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segunda-feira, 29 de junho de 2020

A pior semana desde abril (e será que tudo aquilo que não nos consegue destruir acaba mesmo transformado em alegria?)

Curto

Germano Oliveira

Germano Oliveira

Editor online

29 JUNHO 2020

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A paranoia é a “designação dada a diversas perturbações psíquicas, geralmente associadas a desconfianças patológicas e erros de interpretação da realidade”, fui vítima desses erros: a polícia expulsou-me gente de casa no fim de semana porque uma queixa anónima desinformada é capaz de provocar danos em gente identificada bem formada, foi o meu caso, tive de resolver com a ajuda de um polícia bom o problema que estava a acontecer com um polícia mau - o bom tinha olhos azuis fortes, cabelo de revista e corpo de modelo, acho que não queria cansar a beleza dele com desentendimentos desnecessários - e acabei depois num restaurante em que um polícia apareceu também, “podem estar aqui dentro até às 00h, lá fora podem beber nas mesas até às 23h mas só se estiverem a comer”, basta pedir um pão e já podemos beber sentados no exterior, as leis estão a ficar esquisitas, este não era um polícia bom nem mau mas um polícia informativo, fez rondas nos restaurantes que ficavam antes do meu e continuou pelos seguintes, entretanto passou outro carro da polícia que ficou a contar quantos éramos na rua, demorou-se mas estávamos dentro da lei e eles seguiram entretanto para ir fazer contas de somar noutros sítios de Lisboa, a cidade está tensa porque os números são intensos - há mais 457 novos casos de covid-19 em Portugal, é o maior aumento diário desde o início de maio, a região de Lisboa e Vale do Tejo tem 86% da subida, por isso há mais 86% de necessidade de perceber e resolver estas cadeias de transmissão da pandemia mas também mais 86% de probabilidade de desconfianças e erros de interpretação da realidade (“todo o ser humano, não importa o quão forte ou poderoso é, é frágil quando se trata de morte - penso nisso em termos gerais, não de forma pessoal”, é do profeta-Nobel Bob Dylan, está AQUI no Expresso, tem reflexões de covid mas é tão mais que isso).
Outros números: a semana que passou foi a pior em novos casos desde 26 de abril, é portanto a pior semana do desconfinamento neste critério, “mas se a evolução for analisada em termos percentuais verifica-se que a situação é de estabilidade (...): o aumento tem oscilado entre 0,8% e um máximo de 1,1%, (...) é constante mas baixo e um dos fatores que têm levado as autoridades de saúde a considerar a situação controlada”, ainda assim “a falta de explicações para os surtos em Lisboa dificulta decisões sobre medidas a tomar e somam-se as críticas à coerência do discurso [político]”, escreve-se noutro artigo do Expresso sob o título “Governo com problemas no diagnóstico do surto e coerência na mensagem”: “A semana não foi fácil para quem gere a resposta à pandemia... e para quem tem de responder por ela. Se é certo que o relaxamento das restrições levaria sempre a um aumento de casos, a situação em Lisboa agravou-se de tal forma que levou à tomada de medidas adicionais. Medidas difíceis de decidir e aplicar, uma vez que não se conhece a causa exata do problema”.
Os dados dizem ainda que aumentou o número de doentes com covid internados nos hospitais (458 no domingo, mais 16 que no dia anterior mas “muito longe do pico de abril, quando superava os 1.300”), também há mais internados nas últimas horas nos cuidados intensivos (subiram de 70 para 75), as vítimas mortais são no total 1564 (entre sábado e domingo foram mais três), vamos em 41.646 infetados e 27.066 recuperados - o surto no país, em gráficos e mapas, está explicado AQUI pela saudável e excelente equipa de infografia do Expresso, enquanto outras formas de paranoia estão anotadas ALI (exemplos: “‘O coronavírus foi introduzido de propósito pelo poder corrupto’, ‘Bill Gates está por detrás disto tudo para vender vacinas’ e ‘o mundo é controlado por uma elite de esquerda que esconde uma rede de pedofilia’. Eis apenas parte das teorias da conspiração que circulam na Alemanha, onde já nasceu um movimento de protesto contra as medidas de prevenção sanitária. A extrema-direita alimenta-se da desinformação”).
Bom mesmo é ingerir os ingredientes da informação, “Dados melhoram resposta à pandemia”, titula o Expresso, e o texto conta que “retratar a mobilidade num determinado concelho para adaptar a oferta de transportes ou monitorizar os resíduos para agilizar o sistema de recolha são apenas duas análises que os dados permitem fazer a nível local. Na atual pandemia, as autarquias com maior nível de ‘inteligência urbana’, ou seja, melhor planeamento e gestão de dados municipais, conseguiram dar melhor resposta às necessidades da população, concluiu o Urban Analytics Lab, um centro de investigação da NOVA Information Management School (IMS)” - ter informação e saber usá-la é portanto uma boa técnica de antiparanoia e até de futurismo, porque este mesmo artigo do Expresso tem algo de “Minority Report”, aquele filme com um polícia também com cabelo de revista e corpo de modelo, o Tom Cruise, em que há gente que é detida antes de cometer o crime que um algoritmo prevê (no caso das melhores autarquias no combate à covid elas também podem antecipar o futuro): “Em algumas situações, a governação local conseguiu perceber em tempo real as alterações dos hábitos de mobilidade nestes meses e assim saber em que pontos tinha de agir para responder às necessidades. No caso de Viseu, por exemplo, o facto de a autarquia ter um levantamento de todos os locais com lares e unidades de cuidados continuados foi útil, pois a Segurança Social conhecia apenas os que faziam parte da sua rede. Essa gestão de dados permite compreender o que aconteceu no passado e identificar padrões, mas não só. ‘Passa a ser possível usar esse conhecimento para prever o que vai acontecer’”.
O que ainda não se sabe exatamente é o que vai suceder a quem viajar entre Portugal e o Reino Unido e vice versa - temos ou não de cumprir quarentena à chegada?, os britânicos vão poder ou não viajar para cá? A lista de países bons e maus escolhidos pelo Governo de Boris Johnson é conhecida em breve, hoje mesmo porventura, a BBC diz que Portugal está entre os rejeitados mas o espanhol “El País” tem um relato melhor: “Portugal está entre os países que terão direito a uma ‘luz amarela’ no semáforo britânico, ou seja, que não verão os seus cidadãos obrigados a cumprir quarentena em solo britânico”, lê-se nesta notícia do Expresso, cujo site tem outro artigo com fonte espanhola, o “La Vanguardia”, jornal ao qual António Costa deu uma entrevista em que o seu otimismo irritante está circunstancialmente transformado em otimismo expectante: “Mesmo numa situação controlada há sempre o risco de novos surtos, que podem alterar a realidade estatística, como vimos esta semana”.

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