O júri do Prémio Nobel da Literatura tem recebido duras críticas - Direitos de autor Fernando Vergara/AP
De Teresa Bizarro • Últimas notícias: 08/10/2020 - 13:18
A chave de qualquer Prémio Nobel está, em primeiro lugar, na mão dos membros da Academia sueca. Um conclave de 18 pessoas, quase todos homens, com uma média de idade a rondar os 70 anos tem mandato vitalício para escolher um pequeno comité de especialistas que anualmente seleciona os laureados.
Nas chamadas áreas técnicas, o prémio parece não ter mácula. O mesmo não se passa nas escolhas dos Nobel da Paz e da Literatura.
O prémio das letras traduz reconhecimento e materializa-se numa valorização comercial do autor que vai muito para além do dinheiro entregue pela academia: 10 milhões de coroas suecas - cerca de 950 mil euros.
Há quatro anos, os literatos chocaram-se com a escolha de Bob Dylan, mas o autor e compositor resistiu a entrar na polémica. Recebeu o cheque, mas em tudo o resto ignorou a academia.
A verdadeira vergonha para o conclave estava ainda por vir. Em 2017, um escândalo de abuso sexual e fraude financeira fez tremer os alicerces da instituição centenária. Um escândalo que envolvia diretamente um dos membros permanentes da academia e o marido. Katarina Frostenson foi afastada e o Jean-Claude Arnault veio a ser condenado por violação.
A atribuição do prémio foi interrompida por um ano. Regressou em 2019, mas a escolha voltou a ser tudo menos consensual. A academia escolheu destacar a obra de Peter Hanke, um escritor austríaco conhecido por negar publicamente o genocídio praticado pelas autoridades sérvias na guerra da ex-jugoslávia.
No que toca à diversidade, são também duras as criticas. Os autores anglófonos estão em larga maioria e dos 116 Nobel da Literatura atribuídos desde 1901, só 15 distinguiram mulheres - a mais recente, foi a polaca Olga Tokarczuk, que recebeu o prémio em 2018.
Há quem defenda que com tanta mácula é tempo dos autores começarem a recusar a distinção da academia que Alfred Nobel financiou.
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