por estatuadesal
(Carlos Marques, 08/12/2020)
(Este texto é resposta ao artigo de Boaventura Sousa Santos que publicámos aqui: https://estatuadesal.com/2020/12/08/lenine-e-nos/
Estátua de Sal, 09/12/2020)
Todo o texto do “Boaventura PSousa PSantos” cai quando confrontado com qualquer argumento que use um pingo de lógica:
1- para que serviria um BE se aprovasse um orçamento do PS em que o PS não aprovou uma única proposta do BE?
2- para que serviria o BE se aprovasse um orçamento que, em vez de contra-cíclico à boa maneira Keynesiana, tem como prioridade o ajustamento orçamental ainda com a pandemia a meio?
3- para que serviria um discurso diário de defesa dos trabalhadores, se depois o BE se aliasse a um PS que mantém a lei laboral da troika e de Passos Coelho, que condena tantos à precariedade e pobreza?
4- para que serviria o BE se fizesse de conta que António Arnaut e José Semedo nunca existiram nem concluíram que era preciso salvar o SNS da lógica a que o PS o condenou?
5- para que serviria um BE Socialista (por oposição a um PS Capitalista) se continuasse a aceitar colocar dinheiro num off-shore de um fundo abutre para tapar buracos de “imparidades” inventadas com suspeita de crime?
E a resposta a todas é: não serviria para nada. Ora, era exactamente esse o objectivo do PS desde 2019, quando rejeitou o acordo escrito com o BE: fazer todos os possíveis, de teatro em teatro, até provocar uma crise política estéril, convocar eleições antecipadas e repetir até à exaustão durante os 15 dias da campanha: “estão a ver que o BE não serve para nada? Dêem-nos a maioria absoluta”.
O problema é que o BE abriu os olhos a tempo. Por mim falo: se o BE continuasse a ser bengala desta política desastrosa e governo desastrado, eu deixaria de votar BE.
Eu, eleitor do BE, queria mais investimento, mas o PS só olha para uma descida ilusória do défice. Queria uma lei laboral decente, mas o PS encosta-se à Direita-Radical. Queria um SNS com o financiamento adequado, mas o PS cativa. Queria que o ROUBO da Lone Star parasse, mas o PS escolhe o fanatismo ideológico NeoLiberal. E queria também uma continuação da Geringonça, mas o PS recusou-a logo em 2019.
E a prova dos 9 são os resultados eleitorais. O BE tem-se mantido no seu máximo histórico (10%), enquanto o PCP está a definhar e vai em várias derrotas consecutivas. Nestas eleições presidenciais suspeito que a tendência se manterá. E acrescento que a principal razão para o PS não apoiar um candidato(a) da sua área, e em vez disso ir atrás da miss popularidade, Marcelfie, é só tacticismo: não ter uma derrota estrondosa, e fazer de conta que a popularidade de Marcelfie é a sua.
Mas reconheço um erro ao BE: na votação inicial do orçamento devia ter-se abstido. E só após o PS rejeitar as suas 12 propostas, aí sim o BE devia ter estado contra na votação final. Foram com demasiada sede ao pote, e para já até pode haver gente que, apesar de votar no mesmo partido que eu, tem outro ponto de vista e ficou descontente. Mas no médio e longo prazo, será uma questão de tempo até se fazer justiça e se perceber que o contra foi o voto certo.
Assim como em 2011 o BE foi castigado por “não dar a mão a Sócrates e ao PEC 4”, veio depois o castigo inicial no mau resultado nas eleições logo a seguir, mas logo 4 anos depois o BE voltou ao máximo e, como se tem visto, tirando de forma sistémica votos ao PS, e que nunca voltarão ao PS.
É por isso que os “Boaventuras PSousas PSantos” desta vida andam tão irritados e se fartam de escrever e comentar contra o BE, mas sempre com o cuidado de nunca analisar as propostas e sentidos de voto, pois aí fica demasiado óbvio o erro histórico que é o apoio da Esquerda ao àquilo em que o António Costa transformou o PS, de forma menos óbvia desde 2018, de forma mais descarada desde 2019, e de forma escandalosa desde o chumbo das 12 propostas do BE e o ataque raivoso no debate orçamental de 2020.
Então aquela semana em que PS e seus comentadores andaram diariamente a chamar irresponsável e “encostado à Direita” ao BE e a elogiar o PCP por causa da questão dos 480 milhões para a Lone Star (Novo Banco), foi o cúmulo da desonestidade intelectual, uma vez que ambos os partidos votaram da mesmíssima forma.
E se o PS (e o Marcelfie) rasgassem as vestes desta maneira por causa da precariedade, desigualdade (de classe, e territorial), pobreza, sub-orçamentação do SNS, +40h/semana no sector privado e horas extraordinárias que nunca mais acabam, pensões miseráveis para os nossos idosos, e falta de condições para os jovens terem filhos cá em vez de emigrarem? Isso é que era de valor!
Mas como não o fazem, suspeito que a lição de Lenine tenha o sentido exactamente oposto ao que o “Boaventura PSousa PSantos” lhe quis dar…
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