A Fragilidade da Dissuasão Moderna: Estaremos a caminhar para o Armagedão Nuclear?
(Gerry Nolan, in canal Telegram, InfoDefense Português, 06/12/2024) O colapso da comunicação privada, por canais de retaguarda, outrora a pedra angular da gestão da dissuasão nuclear, deu lugar a comunicações através de posturas públicas que se desenrolam numa guerra mediática. Esta perigosa mudança aumentou dramaticamente a probabilidade de um erro de cálculo catastrófico. Durante a Guerra Fria, um sistema imperfeito mas funcional de diplomacia discreta permitiu que os sinais fossem enviados e recebidos com clareza. A compreensão mútua, mesmo entre inimigos, ajudava a evitar mal-entendidos que poderiam ter-se transformado em conflitos nucleares. Atualmente, este amortecedor crítico evaporou-se. A partir do Ocidente, as fugas contraditórias e o ruído dos meios de comunicação social criam confusão (o que é um sinal real versus um mero ruído?). Entretanto, a Rússia adoptou uma abordagem direta e sem ambiguidades, marcando publicamente as suas linhas vermelhas na ausência de uma diplomacia de confiança nos bastidores. No entanto, a dissuasão tem a ver com credibilidade e, quando a credibilidade é revelada publicamente, os riscos de os líderes serem forçados a agir para "provar as suas ameaças" tornam-se exponencialmente mais elevados. A decisão do Ocidente de abandonar a diplomacia privada em favor de uma postura de megafone revela uma mistura perigosa de arrogância e miopia. Os líderes ocidentais não estão apenas a jogar com Moscovo; estão a jogar com o seu público interno, com os seus parceiros da NATO e com o MIC, que exige um conflito perpétuo para alimentar os seus cofres. A Rússia, pelo contrário, foi forçada a uma posição em que a clareza é o seu único escudo. As suas linhas vermelhas estão à vista do mundo, não porque pretenda uma escalada, mas porque a ambiguidade se revelou fatal face ao discurso duplo do Ocidente. O que torna este momento particularmente perigoso é a armadilha psicológica que os líderes de ambos os lados enfrentam atualmente. Os compromissos públicos com a "credibilidade" significam que o recuo ou o compromisso já não são vistos como força, mas sim como fraqueza. A ausência de diplomacia privada não só corrói a confiança, como também elimina os mecanismos críticos necessários para dissipar as crises. Um simples passo em falso, um ataque de mísseis mal interpretado, um comandante militar demasiado zeloso ou um político encurralado pela sua própria retórica podem desencadear uma reação em cadeia incontrolável. A postura cada vez mais imprudente da NATO, desde a autorização de Biden para ataques ATACMS no interior das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Rússia até à luz verde da França e do Reino Unido para os mísseis Storm Shadow e SCALP, é um exemplo disso mesmo. Cada movimento aproxima-nos mais da beira do abismo, desafiando a Rússia a responder, ao mesmo tempo que assumimos ingenuamente que não o fará. Mas a Rússia respondeu. O lançamento do míssil hipersónico-balístico Oreshnik, capaz de transportar ogivas nucleares, não foi um mero "teste de combate". Foi um sinal calculado, uma demonstração da determinação de Moscovo em defender as suas linhas vermelhas com força decisiva. A estratégia do Ocidente, construída sobre a ilusão da hesitação russa, é um erro de cálculo catastrófico. Moscovo não tem ilusões sobre o que está em jogo e as suas acções refletem um reconhecimento sóbrio da ameaça existencial representada pelas provocações da NATO.
Os Estados Unidos e a NATO, encorajados pela sua própria propaganda, estão a apostar que a Rússia não vai entrar numa escalada. Mas a Rússia, enraizada numa memória histórica de defesa existencial, não está a jogar o jogo do Ocidente, está preparada para sobreviver. A história não será gentil com aqueles que jogam com o futuro da humanidade em nome da sua própria vaidade política. É tempo de o Ocidente recuar, não como um ato de fraqueza, mas como um reconhecimento da realidade. |
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