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domingo, 24 de março de 2019

Coisas de família

por estatuadesal

(Por José Gabriel, 23/03/2019)

Paulo Rangel, com aquela perspicácia que Deus lhe deu, detectou o grande problema que aflige a democracia portuguesa, que "constitui um atentado gravíssimo ao princípio republicano", qual seja o da presença de um excesso de relações familiares no governo, uma overdose delas, por assim dizer.

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Com a voz tremente de quem aborda um tema decisivo para a subsistência da própria Pátria, Rangel constrói um discurso que, no tom e no estilo, parece retirado de uma telenovela mexicana.

Apela ao Presidente da República - que, valha a verdade, foi quem deu posse aos sortidos familiares -, acusa-o de não dar a importância ao facto e exige que este seja o tema do discurso da sessão solene do 25 de Abril - ó João Miguel Tavares, isto parece uma ordem...- tal a gravidade da coisa.

(Ver aqui)

Vamos lá, tem de se admitir que esta reiterada prática por parte do Governo não é muito sensata. Não fere a lei, é verdade. Não fere a ética republicana - embora não deixe de lhe poder provocar um eritema breve, uma alergia comichosa. Mas fere o bom senso. E ainda mais a prudência política - e, se é verdade que a família é um conjunto que se defende em bloco -, não raro se ataca em particular.

Rangel não vê assim. Ele vê uma tragédia, vê uma ameaça fatal à Democracia e espanta-se: “Que as pessoas em Portugal não rasguem as vestes e não se escandalizem com isto é sinal de uma certa doença e de um adormecimento da democracia”.

E aí eu digo: alto e pára o baile! Sabe o deputado o preço da camisa que tenho agora vestida? Já imaginou o prejuízo que, por esse país fora, o seu apelo provocaria? - embora, admito que, ao ouvir tais palavras, receei que o deputado Rangel, logo ali, desse o exemplo. O espectáculo não seria bonito de se ver e podia haver crianças na sala.

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