Posted: 14 Apr 2021 04:14 AM PDT
«1. Portugal deixou para trás a terceira vaga da pandemia. A dúvida é se virá outra. Sendo certo que, se vier, a ameaça para a saúde pública já não será a mesma: até ao final de maio, estará vacinada toda a população com mais de 60 anos (faixa etária que concentra 95% das mortes por covid-19).
Mas há uma outra ameaça no horizonte, aumente ou não o número de infeções, internamentos ou mortes. Vem aí uma vaga de despedimentos, como se explica nesta edição do JN. Seja por causa do fim de apoios como o lay-off, seja pela escassez de encomendas, seja porque já havia empresas condenadas a emagrecer ou desaparecer, alguns milhares de famílias vão sentir o verão, não como um tempo de esperança, mas como mais uma etapa de um longo pesadelo. Como sempre, serão os precários, os que têm salários mais baixos, os que têm menor formação, a pagar a fatura mais elevada. O Estado não pode resolver tudo, mas tem a obrigação de encontrar fórmulas para garantir um pouco mais de resiliência às empresas. Investir a montante, para poupar a jusante.
2. Há iniciativas políticas condenadas ao fracasso. É o caso da "raspadinha do património", com que o Ministério da Cultura se propõe financiar, a partir de maio, o Fundo de Salvaguarda do Património Cultural. Consciente das receitas que este jogo promete, a ministra, ou alguém por ela, quis garantir mais uma fatia. Na verdade, o retorno de cinco milhões é ridículo quando comparado com o produto original - 1718 milhões de euros de receitas em 2019, que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa garante redistribuir quase na íntegra, incluindo 20 milhões ao próprio Ministério da Cultura, só no ano passado. Sabe-se que são os mais vulneráveis os que mais apostam e perdem com as raspadinhas. E que os Centros de Apoio a Toxicodependentes e os hospitais estão agora cheios de viciados na raspadinha, como explicámos na edição de ontem do JN. É então com o patrocínio dos mais pobres e dos mais velhos que se pretende pagar a manutenção do património. Uma iniciativa infeliz e ineficaz.»
Rafael Barbosa
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