26/01/2019 by João Mendes

Aprecio bastante esses grandes debates virtuais, por estes dias a propósito da mais recente crise política venezuelana, em que se mistura socialismo, comunismo, marxismo ou até – juro que vi – anarquismo, como todos estes conceitos correspondessem a uma e à mesma coisa. Alarvidades deste género, naturalmente, servem na perfeição a agenda de estupidificação promovida por certos sectores à direita, uns assumidamente violentos e antidemocráticos, outros aparentemente muito bonzinhos e cristãos, apesar de servirem, entre outras coisas, de asilo para o que sobrou do energúmeno salazarismo.
E parte engraçada no meio de toda esta demonização de tudo o que mexe à esquerda, como se um social-democrata tivesse o mesmo pensamento político que um maoista, é perceber que as sociedades mais desenvolvidas, abundantes e justas, onde os serviços públicos são abrangentes e funcionam de forma quase perfeita, e cujos habitantes, segundo tudo o que é estudo, são os mais felizes do mundo, apesar de pagarem impostos altíssimos e do Estado ter uma dimensão suficientemente grande para causar pesadelos a esses novos liberais, partidários da economia desregulada que só gera mais desigualdade, são sociedades organizadas segundo um modelo social-democrata, que para quem não sabe ou está iludido com a pseudo-social-democracia do PSD, é uma ideologia de centro-esquerda, que cresceu de mãos dadas com o socialismo (do qual eventualmente acabou por se separar, é certo) e que foi fortemente influenciada pelo marxismo.
O marxismo, esse bicho papão, que, efectivamente, deu asas a alguns bichos sanguinários, deu também um inegável e importantíssimo contributo para a emancipação das classes sociais mais desfavorecidas, em particular na Europa. Antes do marxismo, a lógica feudalista garantia uma existência miserável à esmagadora maioria da população, que de resto estava sujeita aos desmandos de uma elite totalitária, que escravizava, extorquia e matava a seu bel-prazer. O marxismo, por muito que isto custe a certos simpatizantes da extrema-direita, foi fundamental para libertar milhões de pessoas da opressão. A sua apropriação por diferentes déspotas, contudo, levou também a que milhões fossem brutalmente assassinados. Um pouco à imagem daquilo que foi a história da Igreja Católica, que em tempos usou a palavra do Senhor para queimar uns quantos hereges na fogueira.
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