Translate

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Entre as brumas da memória


Índia, religião e vacas

Posted: 19 Feb 2019 01:00 PM PST

O tipo de fundamentalismo religioso que existe na Índia sempre me horrorizou e me impediu de me sentir bem naquele país. Então esta história das vacas tira-me do sério!

Mas vacas nem são o pior. Varanasi, que é para muitos «o máximo» em termos de espiritualidade, ficou para mim como símbolo do horror. Numa cidade enorme e miserável, ao nascer do dia vêem-se velhos ex-leprosos estropiados a pedirem esmola, banhos de multidões na tal água indescritível, crematórios em pleno funcionamento (poupo a descrição dos cheiros…), eventualmente corpos de crianças mortas a boiarem – as crianças não são queimadas, mas sim atiradas ao rio sem que, por vezes, a pedra ao pescoço, que é suposto afundá-las, tenha sido devidamente colocada. Eu vi uma que deveria ter seis meses. Esta:

(Sobre a história das vacas, notícia aqui.)
.

O privilégio da Universidade Católica

Posted: 19 Feb 2019 09:10 AM PST

A meses de eleições várias, ninguém vai querer pegar neste tema nem com pinças. Cairiam bispos, raios e coriscos e os votos são quem mais comanda. Mas espero que, em 2020, alguém, para além de Mariana Mortágua, não deixe cair isto em saco roto.

«Em 1971, foi publicado o decreto-lei que definiu o estatuto da Universidade Católica Portuguesa (UCP), sujeitando-a à regulamentação do Estado, em paralelo com os restantes estabelecimentos de ensino particular.

No entanto, nessa lei, o Estado Novo concedeu-lhe privilégios específicos, nomeadamente a isenção de quaisquer impostos, contribuições ou custas.

Em 1976, a Constituição determinou o princípio da arreligiosidade do Estado: o Estado não pode promover uma religião, discriminar ou privilegiar em função dela. Ou seja, a Igreja Católica é maioritária em Portugal, mas a sua relação com o Estado passou a ser regida pelas mesmas leis que enquadram as outras confissões.

Apesar disto, em 1990 é aprovado um decreto-lei que mantém o anterior regime de privilégio da UCP, aprofundando-o. Foi-lhe atribuída total autonomia, consagrado o princípio do apoio estatal, e foi prorrogado o regime de total isenção de impostos (sem que a lei tivesse ido ao Parlamento). Os responsáveis por este regime foram Cavaco Silva, Miguel Beleza e Roberto Carneiro, os três com ligações à UCP. Fizeram-no enquanto criavam as propinas nas universidades públicas.

Desde então, apesar da Lei da Liberdade Religiosa e da revisão da Concordata, a UCP tem beneficiado do desconhecimento de muitos e da cumplicidade de alguns para manter o seu privilégio. Cobra propinas de privada, mas não paga impostos como a privada. Exige ser pública, mas não é, porque é confessional e porque cobra propinas de privada.

Nada que demova o seu reitor, Braga da Cruz, de se desdobrar em declarações públicas, exigindo mais apoios. Em 2006 acusou o Estado de concorrência desleal por querer instalar um polo universitário público em Viseu. Em 2008 lamentou a falta de apoios à UCP, que presta um serviço de formação "apoiada em valores cristãos". Em 2012 afirmou que não podia ser o Estado a ter a "obrigação quase exclusiva de financiar a universidade [pública]" e elogiou o "corajoso aumento de propinas para o nível do custo real" do Reino Unido. Em 2011 admitiu fazer queixa à Comissão Europeia porque a oferta pública, a "concorrência", tinha subido 20% nos últimos 30 anos.

Não ponho em causa a qualidade desta universidade, nem o seu direito a ser católica. Não me surpreende que exija mais apoios e o aumento das propinas públicas está a proteger o seu negócio. Mas uma coisa é certa: a única concorrência desleal é em favor da UCP, beneficiária de um regime que não cumpre a Constituição (e a Concordata, já agora), e que a privilegia face aos outros estabelecimentos de ensino particular e cooperativo.»

.

Matemáticas?

Posted: 19 Feb 2019 06:00 AM PST

Ver até ao fim.
.

A 12 anos de uma potencial catástrofe climática - como recuar da beira do precipício?

Posted: 19 Feb 2019 03:15 AM PST

«No último ano centenas de fenómenos climáticos extremos - ondas de calor, inundações, secas e tempestades - afectaram centenas de milhões de pessoas em todas as regiões do mundo, incluindo Portugal e Reino Unido.

A temperatura média subiu 1°C desde a década de 1850, mas esse valor pode acelerar rapidamente para 1,5°C nos próximos 12 anos, o que poderia traduzir-se numa perda irreversível de glaciares, e uma subida de subida do nível do mar de vários metros.

Com um aquecimento acima de 2°C, tudo pode acontecer. Os recifes de coral morrerão, centenas de milhões de pessoas sofrerão mais do que com uma subida de 1,5°C, e haverá impactos inimagináveis na natureza e nos ecossistemas dos quais dependemos. A investigação científica indica que isso pode acontecer dentro dos próximos 12 anos e segundo a ONU, se continuarmos na trajectória actual, seriam precisas duas Terras para acompanhar o crescimento do consumo e da população.

Então o que devemos fazer de forma diferente? É essencial haver novas abordagens na política, na economia e na sociedade. Por um lado, as alterações climáticas são o desafio global mais complexo da história da humanidade. Mas por outro, também pode ser simples: "limpar" a economia mundial dará uma resposta a este problema, tornando-nos mais felizes, saudáveis e prósperos. Foi disso que falei com o Ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, em Lisboa na semana passada.

Energia, transportes, agricultura e indústria mais limpos e sustentáveis, traduzem-se em energia mais barata, mais e melhores empregos, ar mais limpo, melhor saúde e nutrição, e cidades mais habitáveis. O "Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050" de Portugal demonstra como o Governo Português está a levar esta questão muito a sério, à semelhança do Governo Britânico.

Todos têm um papel a desempenhar. As crianças estão a mostrar aos pais o caminho certo, reciclando e preocupando-se com os animais e o meio ambiente. Os cientistas devem comunicar eficazmente as provas que existem. A comunicação social deve noticiar o que está a acontecer. As empresas devem limpar as suas cadeias de abastecimento e abraçar uma economia circular de baixo desperdício. A sociedade civil deve ajudar as comunidades a envolver-se e a agir. Os governos devem criar estruturas que sustentem esses esforços.

Há muitos sinais encorajadores. Em 2018 o RU comemorou o 10º aniversário UK 2008 Climate Change Act - a primeira lei climática em todo o mundo - e reduziu as emissões de carbono "per capita" mais rapidamente do que qualquer país do G20. Celebrámos recentemente o nosso 1º dia sem energia à base de carvão, desde 1882. Portugal está na primeira linha das energias renováveis, tendo como objectivo produzir 80% da energia a partir de fontes renováveis até 2030. Partilhamos o interesse pela energia eólica offshore. O RU detém 40% da capacidade eólica offshore mundial, e Portugal está a construir o seu primeiro parque eólico offshore na costa norte do pais. O sector das tecnologias com baixa emissão de carbono no RU está a crescer a um ritmo quatro vezes superior do que o resto da economia. Mas há muito mais a fazer no RU e a nível internacional, juntamente com parceiros como Portugal.

Este é um desafio global que abrange finanças, saúde, educação, energia, agricultura, indústria, habitação e transportes. Temos de assumir os prejuízos que causámos, e a escala e a urgência do desafio. Mas também temos de ter energia para agir, para bem dos nossos filhos e das gerações futuras. Podemos e devemos passar de uma abordagem que destrói o nosso ecossistema, para outra que prospera dentro dele.»

Nick Bridge

Sem comentários:

Enviar um comentário