(Carlos Esperança, 06/02/2021) A direita portuguesa, com um PR da sua área e habituada a ser Governo, foi confrontada com o advento da extrema-direita, organizada num partido assumidamente fascista, com um líder demagogo, xenófobo e mitómano, sem ter prevenido a limitação dos danos. A direita democrática, apanhada na tempestade com líderes precários e sem carisma, foi inábil a resistir aos desafios fascistas e à hemorragia dos que a incluíam à espera de um partido que assumisse ruidosamente a ideologia que preservavam m silêncio. Rui Rio conseguiu derrotar os piores apoiantes da deriva do PSD com Cavaco e Passos Coelho, e foi incapaz de vencer os inimigos internos e impor um módico de coerência à sua própria conduta. A posição quanto à vacinação de deputados e a contrária, expressas no curto intervalo de poucos dias, provaram a sua desorientação política. Passos Coelho rodou na autarquia de Loures o líder do partido mais antidemocrático e promissor da direita. Rui Rio, em profundo desnorte, integrou-o no sistema na Região Autónoma dos Açores onde o PSD podia ser Governo, ignorando-o. Após esse péssimo serviço ao País, e ao PSD onde o extremista se nutre do eleitorado, o discurso delirante sobre os resultados da extrema-direita no Alentejo foi um apoteótico haraquíri. O CDS perdeu há muito a identidade e tem hoje uma comissão liquidatária a defender-se dos raros demo-cristãos que reclamam a herança de Freitas do Amaral e Amaro da Costa. Sobram-lhe quadros sem rumo ou a caminho do PSD. Os neoliberais já têm um partido (IL) e os fascistas também. Entretanto, os habituais e pouco recomendáveis Santana Lopes e Alberto João Jardim, de que nenhum partido se conseguiria orgulhar, apareceram, no espaço de poucos dias, a propor um “governo de salvação nacional”, em agnosia jurídica e delírio golpista. Qualquer leigo sabe que é utópico um tal governo, os governos dependem da AR, como Cavaco Silva acabou por compreender. Até os supracitados, o primeiro quando sóbrio e o segundo, na pausa de uma qualquer aventura autárquica, são capazes de perceber que no atual quadro parlamentar, inalterável até 9 de setembro, é absolutamente impossível qualquer outro governo. Há quem se regozije com esta desorientação da direita democrática e de quem se situa a meio caminho da outra, mas está na origem do aumento dos perigos que nos espreitam.
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