(Martim Silva, in Expresso Diário, 05/08/2019)
Mais ou menos discretamente, tem feito o seu caminho a tese de apoio do PS ao actual Presidente da República nas Presidenciais de 2021 É certo que Marcelo já disse que só daqui a um ano anuncia se concorre a mais cinco anos em Belém, mas os sinais que tem dado vão todos no mesmo sentido, mantendo-se a tradição do chefe de Estado em funções se apresentar para um segundo mandato – foi assim com Eanes, com Soares, com Sampaio e com Cavaco.
Há umas semanas, foi o influente Vieira da Silva, ministro do Trabalho e da Solidariedade, a fazê-lo em entrevista ao Expresso, afirmando que os socialistas não têm um candidato para enfrentar Marcelo. “Não tenho visto sinais nesse sentido. Não vejo ninguém com peso político no PS e na sociedade portuguesa que se esteja a colocar nessa trajetória”.
Na última edição do Expresso, sábado passado, Ferro Rodrigues (ele próprio um dos nomes presidenciáveis do PS) dava um passo em frente: “Se fosse amanhã não tenho dúvidas nenhumas, o natural é o PS não apresentar candidato”.
Os sinais de abertura a um apoio socialista a Marcelo multiplicam-se e já vieram de diversos quadrantes do partido.
Os níveis de popularidade e aceitação de Marcelo Rebelo de Sousa tornam-no, nesta altura, num candidato virtualmente imbatível. Nesse sentido, ir contra ele seria sempre enfrentar uma derrota certa
Como Fernando Medina (tido com um dos potenciais sucessores de Costa na liderança do partido): “para mim, é claro que o Presidente da República, em todas as questões fundamentais, tem tido uma atuação muito positiva para o país”
Outros nomes de peso já abriram a porta. Jorge Coelho afirmou há meses que se eleição presidencial “fosse agora” ele teria o seu apoio. Na mesma senda, Francisco Assis e João Soares mostraram abertura a um apoio ao atual chefe do Estado.
Os níveis de popularidade e aceitação de Marcelo Rebelo de Sousa tornam-no, nesta altura, num candidato virtualmente imbatível. Nesse sentido, ir contra ele seria sempre enfrentar uma derrota certa. É sempre melhor estar do lado do vencedor…
Além disso, provavelmente o melhor nome dos socialistas para uma eleição presidencial é António Costa. E uma candidatura deste só faria sentido a partir de 2026, depois de deixar a chefia do governo e do Partido Socialista. Outros nomes apontados como potenciais candidatos, como Carlos César, estão hoje longe de poderem apresentar-se com alternativas fortes.
Se os ganhos são evidentes, será que ainda assim poderá uma qualquer forma de apoio do PS a Marcelo significar um perigo para os socialistas?
Entendo que sim, no caso, nesta altura bastante plausível, do PS não conseguir maioria absoluta nas legislativas de Outubro.
Nesse cenário, uma governação será sempre mais periclitante. Sem maioria absoluta, o PS estará sempre mais vulnerável ao apoio de outras bancadas parlamentares para governar. E, ao mesmo tempo, fica também mais vulnerável a crises externas que, por exemplo, afetem o andamento da economia.
Da mesma forma que Marcelo ‘levou o Governo ao colo’ nos últimos anos, é crível que passe a ter outro preferido se o vento soprar de outro quadrante
Num próximo ciclo, sem maioria para governar, desgastado por anos no poder, e com um PSD refrescado com uma nova liderança, o “afeto” de Marcelo pode mudar de direção. Para mais já sem o incentivo que teve até agora de procurar agradar a todos para conseguir a reeleição.
Da mesma forma que Marcelo ‘levou o Governo ao colo’ nos últimos anos, é crível que passe a ter outro preferido se o vento soprar de outro quadrante.
Provavelmente, não resta a Costa grande alternativa senão apoiar Marcelo. Mas isso não garante por si só uma coabitação pacífica e harmoniosa entre Presidente e Governo para os próximos anos.
Cavaco decidiu apoiar Soares em 91 e nunca teve este problema porque meses depois conseguia a segunda maioria absoluta para o PSD nas legislativas.
Por outro lado, a não ida a jogo com uma candidatura própria, forte, abre o campo por exemplo a uma presença de candidatos presidenciais mais à esquerda, o que acabaria por desgastar os socialistas, dando fôlego à oposição.
O apoio a uma recandidatura presidencial de Marcelo não é hoje para o PS um problema como o que existiu em 80 quando se tratou de apoiar Eanes, nem de perto nem de longe.
Mas daí a achar-se que o tema presidenciais não é suscetível de causar engulhos aos socialistas vai um mar de distância.
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