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terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Três histórias reais de um Natal presente

David Dinis

David Dinis

Director-adjunto

24 DEZEMBRO 2019

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Bom dia, caro leito(a),
Regresso a Charles Dickens e ao seu "A Christmas Carol", aquele conto de Natal a que aparece sempre voltar. Sobretudo quando leio histórias como estas (infelizmente bem verdadeiras e passadas nos dias de hoje):
Primeira: Florence Widdicombe, uma menina de 6 anos, pegou na caneta para escrever aos amigos da escola quando percebeu que aquele cartão de Natal, além de um gato com um gorro vermelho e branco na capa, já tinha uma mensagem escrita lá dentro. “Por favor, ajude-nos". A mensagem vinha de um grupo de prisioneiros na zona de Xangai, que denunciavam o trabalho forçado a que estavam a ser sujeitos. A pequena Florence mostrou a mensagem ao pai, que a mostrou a um jornalista. E a história acabou na primeira página dos jornais britânicos, levando uma superfície comercial a fechar a sua fábrica na China e mostrando-nos como, por lá, a expressão "direitos humanos" ainda está longe de ser compreendida - apesar de chegarem cá rapidamente os seus produtos. Mas a história mostra também como basta uma pequena abertura para a velhinha "message in a bottle" chegar ao outro lado do mundo, fazendo ecoar as mais importantes mensagens de alerta. (De resto, há outra notícia de hoje, vinda também da China, que mostra como o regime cala as vozes que se tentam fazer ouvir, e esta envolve uma marca que conhece bem: a Huawei.)
Segunda. Ao fim de mais de um ano de investigação, o Ministério Público da Arábia Saudita anunciou ter condenado à morte cinco pessoas pelo assassinato do jornalista na embaixada do país na Turquia. Apesar de meio mundo ter percebido a conspiração que levou à morte do homem que denunciava a falsa abertura do reino, só um elemento da família real saudita foi investigado - e também ele acabou por ser ilibado. O anúncio não expôs apenas a hipocrisia do Reino, expôs também a do governo norte-americano: se António Guterres, em nome da ONU, voltou a exigir uma investigação imparcial, em nome da liberdade de informação, já Donald Trump elogiou o aliado económico no Médio Oriente, saudando o "passo importante" da condenação. Quando os valores são estes...
Terceira. Com as chuvas a estragarem muitos natais por cá, o autarca de Gondomar resolveu cobrar pela operação de resgate de quatro amigos que ignoraram os avisos de perigo e se meterem em maus lençóis. "A fatura rondará os milhares de euros", avisou o presidente da Câmara, que quer sobrar para salvar. Na capa do jornal i de hoje, conta-se a história em que não queremos acreditar, com alguns avisos de juristas e constitucionalistas que mal conseguiam acreditar na história.
Sinceramente, há dias em que parece não termos saído de 1843.

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