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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Era uma vez na América

 

 Eduardo Louro

Após invasão do Capitólio, Bolsonaro se diz ligado a Trump e fala sem  provas em "denúncia de fraude" Por Reuters

 

O Capitólio, a casa da democracia americana que alberga as duas câmaras legislativas do país, foi invadida, assaltada e saqueada por uma multidão de fiéis de Trump liderada pelas suas milícias armadas, os auto-designados "prowd boys", naquilo que Biden classificou o maior assalto à democracia americana da História.

Nada semelhante alguma vez acontecera na História da América. É ainda inacreditável.

Sempre se disse que a democracia americana resistiria a Trump, que a solidez das Instituições americanas era suficiente para impedir este louco de a destruir. Hoje temos dúvidas, que se adensam com a constatação da actuação da polícia. Da mesma polícia que reprime com a maior das eficácias as inúmeras manifestações pacíficas na sociedade americana, seja pela defesa do clima, ou contra o racismo, mas que foi incapaz de salvar a América de tão triste imagem.

Sabia-se que Trump não aceitaria a derrota facilmente. A sua estratégia estava há muito anunciada. Logo que começou a perceber que não seria reeleito anunciou que estava a ser preparada uma fraude eleitoral. À medida que as eleições se aproximavam reforçava essa ideia força: as eleições são fraudulentas. Realizaram-se, perdeu, como bem sabia, e "passaram mesmo a ser fraudulentas". Litigou por todo o lado e de toda a maneira. Aceitou a derrota, mas continuou. A ponto de, já esta semana, ter sido apanhado a ligar ao secretário de Estado da Geórgia, o republicano Brad Raffensperger, ordenando-lhe que recontasse mais uma vez os votos e que encontrasse os votos necessários para inverter o resultado eleitoral: "só quero encontrar 11.780 votos" - dizia.

Como este seu colega de partido, e autoridade eleitoral daquele Estado, lhe respondeu que os resultados divulgados tinham sido mais que recontados e estavam correctos, não hesitou em mandar assaltar o Capitólio, para impedir a sessão em que o Congresso ia certificar a eleição de Biden.

Uma situação limite, mas nem por isso de todo imprevisível. Por isso menos aceitável ainda a passividade da polícia, na imagem trágica que a maior potência mundial dá ao mundo.

Tudo foi destruído e vandalizado. E só a lucidez e o sangue frio de um funcionário impediu a destruição dos caixotes dos boletins de voto.

Veremos o que se segue. Há imagens chocantes, mas são também imagens que identificam pessoas. Veremos se servirão para alguma coisa. E veremos também o que virá a acontecer na tomada de posse de Biden, daqui a menos de duas semanas.

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