por estatuadesal
(Domingos Lopes, in Público, 22/11/2019)
O tempo aceleradíssimo que vivemos faz esquecer muita coisa, mas não se podem apagar as palavras nem sobretudo as obras. Após a queda de Sócrates, Passos antes do ato eleitoral que o catapultou a primeiro-ministro, prometeu que melhoraria o nível de vida dos portugueses e mal chegou a São Bento desencadeou uma política de confessado empobrecimento.
Eis o fantástico mundo real contra o qual batem os que defendem que Passos enfrentou os DDT (Donos Disto Tudo) - ver artigo de João Miguel Tavares de 16/11/2019.
Passos capitaneou em Portugal o monumental embuste de que a crise resultava dos portugueses viverem acima das possibilidades, escondendo que tinha sido o sistema financeiro quem com a sua ganância desmedida tinha provocado a crise.
De cima do seu mando e de chicote na mão fustigou económica, social e moralmente a população trabalhadora de Portugal. Nunca se lhe ouviu uma única palavra de crítica aos DDT. Armou-se em seu capataz. Foi o que foi, sendo os DDT, em geral, os donos dos meios de comunicação social, onde está o enfrentamento? Só no fantástico mundo da imaginação para desculpabilizar Passos e sebastianizar o seu regresso privatizador e austeritário para se vingar dos desmandos da geringonça.
Passos e Paula Teixeira da Cruz são ainda responsáveis por uma das medidas mais cruéis que atingiram a Justiça - o encerramento de vinte tribunais e de vinte e sete outros que passaram a secções de proximidade contribuindo para um maior abandono das populações do interior. Ordenaram a passagem das ações de família e menores e todas as ações de valor acima de 50.000 euros para as sedes das comarcas e a deslocalização das ações executivas para um tribunal de cada comarca.
Ainda hoje em certos distritos as sedes distam de alguns municípios dezenas e dezenas de quilómetros (setenta a cem quilómetros em muitos casos), o que impede a quem se deslocar de transportes públicos de o poder fazer no mesmo dia. A Justiça não chega aos que vivem afastados do litoral.
Com Passos Coelho os que eram pobres ficaram mais pobres. Muitos dos remediados ficaram pobres. A classe média encolheu. Uma minoria ínfima ficou mais rica. Este povo desgraçado que acreditou nas promessas de Passos recebeu vergastadas a castigá-lo pelos desmandos dos DDT.
Passos sangrou o PSD de alguns restos de centrismo político tingidos de social-democracia para o lançar na direita neoliberal, rivalizando com o CDS nessa área. Empurrou o partido para a direita destemperada, abrindo espaço ao PS ao centro com o qual engordou.
Porventura o que faz alguns recordarem nostalgicamente Passos Coelho é a sua obstinação ideológica em querer destruir o Estado social e deixar meia dúzia de serviços públicos à míngua destinados aos “intocáveis” e entregar as riquezas ainda sobejantes aos DDT e fazer dos seus amigos novos ricos chegados ao tal clube dos DDT como o inenarrável Relvas e C.ª…
Ressuscitá-lo como um político que enfrentou os DDT e a comunicação social ronda o cómico. O legado de Passos foi pobreza a rodos, servida com a veemência de alguém que se desumanizou. Foi o que foi, sem apelo e sem agravo. Quem o quer de volta não pode vender gato por lebre.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
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