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segunda-feira, 15 de junho de 2020

Caem os cercos. Mas o resto do mundo ainda não pode entrar

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Raquel Moleiro

Raquel Moleiro

Coordenadora de Sociedade

15 JUNHO 2020

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Bom dia.
Não se vê, cheira ou sente. Pode passar à frente do nariz e não se dar por ele, e mesmo que entre no organismo não é garantido que o corpo alerte para o intruso com sintomas exteriores da invasão. Com pezinhos de lã invisível, o novo coronavírus já matou mais de 430 mil pessoas em todo o mundo e mais de 1500 em Portugal. As marcas psicológicas ultrapassam-se tão rápido que já nem são notícia destacada.
Contra o inimigo, para o qual não há ainda arma letal, levantam-se barreiras preventivas de máscaras, agigantam-se as distâncias humanas, rastreios e testes materializam o mal com reagentes, batalhões de especialistas seguem-lhe os capilares de contágio, confinamentos cortam-lhe a cadeia de transmissão. Se se pudesse ficar assim, só na luta concentrada à pandemia, sem mais urgências para lá da sanitária até que surgisse a vacina, a covid-19 acabaria por perder a guerra. Mas há toda uma economia mundial a ativar alarmes de descalabro, fome e pobreza. E por isso, pouco a pouco, quando já sentem o vírus a ceder ou a concentrar-se noutras geografias, os países vão retirando barreiras, desconfinando. Hoje é dia de reabrir a Europa.
Grande parte dos países comunitários acorda já esta segunda-feira com restrições mínimas à circulação de cidadãos da UE e de territórios associados no espaço Schengen. Alemanha, França, Grécia, Bélgica, Holanda, Áustria, República Checa, Estónia ou Luxemburgo deixam cair, total ou parcialmente, as fronteiras internas que o vírus obrigou a restabelecer, na esperança que o turismo volte a animar o espaço aéreo e as cidades. É certo que já não é possível travar a crise mas pode-se tentar salvar o Verão. Quem vem do resto do mundo ainda vai ter de esperar – as notícias que sopram das Américas, Ásia e África, com a covid-19 em franca expansão, adiaram pelo menos até ao fim do mês o levantamento de mais interdições ao tráfego aéreo.
Portugal nunca fechou as portas europeias, limitando-se a travar a circulação de e para Itália e Espanha. Por isso, pouco ou nada participa nesta queda generalizada de muros europeus virtuais. Talvez se possa dizer que deita abaixo uns muretes. Com a reabertura da fronteira com Espanha adiada para 1 de julho - com pompa e honras de Estado (Felipe VI, Pedro Sánchez, Marcelo e António Costa estarão presentes) entre Caia e Badajoz -, hoje são ativados mais quatro pontos de passagem controlada na raia, que se juntam aos 13 já existentes.
Dentro de portas, porém, há uma barreira importante que hoje se elimina: cai o cerco de Lisboa. Abrem os centros comerciais, as lojas com mais de 400 m2 e os habitantes da área metropolitana já se podem juntar em grupos de 20 (e não de 10), mas atenção aos limites, que há na região tolerância zero a ajuntamentos. A medida avança apesar dos novos casos não darem tréguas na subida, principalmente em Sintra, Loures e Amadora (siga aqui os últimos números). Em todo o país, abrem também os Ateliers de Tempos Livres (ATL) exteriores às escolas e as termas. O desconfinamento segue agora num só ritmo nacional, um dia depois do número de recuperados (231) em 24 horas ter sido, pela primeira vez, superior ao de novos infetados (227).
Boas notícias para o país e para João Leão, o novo ministro das Finanças, que hoje toma posse, herdando a pasta de Mário Centeno (que não foi o campeão de sobrevivência no cargo) e uma enorme crise na engorda. Quanto mais depressa o país regressar à (nova) normalidade, melhor para as contas, e ele vai ter que fazer muitas para o país não cair na austeridade, como promete António Costa. Quem o conhece bem, contou à Liliana Valente que o economista de formação é resistente a pressões, duro e determinado, leva as lutas até ao fim, e no fim ganha, sempre com cordialidade. No governo conhecem-no como o homem do cofre, do qual muitas vezes parecia ter perdido a chave, tal é a resistência em abrir 'os cordões'.

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