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quinta-feira, 23 de novembro de 2017

O nervosismo dos exploradores

Ventos Semeados

Recuperar utopias para um mundo delas tão carecido.

Sabemos bem qual a maior preocupação do Saraiva da CIP e dos demais muchachos das confederações patronais: eles sabem que lá virá o dia em que se reverterão as «reformas» implementadas pelo governo anterior na legislação laboral. O que significará um maior equilíbrio entre direitos e deveres de quem explora e de quem é explorado, limitando a precariedade e a facilidade em despedir por dá cá aquela palha.

O coro de carpideiras comandado pelo Saraiva a respeito do salário mínimo nacional é uma falácia, que até as próprias instituições europeias desmascaram: nas previsões para 2018 aponta-se para um crescimento de 2,3% na produtividade e de apenas 1,8% na atualização salarial. Ou seja, assim de mansinho, os patrões embolsam mais 0,5% nesse diferencial entre as mercadorias e serviços produzidos e as remunerações correspondentes de quem os tornou possíveis.

Na mais do que desigual correlação entre os rendimentos do Capital e do Trabalho, os primeiros tenderão a aumentar ainda mais em detrimento dos segundos. Salvo se… que é precisamente o que põe Saraiva & Cª à beira de um ataque de nervos.

Estejamos atentos, mas não nos enervemos desnecessariamente!

por estatuadesal

(Por Jorge Rocha, in Blog Ventos Semeados, 22/11/2017)

infarmed

Um amigo, que muito prezo, manda-me uma mensagem a confessar-se inquieto com o rumo que vão tomando as coisas nos últimos dias, com militares, forças de segurança e magistrados a meterem-se na fila para alcançarem o tratamento preferencial, que dizem estar a ser conseguido pelos professores. Haverá novamente uma convergência negativa entre as direitas e os sindicatos, principalmente os da CGTP, para derrubarem este governo a exemplo do que conseguiram anos atrás, quando se tratou de inviabilizar a continuidade do liderado por José Sócrates?

Estou otimista, como de costume, e subscrevo o reparo hoje assinado por Rui Tavares que, a propósito do Brexit - mas servindo igualmente para os meus propósitos! - lembram que as emas nunca andam para trás.

As notícias positivas até vão prosseguindo, sem precisarmos de estar sempre a referir a redução do número de desempregados nos Centros onde se registam - que, uma vez mais, se confirmou!. Por exemplo, apesar das desconfianças justificadas de comunistas e bloquistas a propósito das benesses dadas ao sistema bancário, a maioria parlamentar acaba de acordar o abatimento das imparidades ao longo dos próximos dezanove anos, conseguindo-se uma situação de equilíbrio para que os créditos mal parados dos bancos sejam corrigidos num prazo adequado. Na aprovação do Orçamento Geral de Estado para 2018 também não existiram quebras de solidariedade das esquerdas, apesar da questão do descongelamento das carreiras dos professores ficar adiada para as negociações aprazadas para 15 de dezembro.

Sem ter a ver diretamente com a maioria parlamentar, mas dela constituindo consequência gratificante, fica a ascensão de Portugal ao top15 dos países da OCDE onde mais avançada se revela a experimentação e a inovação na Administração Pública graças ao Simplex. E se a Volkswagen era notícia meses atrás a propósito da luta laboral, que até assustava demasiadamente quem deveria ter contida serenidade, quase fica remetido para as páginas interiores e em poucas linhas, o acordo firmado entre a Administração e o Comissão de Trabalhadores (a ser validado daqui a uns dias), que já garante um ritmo diário de 800 novos carros do modelo T-Roc a saírem das linhas de produção, graças também ao esforço dos mais de dois mil novos trabalhadores recrutados desde o início do ano.

Perante tudo isto que resta à oposição? Santinho Pacheco, deputado socialista, deu uma boa imagem do atual comportamento das direitas: “já conhecíamos várias formas de fazer política mas esta, tipo furão, de entrar nos buracos todos e ver de onde sai coelho, é novidade.”

Eles buscam de facto matéria que lhes sirva de arma de arremesso, mas vão vendo a prometedora pólvora revelar-se bem seca. Claro que, qualquer apoiante da maioria parlamentar, dispensava bem esta decisão de transferir o Infarmed para o Porto sem previamente discutir essa possibilidade com os principais interessados - os seus 350 trabalhadores - e, aparentemente, só para satisfazer a vaidade de Rui Moreira, que se comportou para com os socialistas da forma que não nos esqueceremos. Ou que muito falta fazer na questão da evasão fiscal para os «paraísos» europeus ou americanos, por onde se esvaem anualmente mais de vinte mil milhões de euros. Ou seja mais de trinta vezes aquilo que os professores reivindicam numa luta, que porém merece grandes reservas da minha parte. Recordo o que escrevi noutro texto: como podem sindicatos de esquerda violar o principio de “a trabalho igual, salário igual”!

Igualmente inquietante será a tomada de posse de Teresa Anjinho como provedora-adjunta da Justiça. Já temos os tribunais tão pejados de gente de direita, senão mesmo da que se revela mais extrema - como se verificou com o nunca por demais lembrado juiz Neto Moura - que ver mais uma destacada cúmplice de Portas & Cristas abocanhar tal função permite-nos duvidar do que serão as decisões futuras do órgão, que passa a codirigir.

Confiemos, no entanto, em Isabel do Carmo, que olhando para estas direitas, lhes reconhece escassas capacidades para serem condutoras de massas. E façamos votos para que assim continue a suceder...

A Pátria e a amnésia coletiva

por estatuadesal

(Por Carlos Esperança, in Facebook, 22/11/2017)

O julgamento de Sócrates é a cortina de fumo que esconde esta direita da imensa teia de corrupção em que se atolou.

Esta direita que fez de Passos Coelho primeiro-ministro, de Relvas o ministro de que o PM era devedor e de Cavaco o PR e fiador de ambos, conseguiu vender a ideia de que a crise financeira surgida na sequência da falência do banco americano Lehman Brothers foi em Portugal da exclusiva responsabilidade do governo.

A esquerda, dividida entre a que apoiou circunstancialmente esta direita no chumbo ao PEC IV, de graves consequências para a vida dos portugueses, e o PS, a carpir a derrota eleitoral, não resistiu à barragem do PR, da comunicação social e das redes sociais. Não conseguiu desmascarar a direita, que apenas queria o poder para desmantelar o Estado.

O País ainda hoje ignora o terramoto que atingiu o sistema financeiro mundial e julga a crise como exclusiva de Portugal. Ignora os problemas da Grécia, Irlanda, Itália e outros países, onde a direita governava, nomeadamente a Espanha, que conseguiu uma solução parecida com a do PEC IV para fugir à implacável Troika, essa perversa trindade que fez as delícias de outra – Cavaco, Passos & Portas.

Hoje, com as acusações ao ex-PM Sócrates, esquece-se a situação deplorável do sistema bancário legado pela direita, o caso dos submarinos, a casa da Coelha, as ações da SLN, a Tecnoforma, as ruinosas privatizações da ANA, CTT, Águas de Portugal, TAP, BPN, BES, Banif, vistos Gold, etc., etc., e os nomes das estrelas ocultas da galáxia cavaquista.

É tempo de a esquerda, em vez de se digladiar entre si, desmascarar os coveiros do País e os que se preparam para os substituir numa manhã de nevoeiro onde qualquer cadáver que ressuscite será anunciado como um D. Sebastião e promovido a salvador da Pátria.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Clientelas e imbecis


por João Mendes

Fotografia: Pedro Granadeiro/Lusa

Segundo António Leitão Amaro, o deputado do PSD que há uns dias afirmou na SIC-N que o governo Passos/Portas havia proibido a legionella, o governo "É governado pelas pressões de interesses particulares".

Fico logo a pensar com os meus botões: quem é que andará a mamar na teta dos nossos impostos, com o alto patrocínio do Costa? Até que me cai a ficha e percebo que o deputado laranja se refere a megalomanias como a reposição de salários, o descongelamento de carreiras ou a redução de impostos para as classes mais desfavorecidas, esses ninhos de carros de alta cilindrada, evasão fiscal e férias nas Caimão. Ler mais deste artigo

A morte da executiva

Rodrigo Sousa Castro adicionou 2 fotos novas.
6 h ·

A morte da executiva
Foto de Rodrigo Sousa Castro.Foto de Rodrigo Sousa Castro.
Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou. Deu um gemido e apagou-se.
Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso Portal.
Ainda meio tonta, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas. Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava a acontecer, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:
- Enfermeiro, eu preciso voltar com urgência para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque o meu seguro de saúde é Platina, e isto aqui está a parecer-me mais a urgência dum Hospital público. Onde é que nós estamos?
- No céu.
- No céu?...
- É.
- O céu, CÉU...?! Aquele com querubins, anjinhos e coisas assim?
- Exacto! Aqui vivemos todos em estado de graça permanente.
Apesar das óbvias evidências, ausência de poluição, toda a gente a sorrir, ninguém a usar telemóvel, a executiva bem-sucedida levou tempo a admitir que havia mesmo batido a bota.
Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana iria receber o bónus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa.
E foi aí que o interlocutor sugeriu:
- Talvez seja melhor a senhora conversar com Pedro, o coordenador.
- É?! E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
- Assim? (...)
- Quem me chama?
A executiva bem-sucedida quase desabava da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.
Mas, a executiva tinha feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu logo:
- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...
- Executiva... Que palavra estranha. De que século veio?
- Do XXI. O distinto vai dizer-me que não conhece o termo 'executiva'?
- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.
Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial.
Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.
- Sabe, meu caro Pedro. Se me permite, gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para essa gente toda aí, só na palheta e andando a toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistémica.
- É mesmo?
- Pode acreditar, porque tenho PHD em reorganização. Por exemplo, não vejo ninguém usando identificação. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?
- Ah, não sabemos.
- Percebeu? Sem controlo, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar em anarquia. Mas podemos resolver isso num instante implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.
- Que interessante...
- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização e um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.
- !!!...???...!!!...???...!!!
- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Accionista... Ele existe, certo?
- Sobre todas as coisas.
- Óptimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, parece-me extremamente atractivo.
- Incrível!
- É óbvio que, para conseguir tudo isso, teremos de nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias da praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho a certeza de que vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar num Turnaround radical.
- Impressionante!
- Isso significa que podemos partir para a implementação?
- Não. Significa que a senhora terá um futuro brilhante... se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque acaba de descrever, exactamente, como funciona o Inferno...
Max Gehringer
(Max Gehringer (Jundiaí, Brasil,1949) é administrador de empresas e escritor, autor de diversos livros sobre carreiras e gestão empresarial.)