Ricardo Costa
Diretor de Informação da SIC
29 NOVEMBRO 2019
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Desculpem o título sensacionalista, mas hoje é aquela sexta-feira de super descontos comerciais que os americanos inventaram para animar uma corrida às lojas na manhã seguinte ao Dia de Ação de Graças, data em que os colonos protestantes da Costa Leste agradeciam as colheitas desde o séc. XVII.
A invenção da Black Friday galgou oceanos e já faz parte das nossas vidas, a ponto de vermos o nosso ministro do Ambiente protestar contra a ideia e, lá fora, deputados franceses envolvidos numa acesa discussão sobre o sentido de tanto consumo e desperdício.
Discussões à parte, é inegável que importámos a tradição e, com ela, o nome original, porque temos uma daquelas línguas que não foi buscar o Dia de Vénus ao Latim nem o Frigg germânico para o quinto dia útil da semana. Temos a nossa simples e honesta sexta-feira, pouco dada a traduções imediatas.
Tudo isto para vos dizer que, ironicamente, enquanto milhares de pessoas se vão enfiar em lojas ou em frente ao computador para encontrar “aquele” desconto, há outros milhares de jovens que se vão juntar em praças e ruas de muitas cidades para assinalar mais uma greve climática estudantil.
As greves às aulas começaram como todas as tradições, quase sem se dar por isso, neste caso devido à persistência isolada de Greta Thunberg. O movimento cresceu e é hoje um fenómeno global e geracional (Fridays for future) que põe em sentido políticos, empresários e todo o tipo de decisores.
Hoje é a quarta greve em Portugal e foi convocada muito em cima da hora, desta vez com o objetivo de mobilizar os jovens para a Cimeira do Clima que começa na próxima semana em Madrid. Greta Thunberg deverá chegar a Lisboa, de barco à vela, na próxima semana e depois seguir para a capital espanhola, onde se espera uma grande afluência de jovens.
“Para muitos isto continua a ser algo estranho, não legítimo, mas nós vamos continuar a fazer greves porque além de legítimas, são necessárias. Esperamos que haja cada vez mais jovens a juntar-se a nós e que o resto da população olhe para nós e finalmente perceba que vamos sofrer.” É assim que um dos organizadores explica ao Expresso a razão destas greves pelo clima.
Não quero estragar a sexta a ninguém, mas lembrem-se que ontem o Parlamento Europeu declarou o estado de “emergência climática e ambiental” e defendeu que a UE se comprometa a reduzir emissões de gases com efeito de estufa em 55% até 2030, para atingir a neutralidade climática até 2050.
Black Friday e Fridays for future. As sextas são dias em cheio e com muito por onde escolher. Como dizem os americanos, seize the day, que é como quem diz em latim carpe diem. No singelo português, diz-se aproveite o dia ou, na minha tradução preferida, agarre o dia! Já agora, faça-o depois de ler mais umas notícias.
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