O Escudo Europeu da Democracia protege quem?
(Pedro Tadeu, in Diário de Notícias, 17/07/2024) Na campanha de recandidatura à Comissão Europeia, Ursula von der Leyen prometeu criar o Escudo Europeu da Democracia para “lutar contra a desinformação e a influência estrangeira”. Ela adiantou que este escudo funcionará como uma vacina, que procurará “inocular” nos europeus uma defesa contra o “vírus” das notícias falsas. Suponho que quando Ursula fala de desinformação se esteja a referir a notícias que ela própria classifica como falsas e perigosas, já que não conheço nenhuma instituição com legitimidade democrática e com critérios coerentes que possa classificar, consensualmente, em todo o espaço da União Europeia, o que é ou não é “desinformação” - acho mesmo impossível criar algo como isso. Suponho que quando Ursula fala de influência estrangeira nefasta esteja a pensar em conteúdos favoráveis à Rússia, à China ou desagradáveis para Israel. Suponho que a influência senhorial e dominadora dos Estados Unidos ou da NATO nas políticas europeias esteja fora das preocupações da senhora… E a Hungria? Como será? Suponho que Ursula pensa ser correto mandar um dos seus comissários dizer às grandes companhias da internet (Google, Meta, X/Twitter, TikTok, etc.) que, se contratarem secretamente umas centenas de funcionários para apagarem todas as publicações inconvenientes, a Comissão, também secretamente, ignorará as suas próprias diretivas e não aplicará as multas (que podem ir até 6% das receitas anuais de cada uma destas companhias) previstas para violações da Diretiva dos Serviços Digitais. Elon Musk, o dono do X/Twitter, denunciou isto na sexta-feira passada, disse que as outras companhias aceitaram essa proposta e, até agora, não foi desmentido. Suponho que quando Ursula se oferece para nos inocular uma vacina contra “o caos” provocado pelas deep fakes se esteja a referir à generalização das experiências que, desde há um ano e meio, a UE, a Google e a Jigsaw estão a fazer com o que chamam de prebunking, que mais não é do que lançar conteúdos multimédia na internet que parecem iguaizinhos às fake news. A ideia é dizer às pessoas que uma informação falsa como aquela pode vir a aparecer. “Ainda não aconteceu, mas pode vir a acontecer” é o lema deste prebunking, a tal “vacina das ideias”, uma das ideias de propaganda e de manipulação da opinião pública pelo Estado mais ridículas e perigosas que já vi. Eu posso supor tudo o que Ursula pensa, mas isso não interessa para nada, pois ela faz o que quer com a sua fúria controladora e ainda recebe o beija-mão de dois terços da classe política europeia - sem que as populações sejam tidas ou achadas no assunto.
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