Translate

segunda-feira, 24 de março de 2025

 

A Paz à vista

By estatuadesal on Março 19, 2025

(Joseph Praetorius, in Facebook, 18/03/2025, Revisão da Estátua)


Trump olha Putin como um igual? Olha-o como um estadista, em todo o caso, cujo Estado não depende de ninguém para entrar em guerra. Ao contrário das gentes em Kiev, em tudo dependentes do apoio externo para se baterem, fazendo-o, de resto, com desprezo assustador pelas vidas dos seus soldados.

As gentes em Kiev não estão, portanto, em posição de pôr condições. Podem, quando muito, chamar a atenção para este ou aquele detalhe, lançar este ou aquele apelo. Pôr condições, porém, é coisa a exigir que os ponham no seu lugar. Como fez Trump, justamente.

A troca de impressões de Trump com Putin - embora se não saiba tudo sobre ela, nem possa saber-se - revela as diferenças fundamentais entre os papéis e os respectivos protagonistas. A Rússia é sujeito. Os de Kiev são objeto. A Rússia tem projetos soberanos. Os de Kiev, têm meras oportunidades que, aliás, tendem a perder.

O cessar-fogo é pois, e para já, parcial. A Rússia poupará as infraestruturas de energia e outras. E os de Kiev não podem atrever-se a atacar com "drones" quaisquer instalações em território russo.

As questões da navegação no Mar Negro têm de ser mais cuidadosamente estudadas. Embora imediatamente. Como as demais ampliações do cessar-fogo.

Evidentemente, carece de sentido fazer cessar operações militares em qualquer quadrante, se isso significar o prosseguimento dos fornecimentos de armas por parte de quem queira prosseguir a guerra, à custa das vidas de soldados ucranianos.

O mesmo se dizendo quanto à mobilização, que se faz de modo tão ultrajante para os direitos das vítimas, enquanto os filhos das pretensas elites se passeiam em carros de alta cilindrada de Portugal à Polónia.

Há coisas a sustar desde já. Os norte-americanos não podem estabelecer conversações ao mais alto nível e conceder às gentes de Zelensky informações, satélites e técnicos de navegação que permitam atacar solo russo. Putin sublinhou a necessidade disso parar. Não há reparos a formular a essa posição.

As operações militares, terrestres, aéreas e navais, prosseguirão - com as acordadas exceções - enquanto o desenvolvimento do estudo das demais questões prossegue.

Quanto ao fundo das questões, Trump sabe bem que boa parte da população ucraniana fala russo e quer continuar a usar a sua língua.

Sabem os americanos perfeitamente, também, que a Igreja Canónica dirigida pelo Santo Metropolita Onofre não pode continuar a ver os seus bispos, sacerdotes e leigos espancados, presos e desaparecidos, não pode continuar a sofrer o roubo dos seus tesouros, o saque das suas bibliotecas, o desalojamento dos seus monges, a apropriação selvagem das suas igrejas e catedrais, com o comprometimento dos papistas do lugar - ou os equivalentes de Bartolomeu do Fanar - gente de sórdido oportunismo, de apavorante e cobarde violência, cuja conduta não pode deixar de ser repugnante aos olhos de qualquer americano, porque a América resulta da reivindicação - e concretização - da liberdade religiosa.

Não me venham com a treta da Igreja do Santo Metropolita Onofre ser instrumento de outro estado. Primeiro, por não ser verdade, depois, porque, desse ponto de vista, todas as estruturas do papismo haveriam de ser proibidas, por serem gente de estado alheio, como o sublinhava Locke na sua Carta sobre a Tolerância... Se insistirem nessa via, os resultados podem bem revelar-se surpreendentes.

A desnazificação, a desmilitarização, a neutralidade, a defesa das populações, das suas liberdades e dos seus direitos à existência - de tradição e cultura russa, de tradição e cultura romena, de tradição e cultura húngara, de tradição e cultura polaca - devem ser, no acordo de paz, cuidadosamente reguladas.

A Ucrânia, se conseguir existir - o que se não dá por demonstrado - não pode senão conceber-se, no plano interno, como estado federal - ou regionalizado, com muito amplas autonomias - e estritamente neutral no plano externo.

Os europeus devem ser mantidos longe disto, para não ouvirmos daqui a uns anos que tais acordos teriam sido mero truque para enganar russos. Esse é aliás um dos motivos pelos quais Zelensky não pode outorgar seja o que for. Para que não venham dizer-nos que é tudo nulo, por ter outorga de homem com mandato caducado.

A Europa perdeu importância. Foi vencida. Mas sobretudo perdeu credibilidade. Aviltou-se. É outra capoeira a cujas galinhas alguém arrancou as penas.

A paz fará agora o seu percurso, apesar de se manterem ainda algumas operações militares. E a Rússia festejará em paz a imposição da razoabilidade que tão dispendiosamente acabará por conseguir. À Europa resta-lhe, por ora, conformar-se à subalternidade onde se colocou e lhe cabe hoje em todos os quadrantes.

Sem comentários:

Enviar um comentário