por estatuadesal |
(Carlos Esperança, 23/04/2021)
Há quem, antes, não tivesse precisado de partido, quem não sentisse a falta da liberdade, quem se desse bem a viver de joelhos e a andar de rastos.
Houve cúmplices da ditadura, bufos e torturadores, quem sentisse medo, quem estivesse desesperado, quem visse morrer na guerra os filhos e nas prisões os irmãos, e se calasse. Houve quem resistisse e gritasse. E quem foi calado a tiro ou nas prisões.
Uns pagaram com a liberdade e a vida a revolta que sentiram, outros governaram a vida com a vergonha que calaram.
Houve quem visse apodrecer o regime e quisesse a glória de exibir o cadáver e a glória da libertação. Viram-se frustrados por um punhado de capitães sem medo, por uma plêiade de heróis que arriscaram tudo para que todos pudéssemos agarrar o futuro.
Passada a euforia da vitória, ninguém lhes perdoou. Os heróis da mais bela revolução da História e agentes da maior transformação que Portugal viveu são hoje proscritos e humilhados por quem lhes deve o poder.
Uns esqueceram os cravos que lhes abriram a gamela onde refocilam, outros reabilitam os crápulas que nos oprimiram, outros, ainda, sem memória nem dignidade, afrontam o dia 25 de Abril com afloramentos fascistas e lúgubres evocações do tirano deposto.
Perante os ingratos e medíocres deixo aqui a TODOS os capitães de Abril o meu eterno obrigado.
Não quero saber o que fizeram depois, basta-me o que nesse dia fizeram.
Obrigado a todos. Aos que partiram e aos que estão vivos. Por cada ofensa que vos fazem é mais um pedaço de náusea que provocam.
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