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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Dois anos de conflito em Marawi: Uma cidade sem vida e sem gentes

De  Monica Pinna  & Ana Serapicos • Últimas notícias: 28/11/2019 - 17:12

Em parceria comThe European Commission

Dois anos de conflito em Marawi: Uma cidade sem vida e sem gentes

Em maio de 2017, o Governo das Filipinas lançou uma ofensiva contra grupos afiliados ao Daesh que haviam tomado a cidade de Marawi. O conflito durou cinco meses e terminou com mais de mil mortos e quase 400.000 deslocados. Hoje, mais de 80% dos deslocados regressaram ao país, mas 66.000 ainda vivem em abrigos ou tendas.

O antigo bairro de Marawi ainda é uma cidade fantasma e todo o estado de Mindanao e permanece sob lei marcial devido a confrontos que ainda ocorrem em algumas partes da ilha. Os grupos afiliados ao Estado Islâmico estão enfraquecidos, mas ainda existem.

"Durante o conflito, as balas voavam dentro de casa e nós deitavamo-nos no chão enquanto batiam em todo o lado."

Pao Pao

A ameaça ainda permanece, e não apenas como um velho grafite nas casas vazias e destruídas. Entre mesquitas carbonizadas e prédios inteiros marcados por balas e estilhaços, quase um terço das setenta escolas de Marawi foram danificadas.

As escolas foram fortemente afetadas com o conflito. Dos 24.000 alunos deslocados, apenas uma pequena parte retomou as aulas.

Para 80% dos alunos deslocados, a escolaridade acontece em casa. Pao Pao, uma menina com 13 anos, morava na zona de conflito e agora faz parte de 20% das crianças deslocadas que frequentam aulas regulares, o que permite também que tente ultrapassar o trauma da guerra.

"Durante o conflito, as balas voavam dentro de casa e nós deitavamo-nos no chão enquanto batiam em todo o lado. Estava com medo, não sabia como fugiríamos disso tudo.", conta Pao Pao à Euronews.

Quase 550 estudantes deslocados internos foram aceites na escola primária de Angoyao, nos arredores de Marawi. Esse número representa mais de um terço de todas as matrículas.

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Quase metade dos colegas de turma de Pao Pao são deslocados, como ela.

"Tinha medo de ter que parar de ir à escola porque muitas escolas foram destruídas. A escola dá-me a oportunidade de aprender e me aperfeiçoar.", conta Pao Pao.

A Escola Angoyao faz parte de um projeto de emergências na educação implementado pela ONG Save the Children para apoiar crianças afetadas pelo conflito em todo o estado de Mindanao. Melhorar o acesso à educação está entre os objetivos do projeto, financiado pela Ajuda Humanitária da União Europeia.

“Estamos a fornecer espaço de aprendizagem temporário em cinco escolas, basicamente para atender aos requisitos de sala de aula para os próprios alunos, para que eles possam iniciar imediatamente as aulas, apesar dos conflitos na área. Ao mesmo tempo, fornecemos formação aos professores em dez escolas", explica Mykiel Patcho, da Save the Children das Filipinas.

Pao Pao vive no Abrigo Temporário de Boganga, que abriga 3.500 pessoas. A família muda-se de um sítio para o outro desde o início do conflito, mas ter a escola por perto veio mudar tudo.

"A educação é muito importante porque é o único tesouro que podemos oferecer aos nossos filhos e, apesar de não podermos alimentá-los sempre, pelo menos podem ir à escola", conta uma mãe que vive no acampamento.

Ler mais | Save the Children

Conhecemos uma família de 10 pessoas, a qual mora num pequeno abrigo, mas mais de 50.000 deslocados internos ainda vivem com familiares ou em tendas. Viajámos para o outro lado de Marawi para ver a cidade das tendas de Sarimanok. Lá, as condições de vida são ainda mais difíceis e as restrições financeiras desafiam as famílias a pagar pela educação. É por isso que a União Europeia interveio e hoje é quase o único doador em Mindanao de assistência humanitária.

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“Mais de 120 mil crianças foram afetadas por este conflito. Estão fora da escola ou correm o risco de abandonar a escola por causa do conflito e das consequencias que o conflito trouxe. A prioridade da União europeia é trazer estas crianças de volta à escola e mantê-las na escola, porque, como sabemos, se não estiverem na escola, muitos outros problemas podem acontecer", explica Arlynn Aquino, representando da UE.

As escolas em zonas de conflito continuam a ser o refúgio contra o trabalho infantil, o casamento precoce e o recrutamento para grupos extremistas.

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