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quinta-feira, 25 de julho de 2024

 

Ai, tia Maria, que vem aí a revolução amaricana

By estatuadesal on Julho 25, 2024

(Por José Gabriel, in Facebook, 23/07/2024)


Os comentadores televisivos de direita – passe o pleonasmo – estão em doloroso estado de dissonância cognitiva. Eles querem apoiar a direita norte- americana, mas, oh inclemência, essa direita é representada, nos tempos que correm, pelo partido Republicano e por Trump - que, “‘tá a ver, tia Batata, não é pessoa que se possa levar a qualquer lado, sem corrermos o risco de uma vergonha e assim, pe’cebe? E p'ra tomar chá, ele, só se for com Putin”.

Deste modo fazem os mais patéticos contorcionismos argumentativos para procurar a direita-mais-direita dentro do próprio partido Democrata, dividindo-o em imaginárias fatias, tendências, feitios até. E já proclamaram: Kamala Harris representa uma fação minoritária de extrema-esquerda do seu partido. Uma Passionária, por assim dizer. Extremista, radical de esquerda, divisiva – já ouvi, só hoje, todos estes atributos e mais alguns.

 Estamos no domínio do puro delírio. Da agitação de fantasmas. Ou, mais escatologicamente, da diarreia mental. Estão a conseguir igualar-se a uma personagem que frequentava muito o comentário televisivo há umas décadas, e proclamava “eu até vejo comunistas debaixo da cama!”.

 Os/as parlantes, ditos especialistas, imaginam moderadas alternativas, diagnosticam uma espécie de delírio dos democratas por apoiarem tão rapidamente a vice-presidente candidata, tocam os sinais de alarme. Se não há argumentos substantivos, recorrem à via do não-ser, que, já Parménides avisava há milhares de anos, não leva a lado nenhum.

O não-assunto preferido é o “ai valha-nos deus que Obama ainda não disse nada nem apoiou a candidata”. O silêncio de Obama passou a ser o tema. Sobre ele discorre-se em retorcidos esforços retóricos. A coisa está a atingir foros de debate bizantino. Ainda não desesperei pelo momento em que começarão a discutir o sexo dos anjos, quantos anjos se podem sentar na ponta de uma agulha e outros momentosos problemas, daqueles que tanto nos tiram o sono.

Hoje, vi e ouvi a prédica da dona Diana Soller. Custou, mas ouvi. Por curiosidade científica – se eu fosse mau diria curiosidade médica. E o seu excitado discurso ilustrou tudo o que escrevi atrás. Passou pela fase ignorante, entrou pela fase irritante, passou pela fase hilariante e terminou na fase repugnante. Ela exemplifica bem o que se está a passar pelas nossas televisões – e ainda a procissão vai no adro. Claro que, subliminarmente, não é só da situação norte-americana que se está a falar. Longe disso. Mas há sempre quem goste. Podíamos até, já que falamos em anjos, iniciar um debate sobre quantos anjinhos ainda aderem a este lixo argumentativo

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