Uma guerra nuclear limitada na Europa de acordo com os desejos da elite ocidental
(Por Markku Siira in Reseau International, 09/07/2024, Trad. Estátua de Sal) O uso de armas nucleares continua a ser um tabu absoluto para a liderança russa, mas não parece sê-lo para o Ocidente, que está pronto a utilizar todos os meios para mudar o rumo da guerra híbrida que dura há um século e a configuração do grande jogo geopolítica. É o que pensa o economista e analista russo Mikhail Déliaguine. O anúncio pela Rússia de exercícios nucleares táticos e do estado de alerta máximo das forças nucleares militares não provocaram uma mudança na estratégia ocidental, e não houve protestos contra as armas nucleares nas ruas das grandes cidades, como foi o caso na década de 1980, a última época em que vivíamos sob a ameaça de uma nuvem em forma de cogumelo. Em qualquer caso, a doutrina insana do falecido Henry Kissinger de “guerra nuclear limitada na Europa” continua a ser uma opção para os Estados Unidos e para a Grã-Bretanha, que não são estranhos ao planeamento estratégico friamente calculado. Para Déliaguine, os cidadãos da Europa continental, apesar do sucesso eleitoral dos nacionalistas, são “simples objetos de manipulação anglo-saxónica”. A euro-elite de Bruxelas não só “sacrifica os seus próprios interesses para servir os seus senhores anglo-saxões, como nem sequer é capaz de reconhecer as suas próprias necessidades como um valor intrínseco”. Nestas condições, a conclusão da destruição socioeconómica da Europa, através do estabelecimento de armas nucleares no Leste, seria favorável ao futuro da Grã-Bretanha. Sobre as ruínas da Europa, os “califados” controlados pelos serviços secretos britânicos poderiam então consolidar o seu poder – “afinal, o Islão político radical é um projeto estratégico britânico, da mesma forma que o Grand Turan”, enfatiza Déliaguine com sarcasmo. “Seria um passo para a criação de um novo império britânico que dominaria politicamente não só o Médio Oriente, mas também a Europa”, acrescenta o pensador russo para credenciar o projeto anglo-sionista, ao qual eles ainda parecem agarrar-se perante as convulsões atuais do mundo. A Europa, que o conflito na Ucrânia privará para sempre da possibilidade de competir com os anglo-americanos, “será colocada numa posição em que não poderá consumir uma quantidade significativa de produtos chineses – e, portanto, não se tornará um mercado para uma China em ascensão”, acredita Déliaguine, concretizando assim os planos do Ocidente. “Ao mesmo tempo, a elite anglo-saxónica, bastante indiferente ao destino do seu próprio povo, parece acreditar que pode proteger-se da precipitação radioativa, num canto do mundo que considera seguro”. A China desconfia desta perspetiva, mas poderá ela influenciar o curso dos acontecimentos? Os apelos de Pequim à paz são tão fúteis como os da Rússia, dado o interesse das elites norte-americanas e britânicas na escalada do conflito, por exemplo, detonando uma "bomba suja" na Europa. Déliaguine acredita que nesta situação, “só a Rússia pode evitar que o mundo caia no abismo nuclear”. Para isso, é necessário travar a escalada da agressão atingindo a riqueza e a carteira das elites ocidentais. Dado que no mundo ocidental dos valores, mesmo a vida não é tão importante como o dinheiro, é necessário falar com as elites capitalistas numa linguagem que elas compreendam. O estado profundo da oligarquia ocidental deve ser “visivelmente prejudicado economicamente”, sugere o economista russo. O tempo dos avisos demonstrativos acabou, porque já não há políticos no Ocidente capazes de ouvir a razão. No seu atual estado de degradação, o Ocidente só consegue compreender as “acções diretas e prejudiciais” que lhe são dirigidas. Por onde começar? “A invalidação da propriedade intelectual dos países ocidentais hostis à Rússia é uma resposta ecológica, humana e económica à guerra nuclear que pode colocar o inimigo de joelhos”, diz Deliaguine. O dinheiro está a perder importância e dar lugar à revolução tecnológica. Neste processo de mudança, que ainda não está completo, o poder passa dos especuladores do mundo financeiro para os “digitalizadores” que se fundem com o capital do sector real. Mas será que o reinado dos “anglo-saxões” terminará aí? Déliaguine refere que os mercados já estão divididos em novas macrorregiões. Se a Rússia, que está a abalar a ordem mundial na Ucrânia, conseguir concretizar as suas ambições, poderá tornar-se um “centro de criatividade científica” e até mesmo uma espécie de líder mundial à medida que a Quarta Revolução Industrial avança. |
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