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terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Sidónio e batatinha

por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso, 13/01/2018)

Daniel

Daniel Oliveira

Tendo Passos Coelho dado ao PSD um cunho ideológico que nunca tivera, seria expectável que o debate da sucessão passasse pelo recentramento da sua identidade. Pelo contrário, a grande discussão entre Rui Rio e Santana Lopes foi saber qual dos dois foi mais fiel às posições do líder cessante. Porque não há identidade alguma para discutir.

Costuma dizer-se que o PSD é o mais português de todos os partidos. De facto, do ponto de vista das grandes famílias políticas europeias, é filho de pai incógnito. Isto resulta do contexto histórico em que se fundou: quando ser de direita era impensável, quis aderir à Internacional Socialista enquanto herdava grande parte da base de apoio do Estado Novo.

Os contactos internacionais de Soares permitiram que fosse o PS a ocupar o espaço que Sá Carneiro desejou e os combates do PREC determinaram que fosse o PS a liderar o combate aos comunistas e à extrema-esquerda. Para o PSD ficou uma função: ser alternativa ao PS. Do ponto de vista prático, é o grande partido da direita portuguesa. Só que o equívoco do seu nome e da sua fundação e a necessidade de falar para uma maioria social de esquerda impedem-no de construir um discurso coerente. As suas lideranças formam-se nesta crise identitária que erradamente se toma por pragmatismo. E nesta disputa isso foi muito evidente, até porque Santana representa a tralha “passista” com a qual teve uma relação distante e Rio não parece querer representar nada.

Não é por serem do mesmo partido que Rio e Santana não conseguiram discutir grandes diferenças políticas. Até dentro dos pequenos partidos elas existem. A ausência de clivagens com substância não resulta da falta de clivagens, resulta da falta de substância. Sobrou o estilo e esse foi miserável. Por isso, nos dois penosos debates televisivos, ficámos a saber, para além de uns vaguíssimos estados de alma sobre economia, com quem Rui Rio foi almoçar e quantas vezes Santana disse que ia sair do PSD.

O problema não é os debates terem sido violentos. Ficaram a léguas do momento em que Seguro acusou Costa de representar os negócios. Mas essa acusação tinha interesse para o conjunto dos eleitores. As conversas entre Rio e Santana ficaram ao nível da concelhia e não deviam ter saído das sedes. A violência supera-se, a me

PSD e PS passam, ciclicamente, por momentos em que nos perguntamos se alguma vez recuperarão. Quando estão na oposição quase todos os candidatos a líder parecem péssimos. Depois, se o poder lhes cai no colo, logo ganham uma certa gravitas. O único a quem isso não aconteceu foi mesmo Santana Lopes. Só que se olha para estes dois e percebe-se que não vai sair daqui o próximo primeiro-ministro. Rui Rio, que cheguei a pensar que seria um autoritário destinado a representar o cansaço com regime, não tem carisma para ser o Sidónio Pais modernizado que desejava. O que diz de extravagante, que costuma vir de candidatos antissistémicos, não o diz por ser um populista, que até mostrou não ser. É só a autoconfiança de um amador a falar. E Santana continua Santana, um bobo cheio de malícia que, não sendo levado a sério, sabe que nem as suas baixezas o prejudicam. É uma anedota demasiadas vezes contada da qual já ninguém se vai rir. O que a campanha revelou dos dois explica porque se discutiu tanto o que cada um fará se perder as eleições. É, se formos realistas, o tema mais relevante para o futuro próximo do PSD.

Oh, how I love the smell of napalm in the morning!

por estatuadesal

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 13/01/2018)

mst

Miguel Sousa Tavares

1 Não há como passar um tempo fora da querida pátria para voltar e perceber que nada do que acontece no mundo é mais importante do que os ‘casos’ que nos consomem e ocupam um dia atrás do outro. Qual ameaça norte-coreana, qual acordo de Governo na Alemanha, qual discussão aberta sobre a sanidade mental do Presidente americano, qual guerra surda de poder no Médio Oriente, qual desmoronar da catástrofe chamada Theresa May, qual visita de Macron à China, no papel de Senhor Europa? Nada disso serve para ocupar a primeira parte de um telejornal, a primeira parte de um jornal diário. Deixemos o mundo de fora, temos coisas bem mais urgentes e interessantes com que nos ocuparmos!

Por exemplo: o suicídio público a que o PSD se entregou, numa longa, absolutamente indigente e, portanto, palpitante, campanha eleitoral para escolher quem será o cordeirinho que António Costa irá comer de ensopado daqui a menos de dois anos. Mas essa palpitante campanha acontece apenas entre eles, como se ganhar o partido fosse suficiente para ganhar o país. Na TVI, apesar dos esforços de Judite de Sousa, nenhum dos dois candidatos pareceu preocupado em atrair a atenção do país. Um peru e um galo combatiam dentro de uma capoeira — que é, por definição, um local fechado. E o tema principal da discussão remetia-nos de volta a 2004 e às “trapalhadas” do Governo de Santana ou a saber quem tinha sido mais leal ao Governo de Passos Coelho. Mas haverá por aí alguém que tenha saudades de 2004 ou de 2014?

2 Grande questão jurídico-constitucional é saber se a PGR pode ou não ser reconduzida após o mandato de seis anos previsto na Constituição. Como sempre os nossos mestres juristas gostam que as leis nunca sejam claras, mas sim ambíguas, o que lhes dá duas oportunidades de brilhar: quando as escrevem e, depois, quando são chamados a interpretar o que escreveram. Não é, seguramente, deficiência técnica: é um modo de vida. Neste caso concreto, a ambiguidade consiste em a letra da lei permitir a recondução e o espírito da lei apontar para o oposto. O que deixa a questão para ser resolvida no âmbito de uma decisão política, que cabe ao Governo e ao PR.

Eis o que o PSD — que nomeou a actual PGR — mais queria. Não podendo agora reconduzi-la como fez com o governador do Banco de Portugal, que reconduziu sem saber se voltaria a ser Governo, o outro “partido de governo” quer, todavia, manter um “direito de pernada” sobre a nomeação de futuros PGR. Eles podem nomear; quem vier a seguir só pode reconduzir quem eles nomearam, sob pena da mais grave das suspeições: querer controlar o Ministério Público. Ora, eu acompanho o consenso geral sobre a boa prestação de Joana Marques Vidal — sobretudo sobre a discrição e ausência de vedetismo com que vem exercendo o cargo e a sabedoria com que gere essa ingovernável instituição que é o MP. Mas já não acompanho o resto, que é apenas um argumento ad terrorem: o de dizer que a sua não-recondução equivaleria a afastar quem se atreveu a “enfrentar os poderosos”. Tal não é verdade, desde logo porque Sócrates, por exemplo, já tinha sido alvo do MP no processo Freeport. Mas não é verdade, sobretudo, porque nenhum PGR controla, de facto, o Ministério Público. Com maior ou menor protagonismo, limitam-se a desempenhar o papel de uma rainha de Inglaterra, com direito anual a um Discurso da Coroa escrito por ela. Duvido que, enquanto magistrada, Joana Marques Vidal tivesse deixado a investigação da ‘Operação Marquês’ durar tanto tempo e atravessar tantas peripécias que em nada prestigiaram a instituição. Ou que tivesse subscrito a junção da ‘Operação Marquês’ à do BES e da PT, que nada têm que ver com ele directamente e que apenas servirá para eternizar o julgamento, criando um daqueles megaprocessos que tanto se diz deverem ser evitados, mas imposto pela tentação de um magistrado de se arvorar em justiceiro de todo o regime. Ao contrário do que os juízos apressados gostam de concluir, no nosso sistema judiciário, o perigo não está em o PGR ficar dependente do poder político, mas sim em ser dependente e refém dos magistrados que alegadamente chefia. E isso faz da escolha de um PGR uma questão menos importante do que se quer fazer crer.

3 Verdadeiramente menor, mesquinho mesmo, é o caso da ida ao futebol do ministro Mário Centeno com o filho. O jornalismo terrorista do “Correio da Manhã” e a turba-multa das redes sociais acham que um ministro só tem duas hipóteses: ou não vai ao futebol ou vai para a bancada para ser sovado durante 90 minutos pela coragem colectiva dos pacatos cidadãos que habitam os nossos estádios. Depois admirem-se se qualquer dia só quiser ser governante quem tiver a ganhar com isso. Aí está o PSD para o exemplificar.

4 O primeiro presidente do Novo Banco, Vítor Bento, veio agora admitir que a resolução do BES, que lhe deu origem, vai custar-nos dez mil milhões (menos um do que a minha própria estimativa). Mas, acrescentou ele, não havia alternativa. Como? Terei lido bem? Dez mil milhões é alternativa a alguma coisa? Gostaria agora de ouvir agora a opinião dos que louvaram a “coragem” da “solução” que Carlos Costa, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque encontraram para o BES... E isto não é um julgamento sobre a gestão do BES, mas sobre a sua resolução e a forma como foi criado e gerido o Novo Banco. Acharam que era só mudar a administração e o nome e emprestar-lhe cinco mil milhões — que, depois, seriam obviamente devolvidos aos contribuintes. O resultado está à vista. Mas não há maneira de aprendermos: aí está o Montepio para o exemplificar, mais uma vez.

5 Nos Globos de Ouro de Hollywood o traje obrigatório para as mulheres era o vestido preto, símbolo da campanha “Time’s Up”, contra os violadores, os abusadores, os assediadores sexuais machos da indústria cinematográfica americana. Na plateia — onde, segundo a nova polícia de costumes, se sentavam e aplaudiam alguns deles ainda não expostos publicamente — tudo o que era actriz consagrada, actriz na berra ou candidata a actriz usava o símbolo da campanha: #metoo. Todas — as passadas, as presentes e as futuras — autodeclaradas vítimas dos abusos de Harvey Weinstein e outros abusadores como ele. Todas jurando agora terem sido alvo de propostas desonestas, beijadas sem consentimento, apalpadas, encostadas à cama sem defesa. E quantas, pensei para comigo, treparam assim no meio sem nunca terem aberto a boca antes de treparem? E quantas, no clima de caça aos abusadores agora instalado, se atreverão a não dizer “me too” e a vestir a farda oficial se quiserem trepar no meio? Pensamentos obscenos, reconheço, que provavelmente me tornarão alvo de uma denúncia-crime da nossa sempre vigilante Comissão para a Igualdade. Mas eis que o manifesto das 100 actrizes, escritoras e produtoras francesas foi muito além dos meus obscenos pensamentos, ao denunciar “as mulheres auto-retratadas como pobres indefesas sob o mando dos diabos falocratas... numa nova moral vitoriana oculta sob esta febre de levar os porcos ao matadouro”. Ou, como disse a escritora Abnousse Shalmani, uma das signatárias, “este feminismo transformou-se num novo estalinismo, com todo o seu arsenal: acusação, ostracismo, condenação”.

Para já, boicota-se o Polanski, esse porco violador que deixou uma obra inesquecível no cinema. A seguir, virá o Nabokov e a sua “Lolita”, o Hemingway e sua jovem italiana da Finca Vigia, o García Márquez e a sua jovem puta triste, e por aí fora — na literatura, no cinema, na pintura — até que não reste memória de algum génio considerado lascivo. E viveremos todos de consciência tranquila. Até mesmo as mulheres que assediam homens e que oficialmente não existem.

(Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia)

Entre as brumas da memória


Espanha, se as legislativas fossem amanhã

Posted: 12 Jan 2018 01:49 PM PST

Os Ciudadanos somam e seguem para a frente do pelotão.

Além disso: «Resulta revelador que la suma del centroderecha supera a las fuerzas de izquierdas en unos 14 puntos, y rompe así el convencionalismo aceptado durante años de que en España era mayoría el electorado de centroizquierda. El retroceso de Podemos, apenas cuatro años después de su sorprendente irrupción en la política, y el estancamiento del socialismo liderado por Pedro Sánchez obligan con más urgencia que nunca a la izquierda española a replantearse sus prioridades y proyectos en la España del siglo XXI.»

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Onze anos depois do referendo sobre a IVG

Posted: 12 Jan 2018 11:15 AM PST

Santa Maria fecha consulta de interrupção de gravidez.

Quase 11 anos depois do referendo sobre a IVG, isto é triste e grave, muito grave. Sejam quais forem os fundamentos pata o emaranhado de razões e responsabilidades apontadas neste texto, regredimos – sem desculpas aceitáveis.

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Trump: e o mundo assiste a isto, impotente

Posted: 12 Jan 2018 06:28 AM PST

Nações Unidas dizem que palavras de Trump são "racistas".

«"Por que razão queremos pessoas do Haiti e de 'países de merda' em vez de noruegueses?", disse o presidente dos EUA.»

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Votei, mas não inalei

Posted: 12 Jan 2018 03:03 AM PST

«Ontem debateu-se (escrevo esta crónica na quarta-feira) na Assembleia da República as propostas do BE e do PAN sobre os projectos de lei para legalizar a canábis para fins medicinais. O CDS e o PSD estão contra. É pena. Até porque a primeira autorização para plantação de canábis para fins de medicinais em Portugal, para exportação, foi dada em 2014.

Acho que o PSD e o CDS podiam ter sido convencidos se lhes disséssemos que é tradição fumar charros em Portugal. Nas Festas de Reis, na aldeia de Vale Salgueiro, em Mirandela, as crianças são encorajadas a fumar cigarros, uma tradição que teve direito esta semana a uma reportagem da Associated Press. "Pais encorajam os seus filhos, alguns com menos de cinco anos, a fumar cigarros." A reportagem salienta que a idade legal para adquirir tabaco em Portugal é 18 anos, "mas ninguém proíbe os pais de darem cigarros às crianças e as autoridades não intervêm para parar esta prática". Os entrevistados justificam a mesma com os costumes locais. Que fixe. Se calhar, os miúdos injectam-se no Carnaval e vão às meninas na Páscoa.

Nada como imaginar um roteiro tradicional, como as crianças a arder de Vila Nova de Sardão, o "striptease" forçado de septuagenárias em Poço de Sete Mães ou a largada de cabrestos e grávidas bêbedas de Fonte de Castelo Coiso.

Os deputados do PSD, pelo menos alguns dos que conheço, votam contra a canábis para uso medicinal, mas usam para fins recreativos. O PSD e o CDS são contra a utilização em Portugal de canábis para fins medicinais, mas autorizaram plantações onde produzimos canábis para venda para fins medicinais noutros países. É espectacular, somos grandes exportadores de marijuana para uso farmacêutico, mas segundo o PSD e o CDS aquilo só faz mal. Ainda recentemente, a maior plantação de canábis em Portugal foi anunciada no Web Summit. É proibir essa malta toda de cá entrar e deitar fogo a estes projectos todos. Porque não vamos deixar produzir cá uma coisa que até é proibida para efeitos medicinais.

Recordo que, em 2012, a JSD, na altura liderada por Duarte Marques, apoiou a Marcha Global da Marijuana em Lisboa. Grande maluco. A desculpa do PSD para chumbar a legalização da canábis para uso medicinal é: "Pode causar habituação." Ou seja: "Coitados, é verdade que a canábis ajuda no sofrimento de cancros terminais, mas depois essas pessoas podem ficar agarradas." Provavelmente, vão para o céu fazer filtros.

Resumindo, no país de horas e mais horas de publicidade ao cogumelo do tempo e ao Calcitrin, que é vendido directamente ao público, sem intermediação das farmácias, nem pensar em permitir a canábis para efeitos terapêuticos. Não aguento tanta hipocrisia, preciso de fumar uma.»

João Quadros

Lagoa Azul de Sintra: um pequeno paraíso perto de Lisboa

por admin

Morar em Lisboa e nunca ter ido passar um dia na Lagoa Azul é quase um crime. A poucos minutos da capital, este pequeno paraíso oferece aos seus visitantes óptimos momentos para relaxar, contemplar a Natureza e até existe a possibilidade de praticar vários desportos. A Lagoa Azul é procurada quer por veraneantes solitários em busca de sossego, quer por grupos desportivos que dali arrancam para passeios de BTT, quer por caminhantes que fazem observação de espécies, e por famílias que aproveitam o espaço para se deliciarem com piqueniques e brincadeiras ao ar livre.

Lagoa AzulLagoa Azul

A zona é de fácil acesso pedestre e de carro, e tem algum espaço para estacionamento, mas fica facilmente congestionada, por isso, para quem quiser desfrutar da área em pleno, o melhor é evitar alturas de pico de frequência, como os fins-de-semana à tarde, sobretudo se estiver bom tempo. Leve sapatos e roupa confortável (agasalhe-se de Inverno, pois a zona fica bastante fresca) e entregue-se às actividades na natureza. Pode entreter-se a apanhar pinhas com crianças, a caminhar, a apanhar sol, a aproveitar a sombra e o ar fresco, ou a observar a rica fauna da Lagoa.

Lagoa AzulLagoa Azul

Dentro de água, encontra, por exemplo, patos, cágados, tartarugas, mexilhões de água doce, carpas e percas. Já existiram também alforrecas de água doce, lagostins e camarões, mas há alguns anos que nenhuma destas espécies é avistada. Fora de água, as espécies mais características são o chapim-rabilongo, o chapim-carvoeiro, o pombo-torcaz, e por vezes até o gavião dá um ar de sua graça, para além de outras aves mais comuns que podem ser encontradas.

Lagoa AzulLagoa Azul

O movimento acentuado de visitantes da Lagoa Azul nem sempre tem sido positivo, pois é comum encontrar lixo e detritos deixados por grupos, fato que tem contribuído para a alteração e redução da fauna da Lagoa. A água e a envolvente têm sido sujeitas a acções de limpeza por parte das entidades municipais e de voluntários, no sentido de proteger o local e reduzir a probabilidade de incêndios. Ainda assim, os banhos na lagoa não são recomendáveis actualmente devido à poluição e contaminação da água.

Formação da Lagoa Azul

A existência da Lagoa Azul deve-se à alteração dos granitos do maciço de Sintra que, por acção dos diversos agentes erosivos, originam areias e argilas que vão revestir e impermeabilizar o fundo da lagoa evitando que a água que aí se acumula não escoe, sendo aqui o papel das argilas fundamental graças à reduzida dimensão das suas partículas.

Fauna e Flora

A represa tem vários animais como os peixes gambusia (Gambusia holbrooki) que é uma espécie não indígena, introduzida, a perca-sol (Lepomis gibbosus) e a boga portuguesa (Chondrostoma lusitanicum), e é um local com muitas rãs, sendo fácil ver girinos na época de reprodução. Na albufeira, existe o cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), espécie em regressão. A ocorrência neste local é justificada pela possível reintrodução a partir de exemplares de cativeiro. Na Lagoa Azul foi detectada a presença da espécie Trachemys scripta elegans (tartaruga americana).

Lagoa AzulLagoa Azul

Entre as espécies de aves características deste local, podem referir-se o pombo torcaz (Coplumba palumbus), o chapim-carvoeiro (Parus ater) e o chapim-rabilongo (Aegithalos caudatus), bem como diversos passeriformes mais comuns. Na Albufeira, existem também patos selvagens da espécie pato-real (Anas platyhynchos). Observam-se várias plantas aquáticas e outras espécies como o Pinheiro manso (Pinus pinea); Carvalho-negral (Quercus pyreneica); Carvalho-alvarinho (Quercus robur); Carvalho cerquinho (Quercus faginea); Cravo-romano (Armenia pseudarmeria); Tojos (Ulex sp.); Estevas (Cistus sp.); Urze (Calluna vulgaris); Carqueja (Genista tridentata); Cravo de Sintra (Dianthus Cintra).

Coordenadas da Lagoa Azul:

Estrada da Lagoa Azul, Sintra

38° 46' 5.0333'' N

9° 23' 59.3387'' W

A geração delapidada

por estatuadesal

(António Guerreiro, in Público, 12/01/2018)

Guerreiro

António Guerreiro

Há uma geração jovem que não tem direito a existir, que não pode ter esperanças e ideais como tiveram aqueles que de vez em quando lhe passam certificados de inexistência, com umas alíneas a nomear as excepções.


Anunciando a intenção de perscrutar o futuro, de “saber o que aí vem e quem serão os grandes protagonistas das mudanças que se seguem”, e evocando a seguir uma sabedoria antiga segundo a qual “os velhos dão invariavelmente lugar aos novos”, publicou o Expresso, na sua última edição, o resultado de um desafio lançado “aos nossos consagrados” para identificarem uma figura que seja uma promessa que no futuro se irá cumprir. Este exercício é um entretenimento, um jogo que só não é tão inocente como parece porque sabemos bem que esta corrida para não falhar a nova época é uma forma de nos roubar o tempo, transformando-o imediatamente em história.

No jogo, notei que dois dos “nossos consagrados”, António Lobo Antunes e António Barreto, apostaram respectivamente no poeta João Luís Barreto Guimarães, que nasceu em 1967 (tem 50 anos), e no historiador, ex-deputado europeu e fundador do Livre, Rui Tavares, que nasceu em 1972 (tem 45 anos); notei ainda que o artista Igor Jesus, que ainda não tem 30 anos, apostou no consagrado Rui Chafes, que nasceu em 1966, invertendo assim os papéis; notei que Jorge Silva Melo levou o jogo a sério e apostou em três jovens (“gente decidida, tenaz, inventiva”, isto é, com qualidades próprias de um espírito juvenil) que “estão a começar, claro, não têm casa, não têm dinheiro, não têm nada” (são eles João Pedro Mamede, Nuno Gonçalo Rodrigues e Catarina Salgueiro); notei ainda que o professor Carlos Fiolhais escolheu uma bióloga de 44 anos, Mónica Bettencourt Dias, que já é directora do Instituto Gulbenkian de Ciência.

A julgar pelos resultados deste “jogo”, que tem a eloquência dos sintomas, a não ser no teatro o futuro não pertence aos jovens. Há uma geração inteira de espoliados e obrigados ao silêncio que, em dia de festa (o Expresso fazia 45 anos), pode ter direito a ser nomeada por um patriarca que selecciona algum dos seus elementos para ilustração dos filisteus. E quando os patriarcas escolhidos para a missão envergam a máscara da “experiência”, da maturidade, da razão e da boa vontade (poderosa ideologia!), então não aparece sequer um exemplar jovem no horizonte e todo o filistinismo surge encarnado na personagem de um velho (a velhice que não tem idade), para o qual o futuro só pode pertencer a um “realista sensato” (é assim que António Barreto define Rui Tavares, que já não é jovem e envelhece bastante neste retrato) ou a um poeta que, pelo que nos diz António Lobo Antunes, é um homem com qualidades, adorável, modesto e quente (foi esta a impressão que deixou ao Grande Escritor, quando o visitou em Lisboa, acompanhado pela mulher e pela filha).

Eis como de um jogo inocente se chega a um assunto sério: há uma geração jovem que não tem direito a existir, que não pode ter esperanças e ideais como tiveram aqueles que de vez em quando lhe passam certificados de inexistência, com umas alíneas a nomear as excepções. É uma geração privada de época, de sonhos, de projecções de um futuro possível.

Apetece evocar as palavras que serviram ao linguista russo Roman Jakobson para definir o que aconteceu aos poetas russos dos anos 1920, Maiakovski, Blok, Essenine e outros. Eles pertenceram a uma “geração que delapidou os seus poetas” — aqueles que, tendo participado na revolução, foram capazes de compreender, com uma consciência trágica, o rumo que esta tinha seguido. Morreram todos entre os trinta e os quarenta anos. A esta juventude de hoje, delapidada, rasurada, silenciada, já não é concedido o sentido do trágico, nem sequer a vontade de gritar que “a pátria da criação é o futuro, de onde sopra o vento dos deuses do verbo” (Maiakovski).