MUNDO
15.11.2019 às 8h00
Jeanine Áñez acena à multidão na varanda do palácio presidencial boliviano, com a sua bíblia na mão.
AIZAR RALDES
Com Evo Morales exilado no México e a violência a tomar conta das ruas, a senadora auto-proclamou-se presidente interina, prometendo convocar eleições em 90 dias
É advogada mas terá passado por cima da letra da lei auto-proclamando-se presidente interina da Bolívia, sem o número mínimo de votos exigidos pela Constituição. O país é um Estado laico, mas ela irrompeu pelo Palácio Presidencial de Bíblia na mão: "Fui escolhida por Deus!".
Jeanine Áñez, de 52 anos, ex-apresentadora de televisão e senadora conservadora desde 2009, tomou conta do país em menos de 24 horas, como um furacão que apanha todos desprevenidos. Os EUA, Venezuela e Brasil já a reconheceram como a legítima presidente deste país latino-americano, que vive uma das mais complicadas crises da sua história.
Nas ruas prosseguem os protestos populares, que fizeram já oito mortos e mais de 500 feridos desde as eleições de 20 de outubro, devido às alegações de fraude no escrutínio que deu a vitória a Evo Morales, pela 4ª vez consecutiva.
Morales anunciou na televisão nacional que renunciava à presidência do país no domingo, depois de os chefes das Forças Armadas terem exigido que abandonasse o cargo. A Assembleia Legislativa da Bolívia recebeu na segunda-feira a carta de renúncia, em que Morales justifica a sua saída de cena (refugiou-se no México) para evitar mais violência e permitir o regresso da "paz social" ao país que governou durante 13 anos.
Quando a carta de renúncia foi entregue, Jeanine Añez, que era a segunda vice-presidente do Senado da Bolívia, marcou uma sessão extraordinária na Assembleia Legislativa, e foi aí que reivindicou o direito de assumir interinamente a chefia do Estado até à realização de novas eleições, dadas as demissões do vice-presidente da República e dos presidentes e vice-presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. Não restava mais ninguém na "linha de sucessão".
Jeanine Añez nasceu em Beni, uma zona rural pobre no interior do país, e entrou na política em 2006 quase por acaso: como era conhecida do público, através da televisão regional, o partido conservador Podemos decidiu convidá-la, pois precisava de preencher as quotas de mulheres.
Foi eleita para o Senado em 2009, pelo Partido do Plano Progresso para a Bolívia - Convergência Nacional, e reeleita em 2015, pelo Movimento Democrático.
No Twitter descreve-se como "democrata, autonomista, mãe e defensora da liberdade e da democracia". É casada com um político colombiano conservador, Héctor Carvajal.
É a segunda mulher a chegar à Presidência na Bolívia, depois de Lidia Gueiler, que foi proclamada na sequência de um golpe militar, em 1979, e derrubada por outro, em 1980.
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