(Por Strategic Culture Foundation, In Resistir, 14/08/2019)
Aparentemente já não há qualquer tentativa, ou simulacro, de diplomacia por parte de Washington. Sanções e agressões são exercidas com descaramento. A Rússia, a China e mesmo os supostos aliados europeus dos Estados Unidos são sujeitos a sanções por Washington – numa rejeição arrogante a qualquer diálogo para resolver alegados diferendos.
O presidente dos EUA, Donald Trump, evoluiu para uma certa atitude maximalista estridente nas relações internacionais. Ela pode ser resumida assim: do meu modo ou de modo nenhum.
Um exemplo recente é a imposição de sanções ao ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif. Isto indica que os EUA amputaram qualquer possibilidade de uma desescalada negociada de tensões no Golfo Pérsico.
Zarif, do Irão, revelou nesta semana que quando estava numa visita diplomática aos EUA no mês passado foi-lhe dito por autoridades que era aguardado na Casa Branca para uma reunião com o presidente Trump. Se Zarif recusasse a "oferta" ele seria então colocado numa lista de sanções, informaram-no. Sob estas circunstâncias de coerção aparente o principal diplomata iraniano declinou o convite, só para descobrir posteriormente que fora na verdade punido com sanções. Que espécie de diplomacia americana é esta? Soa como uma oferta do tipo máfia, que não pode ser recusada.
Esta abordagem "diplomática" com mão pesada sugere que não há de facto diplomacia alguma proveniente de Washington. O presidente Trump twittou na semana passada que o seu governo estava a "ficar sem opções" em relação ao Irão quanto às crescentes tensões no Golfo Pérsico. Parece que a Casa Branca está a "oferecer" falsas tentativas de negociação, enquanto ao mesmo tempo monta opções militares para atacar o Irão.
Outro exemplo de diplomacia fracassada foi a renúncia, esta semana, do embaixador dos EUA na Rússia, John Huntsman. Ele abandonou o cargo em parte por frustração com a inutilidade de seu dever diplomático de facilitar o diálogo bilateral com Moscovo. A tarefa de Huntsman tornou-se insustentável devido ao maníaco animo anti-russo agora entranhado em Washington, pelo qual qualquer tentativa de diálogo é retratada como uma espécie de "acto de traição".
Outro exemplo de repúdio da diplomacia pelos EUA é a ordem executiva de Trump esta semana de impor um embargo comercial total à Venezuela. Aquele país sul-americano está efectivamente a ser submetido à fome para submeter-se a Washington e aceitar que o presidente eleito Nicolas Maduro se retire, de acordo com o ditame dos EUA, a fim de permitir que um duvidoso político da oposição apoiado pelos EUA tome as rédeas do poder em Caracas.
Estes exemplos, entre muitos outros, demonstram que Washington não tem intenção de buscar um discurso diplomático com outras nações e está totalmente empenhado em emitir ditames – ou utilizar outros meios; a fim de alcançar seus objectivos geopolíticos.
O mais chocante e perigoso é que Washington está a operar na base do ultimato da soma zero. As premissas para os seus ditames são invariavelmente infundadas ou irracionais. A Rússia é tratada como um Estado pária por alegações bizarras de interferência nas eleições dos EUA; o Irão é tratado como um estado pária sob alegações vazias acerca de uma agressão iraniana; a Venezuela é tratada como um Estado pária com alegações contra um presidente eleito. A China é caluniada com alegações de ser um "manipulador da divisa". A Europa supostamente estaria "a aproveitar" os termos comerciais dos EUA. E assim por diante. É a tirania enlouquecida.
O padrão do direito internacional e as normas da diplomacia estão a ser jogados no lixo do modo mais deliberado e selvagem possível, puramente na base do capricho americano e na sua agenda em causa própria de dominação.
Esta é uma situação global extremamente perigosa, pois o viés político americano e o preconceito irracional estão a ser tornados padrão ao invés dos princípios do direito internacional e da soberania das nações. Não há diplomacia absolutamente nenhuma. Só a notificação das exigências americanas de obediência ao ditame irracional de Washington para satisfazer seus anseios de hegemonia.
Não há outro meio de descrever a presente ilegalidade global do assumido poder americano e do seu farisaísmo senão considerá-la como uma forma de fascismo de estado-pária com esteróides.
Quando a diplomacia, as negociações, o diálogo e o respeito pela soberania são totalmente desrespeitados por Washington – cuja única resposta são as sanções e a agressão militar – então deveríamos saber que a presente descrição do poder americano não é uma hipérbole. É uma descrição da realidade lamentável de que a diplomacia americana não existe mais. Está a tornar-se passado a possibilidade de conduzir relações normais com esse regime paranóico e sem lei. Um estado pária nuclear, também, capaz de destruir o planeta num capricho ou num impulso paranóico do seu cérebro doentio.
Poderão os cidadãos americanos controlar um regime tão errático e irracional? O tempo dirá. Mas uma coisa parece certa, a paz mundial é continuamente ameaçada pelo regime de Washington, o qual opera dentro do seu próprio reino de fantasia e megalomania criminal.
Está claro que a diplomacia dos EUA é um fracasso absoluto. Porque, na tortuosa megalomania guerreira de Washington, a diplomacia parece ter-se tornado totalmente irrelevante. O que é isso senão fascismo?
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