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sexta-feira, 26 de julho de 2019

Caluniadores profissionais, modo de usar

por estatuadesal

(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 25/07/2019)

O Presidente da República explicou que o nome de João Miguel Tavares para presidir à comissão organizadora das comemorações do Dia de Portugal foi indicado por “todos os seus conterrâneos” de Portalegre, acrescentando fatores de escolha semelhantes aos dos nomes escolhidos nos três anos anteriores: “independência de pensamento e a capacidade de dar testemunho criativo e corajoso sobre o tema”, bem como “a afirmação do pluralismo de opiniões que deve caracterizar a democracia”.

"O autor da obra, neste momento lançada, correspondeu, cabalmente, quer às razões da sua escolha, nas qualidades que o caracterizaram, quer à pedagogia desejada, traduzida e distinguida inequivocamente de tolerância e intolerância, quer à finalidade de dar voz a anseios, preocupações e, de alguma maneira, gritos de alma que não poderiam ficar de fora da democracia, que temos todos a obrigação de não deixar enclausurar”, afirmou ainda Marcelo Rebelo de Sousa.

Como balanço final, Marcelo Rebelo de Sousa diz registar “com apreço” que os objetivos que tinha em mente com o convite de João Miguel Tavares, “foram plenamente atingidos”.

Fonte aqui


Falar de João Miguel Tavares tem nulo interesse do ponto de vista da sua individualidade. É um arrivista que escreveu um texto canalha e teve a sorte de ser alvo de uma acção judicial de Sócrates. A partir daí, aproveitou a fortuna para fazer uma. Há quem lhe pague, e muito e cada vez mais nesta fase da sua alucinante consagração, para ele continuar a repetir a fórmula que o catapultou para o sucesso: difamações, calúnias e apelos ao ódio dirigidos contra o PS a partir da exploração da figura de Sócrates. Como arranjista que é, e dentro do seu mundo psíquico narcísico e infantilóide onde se concebe como o Ronaldo dos caluniadores profissionais cá do burgo, tem tido o cuidado de avisar que não pertence a nenhum clube. Hoje vive à conta de perseguir Sócrates e os socialistas; amanhã, se mudar o vento e a corrente, sabe-se lá de onde é que virá aquilo com que compra os melões. É nisto, exactamente nisto e apenas nisto, que consiste o seu “liberalismo” – não no respeito pelo Estado de direito, não na defesa da liberdade. Para além do oportunismo rapace publicitado, et pour cause, dedica os seus dias ao vale tudo no vale tudo da política-espectáculo.

É o próprio quem não se cansa de expor o que faz e como o faz. Diz que passa os dias fechado em casa, procurando ter uma vida social reduzida ao mínimo inevitável, para que não estabeleça relações humanas positivas, construtivas, saudáveis com outros seres humanos. Aquilo a que alguns, há milénios, chamam relação de estima, de amizade ou de mera civilidade. Ele olha para essas manifestações gregárias com asco e pavor pois de imediato se imagina a perder dinheiro. Por cada “amigo” que fizer, calhando esse novo conhecimento ter potencial para ser alvo de uma presente ou futura pulhice, o caluniador profissional sabe que está a enfraquecer os seus serviços. Veja-se o caso recente da sua amiga Fátima Bonifácio, amizade que o encostou à parede obrigando à traição de ter de se juntar às críticas sob pena de danificar a sua marca. Logo depois, para compensar e mostrar aos amigos do Observador que continuava o bom soldado das mesmas lutas, teve de se enfiar de cabeça no chiqueiro das “culturas superiores”, uma borrada que passou a existir no arquivo do Público só para que JMT exiba cifradamente a bandeira do chauvinismo e do racismo onde o seu populismo mediático encontra audiências e pilim. Quão melhor, partilha ele connosco, poder gozar, insultar, ofender, achincalhar certas pessoas que pode tratar como animais. Aliás, como animais não, que esses não têm culpa de nada. Ele gosta mesmo é de tratar certas pessoas como monstros, e acusá-las de terem culpa de tudo.

Assim, o verdadeiro interesse da atenção à figura está na estrutura de poder – poder financeiro, poder mediático, poder político, poderes fácticos – onde é usado ao serviço de várias agendas. Começando pelo Público, nunca apareceu nenhum director ou accionista a explicar por que razão pagam a um colunista que espezinha o que o próprio órgão define ser a sua Ética e deontologia. Indo para o episódio em que António Costa ocupou parte do seu tempo como governante, e espaços interditos ao público que a República lhe confiou em ordem a exercer a função de primeiro-ministro, numa operação de promoção do caluniador profissional, feita à custa da participação forçada de quatro crianças, foi notável o silêncio cínico que se seguiu ao ponto mais baixo da carreira política do secretário-geral socialista, onde o vimos a ultrapassar a baixeza de ter colaborado com o CM. É que se entendia muito bem o que estava em causa nesta colagem ao caluniador profissional, e o regime e a sociedade aprovaram a inaudita perversidade. Passando para a participação de Mário Centeno numa edição do “Governo Sombra”, a aparente superficialidade da presença da vedeta (sem contágio socrático) do Governo e a diluição desse significado pelos diferentes protagonistas do programa deu ainda mais eficácia ao propósito de António Costa para usar um espaço de calúnias e sistemáticos ataques de baixa política contra o Governo e o PS. Finalmente, a entrega do 10 de Junho por Marcelo a alguém que ganha a vida a espalhar no espaço público a imagem de um País onde os deputados fazem leis com a intenção de permitir que os políticos sejam corruptos impunemente, alguém que enche os bolsos a perseguir inocentes com ataques à sua honra e ataques ao Estado de direito, só se explica pela vantagem percebida e assumida em enviar uma mensagem urbi et orbi: a Presidência da República tem os mesmos alvos políticos do portalegrense e está com igual expectativa a acompanhar um certo processo na Justiça que tanto entusiasmo gera no caluniador profissional e que é a força motriz da sua popularidade.

Marcelo, presente no lançamento do livro do fulano que utiliza uma altíssima honra de Estado para fins comerciais ainda os microfones colocados à sua frente no Dia de Portugal não arrefeceram por completo, diz que a inclusão de João Miguel Tavares no grupo onde já estavam João Caraça, Manuel Sobrinho Simões e Onésimo Teotónio Almeida, estando a caminho Tolentino de Mendonça, se justifica pelo tanto, e tão importante, que os une. Especificamente, diz que a “obra” do caluniador profissional equivale a “gritos de alma” que “temos todos a obrigação de não deixar enclausurar”.

O puro delírio na origem destas afirmações, o debochado insulto à nossa inteligência, aceita-se em Marcelo porque, mais uma vez, é claríssimo o que está em causa. O discurso não tem de ter como referente a realidade, sequer uma vaga representação da mesma, tem é de ser pragmático. Cumpre um papel mistificador e uma função sectária, é sofística clássica. O presidente das comemorações do 10 de Junho que, dias depois do número pícaro que galvanizou a direita decadente e ressabiada, estava a ir buscar o nazismo, o Holocausto, a pessoa de Adolf Eichmann e a reflexão de Hannah Arendt para insultar, ofender e caluniar Vítor Constâncio, mais um número indeterminado de cidadãos, não pode ficar enclausurado, debocha Marcelo, a democracia tem de ir em seu socorro para lhe dar um lugar na tribuna de honra. No fundo, para lhe comprarmos livros e outros artigos que ele tem para vender, pediu-nos o tal Presidente da República que se congratulou com o ribombante sucesso da Operação Plebeu.

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