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quinta-feira, 21 de março de 2019

CDS – A renúncia de Adolfo Mesquita Nunes

por estatuadesal

(Por Carlos Esperança, 21/03/2019)

Mesquita Nunes

Adolfo Mesquita Nunes, depois da notícia da aceitação do lugar de Administrador não executivo na Galp, anunciou a sua demissão de vice-presidente do CDS. Correu mal a notícia da nomeação, anterior a renúncia, quando, politicamente, convinha o contrário.

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O dirigente do CDS pode ter feito uma carreira beneficiado pela visibilidade política, mas tinha a formação que lhe permitiu trocar a política por cargos mais rendosos, que aguardam pessoas de direita, de preferência qualificadas. Mesquita Nunes não é a Celeste Cardona ou o Armando Vara da CGD, é um quadro político preparado para a advocacia e a gestão empresarial.

Era a face moderada do CDS, o conservador prudente, sem a estridência da Dr.ª Cristas, um homem delicado, e a exceção no conservadorismo beato do partido, que defendeu o “Sim” no referendo à despenalização do aborto, de 11 de fevereiro de 2007, e assumiu a sua homossexualidade sem complexos.

Era o único liberal nos costumes no partido de que era simultaneamente um ornamento liberal e a cabeça pensante que não insultava adversários. Agora ficam os neoliberais da economia e reacionários nos costumes sem a cobertura que este conservador lhes dava.

O CDS da D. Cristas e Nuno Melo fica mais perigoso e disponível para se coligar com o fascista André Ventura, escolha de Passos Coelho para liderar a lista autárquica do PSD à Câmara de Loures, que não conseguindo legalizar o seu partido – Chega –, por falta de assinaturas válidas, conseguiu que o PPM e outra excrescência legalizada o aceitassem como cabeça da “coligação Chega” às eleições europeias.

O neofascismo, puro e duro, começa a ter rostos em Portugal e, à semelhança de outros países, a contar com o patrocínio do enviado de Trump e financiamentos necessários.

Ao CDS não faltará outro Adolfo, menos recomendável, mais adequado à dupla Cristas e Nuno Melo. O regresso de Manuel Monteiro pode ser o Adolfo do partido que o PPE já expulsou uma vez e que só as necessidades da direita, a pedido de Durão Barroso, devolveram ao convívio dos partidos conservadores e democrata-cristãos europeus.

Sucedeu então ao CDS o que ontem foi decidido contra o partido húngaro Fidesz, de Orbán, no poder desde 2010. Foi suspenso, por tempo indefinido, do Partido Popular Europeu, que não continuou a pactuar com afrontas grosseiras aos direitos humanos e princípios democráticos dos Estados de direito.

A liberdade judicial, de expressão e de imprensa, assim como a liberdade académica e direitos das minorias e dos refugiados, têm sido gravemente restringidas na Hungria e o PPE decidiu regressar à matriz dos partidos conservadores do pós-guerra.

O CDS tem sido agora mais cauto, mas pode sempre fugir-lhe o pé para a chinela.

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