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quinta-feira, 16 de abril de 2020

Já se vê o fim do túnel

Curto

Miguel Cadete

Miguel Cadete

Diretor-Adjunto

16 ABRIL 2020

Bom dia!
A União Europeia publicou ontem um documento que alinha as medidas a ser tomadas para regressarmos à normalidade. Tem a assinatura dos presidentes da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Conselho Europeu, Charles Michel e é muito mais que um tratado de burocracia. Na verdade, pode ser o mapa que nos leve a sair de um problema chamado covid-19. O Expresso mastigou toda a informação que contém e sabe que o levantamento das restrições pode durar meses.
Ontem, em Lisboa, a avaliação da situação por parte das mais altas figuras do Estado, líderes dos partidos, técnicos da Direção Geral de Saúde e especialistas do Instituto Ricardo Jorge levou a conclusões idênticas ou muito similares. O índice de reprodutibilidade da covid-19 em Portugal, o R0, está abaixo de 1 – anda à volta de 0,87, - o que permite pela primeira vez começar a pensar no levantamento de restrições. Os especialistas acreditam que quando se chegar ao 0,7 (o que significa que em média cada pessoa infetada contagia apenas 0,7 pessoas) será possível começar a abrir o país. O caso da Noruega, que esta semana deu início ao levantamento de algumas medidas restritivas, é o exemplo a seguir. Sim, o R0 da Noruega é 0,7.
António Costa tem vindo a sugerir que se começa a ver a luz no final do túnel em maio, mas sabe que o levantamento das medidas será gradual, podendo durar meses. Nisso está alinhado com o mapa que a União Europeia propõe e que, de forma muito clara, sugere que, antes de tudo o mais, voltem à atividade algumas escolas e creches, seguindo-se as lojas, e só depois os restaurantes e os hotéis. Os festivais e os concertos, admite-se, serão os últimos eventos a poder voltar a acontecer e a regressar à almejada normalidade.
Da reunião que também ontem teve lugar entre a Confederação do Turismo de Portugal e o primeiro-ministro, este coadjuvado pelos ministros da Economia e do Trabalho, saiu o desejo de iniciar a abertura de hotéis e restaurantes já em maio. Francisco Calheiros, presidente da Confederação, aponta para o próximo mês, ainda que com o pessoal equipado com luvas e máscaras. E que em setembro, com uma possível abertura de fronteiras, os turistas espanhóis poderiam regressar. Admitiu, contudo, que o Verão já está perdido.
Ontem, em entrevista na RTP, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, sublinhou que o Estado não dará dinheiro a fundo perdido para as empresas. “Não podemos pensar que conseguimos pagar os compromissos das empresas a fundo perdido e à custa do contribuinte. Despesa do Estado agora são impostos amanhã”, disse durante o programa “Grande Entrevista”.
Recorde-se que o Presidente da República vai renovar hoje, por mais 15 dias, o estado de emergência. São mais duas semanas em que vigorarão as medidas excecionais, imposta há um mês, e que terminam formalmente a 1 de maio. António Costa alertou contudo que: “Cada vez que tirarmos restrições o número de contágios vai aumentar”, o que decorre da evolução de qualquer epidemia para a qual não existe ainda vacina ou imunidade de grupo.
Marcelo Rebelo de Sousa, por seu lado, resumiu as conclusões do dia: “Em maio, os portugueses vão começar a habituar-se a conviver com um vírus que passa a ser um dado novo no seu dia a dia”. Ontem, desceu o total de doentes internados, segundo o boletim da Direção-Geral da Saúde, fixando-se em 1.200 - menos 27 pessoas do que o registo anterior. Também caiu o total de doentes infetados em cuidados intensivos, para 208 (menos 10 do que na terça-feira) e aumentou o grupo das pessoas já recuperadas: 383.
Já no plano internacional, o dia de quarta-feira foi marcado pelo corte do financiamento à Organização Mundial de Saúde anunciado pelo Presidente dos Estados Unidos da América. Donald Trump justificou a medida como retaliação pelas informações falsas sobre a transmissão e mortalidade” da doença e que se a OMS “tivesse feito o seu trabalho e enviado especialistas médicos para a China”, a pandemia poderia “ter sido contida na fonte com pouquíssimas mortes”.
A Zona Euro pode estar em risco caso alguns países não obtenham condições de financiamento para a retoma. Quem o disse foi Bruno Le Maire, o ministro das Finanças de França que assim declara o seu apoio a um esforço partilhado no seio da União Europeia através da criação de um Fundo de Retoma. Em entrevista ao Expresso não podia ser mais claro: “O Fundo de Retoma é claramente pensado para despesas públicas através de subsídios. Não estou a falar de empréstimos”.

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