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terça-feira, 28 de abril de 2020

Os novos sonhos e o elogio da “estupidez absoluta”

Curto

Germano Oliveira

Germano Oliveira

Editor online

28 ABRIL 2020

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“Hoje sonhei com a discoteca, estávamos lá todos, pós-pandemia, e havia menos gente que o normal mas tudo tranquilo. Vou ficar deprimida o dia todo”: a discoteca tem nome mas é um detalhe e por isso fica incógnito; a mensagem tem autora, o nome dela já não é um detalhe porque é nome de uma amiga mas a privacidade é um direito; a depressão dela deve-se a saudade, é feita dos nomes dos amigos todos que lhe fazem falta; é no “havia menos gente” que está o pormenor psicológico - até os nossos sonhos do futuro já são feitos de menos pessoas. “O medo e a ansiedade foram úteis para cumprir o isolamento e vão ser bloqueadores na hora de voltar a sair. (...) A ideia de que daqui a uns tempos tudo será igual ao que era é falsa”, está aqui no Expresso.
O país começa a preparar-se para voltar lentamente à rua e “a reabertura da economia é uma experiência nova”, pode ler-se neste artigo de opinião do Expresso que devia ser causa para os decisores políticos chamarem os autores do texto para um debate, mas creio que podemos ser mais ousados na formulação, “a reabertura da vida é uma experiência nova” e trata-se da discussão do momento: “António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa, os líderes partidários e conselheiros de Estado reúnem-se esta terça-feira para mais uma conversa com os especialistas da Direcção-Geral da Saúde e do Instituto Ricardo Jorge”, explica o Expresso. A decisão de deixar o estado de emergência não implica acabar com o nosso estado de prudência porque apesar de “os internamentos estarem a cair desde 16 de abril” ainda “não começámos a diminuir o número de casos” e “a taxa de retransmissão não deu bons indicadores este fim de semana, foi a própria ministra da Saúde, Marta Temido, que avisou para o facto de a taxa (o famoso Ro) ser agora de 1.04, depois de já ter estado nos 0.95, o que significa que cada pessoa infetada passou a infetar mais do que uma em média e isto não é um bom sinal” - mas há mais incertezas, estão todas relatadas ali no site do Expresso, onde se expõe também como “António Costa quer ter uma ‘folga’ confortável que permita ir gerindo a saturação do SNS, sabendo-se à partida que abrir alguns sectores de atividade pode contribuir para o aumento do risco de infeções”.
O primeiro-ministro garante que “há um ‘consenso’ para baixar o nível de emergência em Portugal”, a decisão é esperada para daqui a dois dias e tem consequências e duração incertas: “O tom é misto: por um lado, António Costa deseja, e assume-o, que a economia possa ser reaberta e que se passe a uma nova fase de ‘convivência’ com o vírus; por outro, o perigo está muito longe de desaparecer e o Governo está consciente de que será preciso avaliar passo a passo o levantamento de medidas e, se necessário, recuar”, analisa o Expresso, que identifica também as cautelas da oposição - “o PAN é uma das vozes que se mostram mais preocupadas, (...) o Bloco de Esquerda quer ‘aguardar’ a concretização das medidas para opinar mas deixa desde já uma ressalva, ‘o levantamento das medidas de restrição deve acontecer quando as condições de saúde o permitirem’, (...) o PSD reserva opiniões para depois de ouvir especialistas e Governo, o CDS avisa que ‘o levantamento das medidas de contingência tem de acontecer de forma gradual e assimétrica, de modo a que o esforço que todos temos feito não fique comprometido’, na Iniciativa Liberal argumenta-se a favor do regresso gradual à atividade económica”.
O Expresso pergunta aqui se “o desconfinamento será à prova de críticas” entre os especialistas de Saúde e tem respostas nesse mesmo artigo: a Ordem dos Médicos pede máscaras-máscaras-máscaras e diz que não há condições para o regresso à normalidade, “temos de continuar a fazer as medidas restritivas no dia a dia”, a Organização Mundial da Saúde considera que “o levantamento demasiado cedo das restrições impostas para combater a covid-19 pode levar a um ‘ressurgimento mortal’ da pandemia”, são alertas que se juntam aos da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública e dos especialistas do Instituto Ricardo Jorge: “não há margem de manobra” para passos em falso.
Notas finais: se tem filhos em creches leia isto, se eles estão a estudar noutros anos de ensino então é importante saber aquilo e entretanto cumpra as indicações das autoridades para que os sonhos voltem rapidamente a ter mais gente.

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