório da violência alimentado pelo dinheiro, pelos media e pela complacência de todos

por estatuadesal

(Pacheco Pereira, in Público, 19/05/2018)

JPP

Pacheco Pereira

Como é que se põe uma bola para baixo quando ela está quase sempre em baixo? Na verdade, como é uma bola, está sempre ao mesmo tempo para cima, para baixo, para o lado. Mas, pensando bem, por que razão deveria estar para baixo, quando esta espuma dos dias violenta é um tão bom negócio para tanta gente? Minha cara gráfica do PÚBLICO, coloque a bola na sua posição normal, e a mais oficial das bolas, porque isto do futebol é uma coisa séria, com o beneplácito das mais altas instâncias da nação. Deixe vir o esquecimento rápido do ritmo dos media e tudo vai continuar na mesma.

Por muito que se bata no peito e se façam os protestos habituais e se digam todas as coisas convenientes, não é preciso ser um telepata nem um adivinho para perceber que são coisas de muita circunstância e pouca substância e que na verdade ninguém está muito indignado com o que se passou. Digo isto, porque coisas semelhantes ocorrem ciclicamente, segue-se uma onda de indignação e depois volta a velha complacência de sempre: “são coisas do futebol”...

Têm razão, são de facto coisas do futebol. Ou, dito doutra maneira, são coisas onde circulam legal e ilegalmente muitos milhões, muito mais milhões do que em 90% das empresas portuguesas. São um maná para uma comunicação social que não sabe viver sem futebol, ou melhor sem “este” futebol, o dos Brunos, dos Pintos, dos Vieiras, dos No Name Boys, dos Super Dragões, da Juve Leo e quejandos, que parece que tem um espasmo para não lhe chamar outra coisa, sempre que há um “derby”. São um maná para o poder político que precisa de circo quando não há pão e onde Centeno e os seus antecessores abrem os cordões à bolsa para que haja sempre surtos patrióticos a propósito da bola, cheios de bandeiras e bandeirinhas, cachecóis e varandas engalanadas, cheios de Portugal gritado a plenos pulmões, quando ninguém mexe uma palha num país que perde soberania todos os dias.

O que se passa diante dos nossos olhos, trazido pelas prestimosas televisões e por uma multiplicidade de directos na rádio e capas de jornais, não engana ninguém. Só não vemos porque não queremos ver. As claques de futebol dos grandes clubes são as únicas associações de criminosos que funcionam à luz do dia. Esta gente viola todas as leis, matam pessoas, praticam extorsões várias, organizam gangues, com negócios obscuros, droga, protecção e segurança nocturnos e diurnos, executores de vinganças e ajustes de contas, e exércitos que desfilam nas nossas ruas protegidos pela polícia como animais perigosos que de facto são. Ah! bela juventude com as nossas cores, azuis, vermelhas e verdes, a que só falta cantar a Giovinezza ou o Cara al Sol! E é mais por ignorância do que por falta de vontade.

Ai não sabem? Se não sabem, é porque não querem saber. Há futebol puro e limpo para além disto? Não, não há, isto conspurca tudo e todos são cúmplices. Eu espero sempre que nem um cêntimo dos meus impostos vá para estas mafias, nem para dar “utilidade pública” a estes empórios do crime e da corrupção, nem para pagar as medidas excepcionais de segurança dos jogos tidos como “perigosos”, nem para os bancos que perdoam empréstimos aos clubes mas recebem de todos nós milhões, e por aí adiante, mas espero sentado.

E agora prometem-nos mais uma despesa com uma Autoridade Nacional contra a Violência do Desporto para esconder a enorme responsabilidade do Estado, da justiça, dos governos, dos partidos neste estado de coisas. Quase que posso jurar que se já existisse, com os seus locais, gabinetes, pessoal pagos pelo Orçamento do Estado, nada poderia contra os espécimes que os adeptos, os sócios, as claques, as ilustres figuras públicas, escolhem para dirigir os clubes e contra os bandos de matraca e faca que eles acolhem no seu seio. O que é que impede o Governo e a justiça de agir com os mecanismos que já têm? Nada, a não ser esta miserável complacência e cumplicidade que já Fradique Mendes, numa das suas cartas onde melhor retrata Portugal, atribuía ao nosso povo:

Senti logo não sei que torpe enternecimento que me amolecia o coração. Era a bonacheirice, a relassa fraqueza que nos enlaça a todos nós portugueses, nos enche de culpada indulgencia uns para os outros, e irremediavelmente estraga entre nós toda a Disciplina e toda a Ordem.

A chatice é só saber-se

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Expresso, 20/05/2018)

louca2

As catacumbas do futebol não são notícia de hoje. Se nos lembrarmos bem, o tipo de suspeitas que nas últimas semanas voltou à tona tem muitos anos e repete-se como um relógio. Se desta vez o resultado for igual ao de todas as anteriores, só podemos esperar pela próxima. Com ou sem Jamor, com um presidente de clube ou com outro, o que nos vai livrar destes incêndios? Receio que nada.

Tantas vezes vai o cântaro...

Vale e Azevedo, ex-presidente do Benfica, foi detido em 2001. Em 2004, foram detidas 16 pessoas, incluindo o presidente da Câmara de Gondomar, Valentim Loureiro, e o presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol. Era o caso ‘Apito Dourado’: suspeita de corrupção de árbitros e de manipulação de resultados de jogos do campeonato. Foi emitido um mandado de detenção de Pinto da Costa, presidente do FC Porto, mas foi avisado e fugiu para Espanha. Mais tarde regressaria e, depois de responder a interrogatório, ficaria em liberdade sob caução. Quatro anos depois, alguns dos acusados foram condenados. Em 2014, Pinto da Costa foi absolvido.

Com muitos outros casos pelo caminho, em 2016 foi detido o empresário José Veiga, que fora diretor-geral da SAD do Benfica. O mesmo tipo de acusações. O processo está em curso. Outros personagens do Benfica foram detidos e constituídos arguidos em 2018 no caso dos e-mails e no ‘E-Toupeira’. Agora foi detido o diretor do futebol do Sporting, também no âmbito de uma investigação sobre a eventual compra de árbitros e a fixação de resultados de jogos.

Se acrescentarmos outros casos avulsos de violência ou de tráfico de droga e mais tropelias, que envolve parte desse submundo das claques e seguranças e outras profissões que circulam no futebol, ficamos com um retrato do que se sabe. Sabe-se desde sempre. Há décadas que há detenções, processos prolongados, escutas divulgadas nas televisões, escândalos violentos. E depois vem o próximo processo. E um presidente de clube pode durar mais de 30 anos. Não há pecado neste lado norte do Equador.

Fazer-se de maluco

O problema não é só a fastidiosa repetição de processos, quase sempre da mesma forma e com os mesmos resultados. É que se sabe bem como se chegou aqui e nem há grande dúvida sobre o assunto.

A primeira responsabilidade é de dirigentes que constroem uma identidade clubística na base do fanatismo e do ódio. Há clubes, talvez até todos eles, em que as cores dos rivais são proibidas e os atletas educados seguindo Pavlov. Há sempre financiadores e sócios eméritos que conspiram para vincular as eleições e que exigem aos candidatos o maior vigor hostil. Todos exigem que o ambiente seja de ódio. Se o populismo existe em algum lugar, é mesmo nos três grandes clubes e os seus cultores têm sido Pinto da Costa, agora mais contido, Vieira, agora na defensiva, e mais recentemente Bruno de Carvalho, sempre na ofensiva, naquela candidamente confessada lógica do “fazer-me de maluco”.

A segunda responsabilidade é essa conjugação da amnistia permanente (houve sempre quem se candidatasse para se proteger de incómodos com a justiça), das facilidades financeiras e da dívida ilimitada (as contas escondem sempre o mistério de clubes falidos que multiplicam investimentos) e do poder da relação. Quando vir deputados, e não são poucos, sentados em programas de debate de futebol, note que eles pensam que estão a dar a sua opinião, quando na realidade estão a repetir juras de fidelidade, como servos de um senhor mandante. A organização de jantares anuais de claques de deputados em São Bento é um dos momentos de degradação parlamentar que exibe o poder do futebol. É assim que os presidentes dos clubes criam os seus séquitos.

O ‘guerreirismo’

Há ainda uma terceira responsabilidade e não é menor. É a mão comunicacional, a mobilização pelo negócio do futebol da colonização do espaço público através de uma estratégia obsessiva. O futebol tem que ocupar toda a fantasia, tem que dominar a imaginação, tem que ser viciante como uma droga, tem que ser omnipresente. Há nesse processo um ganho de escala: quanto mais presente está, mais é necessário o futebol. Por isso, a televisão, e não o estádio, passa a ser o lugar da exibição, revivida em comentários ad nauseam, que é alimentada por uma casta de atores que representam um papel, o do comovido ou o do furibundo adepto. O último é o que tem mais sucesso.

Talvez o melhor exemplo, um caso de estudo, é o de Pedro Guerra. Ele vem do “Independente”, onde aprendeu as manhas da comunicação, foi depois assessor ministerial na Defesa, com Portas, fez notícia porque o seu salário era maior do que o do ministro, passou a assessor parlamentar do CDS e é agora diretor da Benfica TV e comentador de um canal cabo. O estilo é o personagem: levanta-se, ameaça, gesticula, grita — e faz escola. É assim que se quer um puxador de audiências, é o enfático que vale, não é o argumento. O ‘pedroguerreirismo’ da televisão do futebol é o carimbo para a violência no futebol.

Pergunto então: vai mudar alguma coisa no estilo dos dirigentes clubísticos, ou facilidade concedida aos clubes, nas claques ou na promoção da violência pela obsessão televisiva? Não vai mudar nada, mesmo que mudem alguns dos agentes.


italia.jpg

Itália, espelho europeu

A meio da semana, a primeira versão do estranho acordo entre o 5 Estrelas e a Liga Norte assustou as chancelarias europeias. Definia a exigência de uma nova regra europeia com “procedimentos técnicos, económicos e jurídicos”, que permitam a um Estado sair do euro. Como? Os proponentes não têm a menor ideia. A possibilidade de um novo tratado para que isso aconteça é suficientemente implausível. A segunda ideia chocante era a proposta de uma restruturação da dívida pública italiana na parte detida pelo Banco Central Europeu e no valor de 250 mil milhões da dívida, ou 10% do PIB. As autoridades europeias gelaram.

A versão final do acordo não inclui a hipótese da saída do euro, vieram depois tranquilizar algumas fontes de ambos os partidos. Talvez um referendo. E um novo tratado. Logo se vê. Mas ficou o corte na dívida. E mais mão forte contra os imigrantes, e mais um bónus aos ricos, uma taxa plana de imposto, a 15 ou 20%. Com fascistas na coligação do poder, o remédio oferecido é este.

Este é o terceiro Governo que resulta da desagregação do sistema político europeu: o primeiro foi o do Syriza, vergado pela UE, o segundo é o de Macron, em modo de aventura bonapartista, e agora temos o terceiro, um cata-vento. É o espelho europeu: não se sabe para onde se vai.


Vigilância parlamentar

O Parlamento chega a ter má fama, mas é injusto, pois há eleitos que primam pelas ideias criativas e contundentes. Sérgio Sousa Pinto é um deles. Muito incensado pelos seus arroubos pendulares, ora com Costa ora contra Costa, desta vez apresentou uma medida essencial: votos sobre política externa devem passar pelo crivo de uma “apreciação preliminar” da Comissão de Negócios Estrangeiros, oportunamente presidida pelo próprio Sousa Pinto. Essa comissão responderá assim a uma “manifesta falta de ponderação, rigor e sentido de equilíbrio”, bem identificada pelo respetivo presidente, que assim usará a sua “ponderação”, “rigor” e “equilíbrio” contra os prevaricadores.

Será a única comissão que reclama tal vigilância censória, mas não é para menos. Sousa Pinto explicou no Expresso que até já ouviu um raspanete de uma embaixada, a da Turquia por sinal, que não gostou de um voto e decidiu pedir que doravante o presidente exerça a sua “ponderação”. Deus nos livre de haver embaixadores aborrecidos.

Pois só vejo vantagens nessa operação. Assim, as embaixadas podem ser ouvidas antes de o Parlamento adotar posições impulsivas e os deputados “rigorosos” podem entender-se. Assim serão “suavizadas certas afirmações”, explica esta semana o nosso suavizador.

O presidente da comissão deixará deste modo a sua indelével marca na Assembleia, depois de uma longa carreira parlamentar em que nunca mostrou esta sua sabedoria. Como ele constata, “o declínio da qualidade média dos titulares dos cargos públicos é notória”, e nada como um suavizador para corrigir isso. A autoridade deve ser assim: manda quem pode e obedece quem deve.

Entre as brumas da memória


Catarina Eufémia (13.02.1928 – 19.05.1964)

Posted: 19 May 2018 11:27 AM PDT

.

Crítica Económica e Social

Posted: 19 May 2018 05:59 AM PDT

Grátis. Ler ou fazer download AQUI.
.

Futebol: o reservatório da violência alimentado pelo dinheiro, pelos media e pela complacência de todos

Posted: 19 May 2018 03:00 AM PDT

José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Como é que se põe uma bola para baixo quando ela está quase sempre em baixo? Na verdade, como é uma bola, está sempre ao mesmo tempo para cima, para baixo, para o lado. Mas, pensando bem, por que razão deveria estar para baixo, quando esta espuma dos dias violenta é um tão bom negócio para tanta gente? Minha cara gráfica do PÚBLICO, coloque a bola na sua posição normal, e a mais oficial das bolas, porque isto do futebol é uma coisa séria, com o beneplácito das mais altas instâncias da nação. Deixe vir o esquecimento rápido do ritmo dos media e tudo vai continuar na mesma.

Por muito que se bata no peito e se façam os protestos habituais e se digam todas as coisas convenientes, não é preciso ser um telepata nem um adivinho para perceber que são coisas de muita circunstância e pouca substância e que na verdade ninguém está muito indignado com o que se passou. Digo isto, porque coisas semelhantes ocorrem ciclicamente, segue-se uma onda de indignação e depois volta a velha complacência de sempre: “são coisas do futebol”...

Têm razão, são de facto coisas do futebol. Ou, dito doutra maneira, são coisas onde circulam legal e ilegalmente muitos milhões, muito mais milhões do que em 90% das empresas portuguesas. São um maná para uma comunicação social que não sabe viver sem futebol, ou melhor sem “este” futebol, o dos Brunos, dos Pintos, dos Vieiras, dos No Name Boys, dos Super Dragões, da Juve Leo e quejandos, que parece que tem um espasmo para não lhe chamar outra coisa, sempre que há um “derby”. São um maná para o poder político que precisa de circo quando não há pão e onde Centeno e os seus antecessores abrem os cordões à bolsa para que haja sempre surtos patrióticos a propósito da bola, cheios de bandeiras e bandeirinhas, cachecóis e varandas engalanadas, cheios de Portugal gritado a plenos pulmões, quando ninguém mexe uma palha num país que perde soberania todos os dias.

O que se passa diante dos nossos olhos, trazido pelas prestimosas televisões e por uma multiplicidade de directos na rádio e capas de jornais, não engana ninguém. Só não vemos porque não queremos ver. As claques de futebol dos grandes clubes são as únicas associações de criminosos que funcionam à luz do dia. Esta gente viola todas as leis, matam pessoas, praticam extorsões várias, organizam gangues, com negócios obscuros, droga, protecção e segurança nocturnos e diurnos, executores de vinganças e ajustes de contas, e exércitos que desfilam nas nossas ruas protegidos pela polícia como animais perigosos que de facto são. Ah! bela juventude com as nossas cores, azuis, vermelhas e verdes, a que só falta cantar a Giovinezza ou o Cara al Sol! E é mais por ignorância do que por falta de vontade.

Ai não sabem? Se não sabem, é porque não querem saber. Há futebol puro e limpo para além disto? Não, não há, isto conspurca tudo e todos são cúmplices. Eu espero sempre que nem um cêntimo dos meus impostos vá para estas mafias, nem para dar “ utilidade pública” a estes empórios do crime e da corrupção, nem para pagar as medidas excepcionais de segurança dos jogos tidos como “perigosos”, nem para os bancos que perdoam empréstimos aos clubes mas recebem de todos nós milhões, e por aí adiante, mas espero sentado.

E agora prometem-nos mais uma despesa com uma Autoridade Nacional contra a Violência do Desporto para esconder a enorme responsabilidade do Estado, da justiça, dos governos, dos partidos neste estado de coisas. Quase que posso jurar que se já existisse, com os seus locais, gabinetes, pessoal pagos pelo Orçamento do Estado, nada poderia contra os espécimes que os adeptos, os sócios, as claques, as ilustres figuras públicas, escolhem para dirigir os clubes e contra os bandos de matraca e faca que eles acolhem no seu seio. O que é que impede o Governo e a justiça de agir com os mecanismos que já têm? Nada, a não ser esta miserável complacência e cumplicidade que já Fradique Mendes, numa das suas cartas onde melhor retrata Portugal, atribuía ao nosso povo:

Senti logo não sei que torpe enternecimento que me amolecia o coração. Era a bonacheirice, a relassa fraqueza que nos enlaça a todos nós portugueses, nos enche de culpada indulgencia uns para os outros, e irremediavelmente estraga entre nós toda a Disciplina e toda a Ordem