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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Vídeo: uma corda e muita coragem por cima das ondas da Nazaré

por admin

No dia 30 de Dezembro de 2017, um grupo de Slackliners chamado “Western Riders” instalou uma corda que liga o Penhasco da Praia do Norte na Nazaré à Pedra do Guilhim, local famoso pelas diversas fotografias virais do impacto de ondas gigantes e que permitirá agora ousadas travessias. O Slackliner protagonista deste primeiro vídeo demonstrativo é Emerson Machado, de 28 ano, natural do Brasil.

De acordo com Emerson Machado, membro dos “Western Riders”, a linha foi instalada dias antes de uma grande incursão chegar à Nazaré, tendo sido tudo cuidadosamente planeado e verificado inúmeras vezes, de modo a garantir o máximo de segurança possível a quem realizar esta aventura. “É um risco calculado, não somos loucos como pode parecer à primeira vista, na realidade, tudo foi planeado ao mínimo detalhe” diz o membro da equipa de Slackline, “ao longo de dois dias, realizámos dezenas de caminhadas entre o penhasco e o Rock na Nazaré, e ninguém se feriu durante esse período, é relativamente seguro quando realizado por uma equipa experiente, trabalhando em conjunto com organização e cautela”, acrescenta.

Este desporto radical que consiste em fazer travessias sobre cordas bambas chama-se “Slackline” e a versão que podemos assistir neste vídeo, realizada na Praia do Norte, é apelidada de “Highlining”. Tanto o Slacklining como o Highlining envolvem bastante equilíbrio, coragem e uma corda suspensa acima do solo (ou acima do mar neste caso) e ancorada entre dois pontos. O resultado é pura magia para quem assiste e um desafio constante para quem pratica, tanto a nível físico como mental.

A Praia do Norte, perto da vila de Nazaré, tornou-se famosa pelas suas enormes ondas, principalmente desde que o surfista havaiano Garret McNamara estabeleceu o recorde em 2011, para a maior onda que já surfou, 23,77 metros. Desde então, o lugar tem atraído bastantes aventureiros dos mais diversos desportos radicais. Ainda na passada quinta-feira, 18 de Janeiro, a Nazaré voltou a viver outro dia memorável e desde vez com um feito protagonizado em português — embora ainda não existam dados oficiais, é possível que Hugo Vau tenha surfado uma onda de 35 metros, na Praia do Norte.

Como se formam as ondas da Nazaré?

Tornaram-se num autêntico postal turístico da Nazaré e, depois de McNamara ter aqui surfado uma das muitas famosas ondas gigantes próprias deste local, são aos milhares os turistas que passaram a visitar a Nazaré todos os anos. Alguns chegam aqui para surfar, outros chegam apenas para ver quem surfa. Descubra como se formam as ondas mais famosas de Portugal. A ondulação do largo que chega à zona costeira propaga-se mais rápido sobre o Canhão da Nazaré, onde a água é mais profunda, do que na plataforma continental adjacente, onde a água é relativamente pouco profunda.

Esta diferença na propagação da onda, dependendo da profundidade sobre a qual ela se move, modifica a orientação das linhas de cristas e cavas (dizemos que a onda é refratada pela topografia, tal como os raios de luz são refratados quando passam do ar para a água), criando zonas onde a onda converge.

Esta convergência focaliza a energia da onda o que se traduz-se numa amplificação da onda. Este processo parece ser particularmente eficaz na zona ao largo da Praia do Norte, durante os períodos de ondulação (swell) predominante de Noroeste ou de Oeste, e em algumas simulações efetuadas, recorrendo a modelos numéricos, sugeriram que uma onda ao largo com 10m de altura pode ser amplificada por este processo, atingindo cerca de 20m na área da Praia Norte.

Este processo é comum em outros canhões submarinos mas o que parece tornar a Nazaré especial é o facto de a orientação deste canhão e o modo como ele interseta a linha de costa permitirem que ele modifique as correntes que a própria ondulação cria junto à costa, fazendo com que em certos períodos se desenvolva uma corrente forte que se opõe às ondas.

(Fotografia ©MDig)

Ao largo da Praia do Norte, este processo parece ser reforçado por correntes costeiras que se opõem às ondas e pela diminuição rápida do fundo que a onda sente ao passar do canhão para a plataforma próxima.

O canhão da Nazaré

O Canhão da Nazaré é conhecido de há muito, e em tempos remotos considerado como um abismo insondável.

(Fotografia ©MDig)

O conhecimento científico deste canhão submarino, nomeadamente sobre as suas características gerais nas proximidades da costa, poder-se-á localizar no início do século XX, com um conjunto de levantamentos hidrográficos realizados pela Missão Hidrográfica (o precursor do atual Instituto Hidrográfico), posteriormente descritos por Ferreira de Andrade (1937).

O Canhão Submarino da Nazaré estende-se por cerca 170 km, desde profundidades abissais de 5000m até cerca de poucas centenas de metros da Praia da Nazaré, onde a parte terminal do canhão (chamada a cabeceira do canhão) chega a 150m de profundidade.

(Fotografia ©MDig)

A parte do Canhão da Nazaré que corta a plataforma continental constitui um desfiladeiro submarino verdadeiramente impressionante, com uma largura máxima de cerca de 6 quilómetros e paredes que descem até aos 2000 metros de profundidade.

Fonte parcial: shifter.pt

Os 12 melhores locais para visitar em Pontevedra

Os 12 melhores locais para visitar em Pontevedra

por admin

"Pontevedra dá de beber a quen pasa" é um dito galego que expressa muito bem a essência desta cidade: a hospitalidade. Esta tradição de acolhimento reflecte-se na Virgem Peregrina, emblema do caminho português para Compostela, honrada pelos pontevedrinos com uma curiosa igreja, monumento nacional, com a planta em forma de vieira! Em Pontevedra, tudo está a um passo. E há tanto para ver... Tesouros de verdade, como a colecção de ourivesaria em ouro do Museu de Pontevedra, única na Europa, com jóias esplêndidas de mais de 4000 anos de antiguidade. E outras jóias mais, a Basílica de Santa Maria, as Ruínas de Santo Domingo e a Igreja de San Bartolomeu.

Mas ainda há mais. Parques, alamedas, passeios pelo rio em plena cidade e um centro histórico que, depois do de Santiago de Compostela, é o mais importante da Galiza. Arquitectura em pedra com casas brasonadas e habitadas, fontes, praças a transbordar vida e esplanadas com ambiente até de madrugada. Isto é vida. Em Pontevedra já não se dorme. O visitante de Pontevedra não deve abandonar a cidade sem passear pela margem do Lérez, recuperada muito acertadamente para o lazer da cidade, dado que oferece ao caminhante um encanto muito evocador, com recantos muito agradáveis e que chegam a parecer como que retirados de um conto.

Na margem Norte aparecem os melhores lugares para passar um bocado agradável e, entre eles, recomendamos encarecidamente a Ilha das Esculturas, na qual se pode saborear um passeio que combina natureza e cultura. Nesta ilha fluvial de 7 hectares pode-se admirar uma variada lista de obras escultóricas de grande tamanho de reputados artistas galegos e não só ao mesmo tempo que se passeia por um espaço natural de grande valor ecológico. Descubra os melhores locais para visitar em Pontevedra.

1. Basílica de Santa Maria

A Igreja de Santa Maria é sem dúvida o melhor exemplo de arquitectura religiosa de toda a cidade. A Real Basílica de Santa Maria A Maior inicia no século XVI como iniciativa do grémio de Marinheiros, habitantes da Moureira, activo e pujante bairro marinheiro.

Basílica de Santa MariaBasílica de Santa Maria

Declarada Monumento histórico Artístico em 1931, Santa Maria conjuga à perfeição o Gótico tardio com o Renascimento. A este último estilo pertence a sua fachada principal (s. XVI), obra de Cornelis da Holanda e João Noble, considerada uma das obras cimeira do estilo plateresco na Galiza e que alberga uma curiosa imagem de São Xerome com óculos. No interior, pode-se contemplar o Cristo do Desencravo (s. XVI), o Cristo dos Marinheiros (s. XVIII) e as deslumbrantes abóbadas de crucería.

2. Praça da Ferrería

A Ferrería é sem dúvida uma das Praças mais típicas, visitadas e queridas da cidade e centro nevrálgico da vida pontevedresa. É um lugar de encontro, de actos culturais ou de jogo para pequenos e onde estão algumas das melhores esplanadas da cidade. Recebe o seu nome das forjas que existiam nas suas colunas e que antigamente forneciam de metal aos demais grémios da cidade. Une-se com o pequeno Largo da Estrela, onde destaca a Casa das Caras que dá nas vistas pela quantidade de caras da sua fachada, e com os Jardins de Casto Sampedro.

Praça da FerreríaPraça da Ferrería

No meio destes últimos ergue-se a afamada Fonte da Ferrería (século XVI). Foi reconstruída em 1930 neste lugar trás ser retirada do centro do largo. Todo este conjunto encontra-se presidido pela potente presencia de dois edifícios religiosos: São Francisco e o Santuário da Peregrina, assim como por um conjunto de edificações de pedra, algumas alpendradas, de uma grande harmonia.

3. Praça do Treuco

Segundo conta a lenda, o arqueiro grego Teucro, médio irmão de Aiax, depois da Guerra de Tróia, viajou a Ocidente e fundou a cidade de Pontevedra. A elite renascentista da cidade deu-lhe pulo a este mito para enobrecer e prestigiar a vila. Neste largo, uma das mas formosas de Pontevedra, podemos contemplar vários edifícios interessantes como o Paço dos Gago y Montenegro e face a ele o Paço do Conde de São Román. No fundo do largo à beira da rua Real está o antigo Paço de Aranda e Guimarei.

Praça do TreucoPraça do Treuco

Foi uma das vagas mas senhoriais da cidade e ainda hoje conserva parte das casas nobres que a rodeavam e bons exemplos da riqueza heráldica de Pontevedra. Entre todos destaca o escudo da casa dos Gago y Montenegro, uma verdadeira jóia do barroco galego realizado no século XVI. As ruas situadas nas suas proximidades constituem uma das zonas mas importantes de tapas e vinhos.

4. Convento de São Francisco

Segundo a tradição, o convento foi fundado por Francisco de Assis, que parou em Pontevedra enquanto fazia a rota Portuguesa dos caminhos de Santiago. A chegada da ordem franciscana à cidade teve lugar possivelmente no último terço do século XIII, sendo a edificação construída entre 1310 e 1360, contando com a ajuda económica dos herdeiros do Pai Gomes Charinho num solar da casa de Soutomaior, naquela época ainda fora do perímetro da muralha da cidade. A opulência desta construção provocou inveja nos membros da ordem dominicana instalados na cidade, que terminaram sua igreja dez anos antes, e que decidiram iniciar em 1380 a construção doutra igreja maior que a franciscana, com cinco absides.

Convento de São FranciscoConvento de São Francisco

Em 1362 iniciou-se a construção da cabeceira da igreja das freiras clarissas na cidade, similar à de São Francisco, mas de menor tamanho. Ademais destas três construções, a igreja paroquial de São Bartolomeu foi ampliada entre 1337 e 1339. Este grande apogeu na construção deveu-se ao grande número de doações económicas procedentes de famílias nobres, temerosas da morte procedente da peste negra que assombrou a Europa naquela época. A igreja é de estilo gótico tardio ou ogival, e foi declarada um monumento histórico-artístico em 1896. Tem planta de cruz latina, com nave única, cruzeiro, coberta de madeira e cabeceira com três absides poligonais, cobertas com abóbadas de cruzaria. O edifício que ocupa a Delegação da Fazenda foi construído em 1800, e inclui a porta de São Domingos da antiga muralha da cidade, do século XIII.

"Depois das eleições, deverá suceder uma geringonça tipo 2.0, com novos compromissos, mas entre a mesma família"

"Depois das eleições, deverá suceder uma geringonça tipo 2.0, com novos compromissos, mas entre a mesma família"

ENTREVISTAS VISÃO

21.01.2018 às 12h40

João Cravinho

Luís Barra

Leia ou releia a entrevista de João Cravinho, engenheiro e ex-misnistro do PS

Emília Caetano

EMÍLIA CAETANO

Texto

Luís Barra

LUÍS BARRA

Foto

Repórter Fotográfico

Entrou no PS em 1977, com o grupo dos ex-MES. Antes já fora ministro da Indústria no IV Governo provisório. Engenheiro civil de formação, voltou ao Governo com Guterres, acumulando o Planeamento, a Administração do Território e depois o Equipamento. Deputado durante duas décadas, destacou-se no combate a corrupção, apresentando um pacote legislativo nunca aprovado. Seguiria depois para administrador do BERD, o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento

O PSD elegeu novo líder. Quais são as suas perspetivas?

Pelo que se viu na campanha, nem um nem outro parece ter uma ideia mobilizadora. É provável que o PSD melhore, com um ou o outro, mas nenhum deles parece capaz de apresentar à sociedade um projeto alternativo, que leve o PSD à vitória. A ideia que mais se ouve a ambos é que, para o País crescer, é necessário baixar os impostos dos empresários e das empresas. Não creio que isto chegue, até porque não está provado que, baixando o IRC, venha por aí uma avalancha de investimentos.

Mas que implicações terá esta mudança no xadrez político?

Vai permitir que se perceba com mais clareza o que mudou desde 2011 e que nova orientação está a emergir, para representação de uma classe média empenhada no desenvolvimento e, ao mesmo tempo, respeitadora do chamado contrato social. A democracia-cristã e a social-democracia têm ideias sobre isso, e são duas correntes que Passos Coelho eliminou. Por outro lado, vivemos numa economia de mercado com regras que não vão mudar nos próximos anos. Vivemos numa espécie de capitalismo em que os empresários não têm capital. Quem tem riqueza são pessoas com alma de rentiers, vivem de rendas, da especulação financeira e imobiliária, sem trazer grande valor acrescentado, o que deixa o País dependente do capital estrangeiro. Há muito poucas fortunas dispostas a investir em capital de risco. Um regime desta natureza só pode ser predador do trabalho. É preciso desbloquear esta situação e há vários modos de o conseguir a médio prazo. Nenhum dos candidatos me pareceu aflorar este problema ou sequer dar-se conta dele. Portanto, a direita continuará a viver de slogans, de equívocos, à espera que resulte.

E a esquerda?

A esquerda está ou deveria estar mais disposta a pensar em soluções em que o Estado fizesse a diferença, para compensar a falta de capacidade empresarial. E isto, não para garantir uma taxa de lucro confortável a quem não tem mérito empresarial, mas para apoiar uma nova classe empresarial. Chegamos ao paradoxo de dizer que a esquerda se vê na necessidade de criar uma nova classe empresarial, para não entrarmos num período de estagnação.

A estratégia do Governo poderá evoluir como?

Creio que não haverá modificação em relação ao que foi anunciado, mas sim ao praticado. O Governo pode é passar a ter uma oposição bastante mais forte. Naturalmente poderá querer, nalguns domínios, estabelecer consensos. Até porque a sociedade hoje também parece mais sensível à ideia de que, se não nos juntarmos, não vamos a lado nenhum. O aparecimento no PSD de um interlocutor mais aberto à conversa pode ser aproveitado pelo PS para alargar o seu espaço social, em termos de compromissos que não o impeçam de manter os entendimentos com o BE e o PCP. António Costa tem arte para isso. Passa a haver alguma coisa ali que dá para conversar. Mas um dado que podemos dar praticamente como certo é que não haverá bloco central.

Rui Rio não fechou completamente a hipótese.

Exato. Mas foi o tom geral da campanha. E, supondo que o PS fique perto da maioria absoluta, presumo que Costa não começará por perguntar à direita se há hipótese de entendimento.

Porque a direita se excluirá?

Presumo que ambos os lados. Julgo que Costa ficará na História, porque teve o génio de mostrar que, mesmo com a Constituição que temos desde 1976, havia soluções diferentes das adotadas em 40 anos. Verificou-se uma evolução no BE e no PCP. Houve uma grande clarividência da parte do PCP, mas que veio do seu eleitorado, que não compreenderia que se viabilizasse a continuação do Governo da direita. O eleitorado do PCP é sensível à ideia de que ‘troika nunca mais’. Daqui até às legislativas de 2019, assistiremos a um período de grande conflitualidade social. E tanto o BE como o PCP irão empenhar-se em afirmar as grandes diferenças programáticas entre eles e o PS. Seja qual for o resultado, nenhum deles sonhará sequer em ajudar a formar um Governo para aplicar os seus princípios programáticos.

Então?

A questão será saber se é possível um programa com causas políticas caras a esses partidos, que possam ser consentâneos com a política europeia, que eles detestam e condenam. Mas veem que, se não houver um mínimo de compaginação, serão difíceis ganhos importantes para as condições de vida dos trabalhadores. Portanto, estamos aqui um pouco no dilema do prisioneiro. É um jogo em que todos os parceiros têm mais a ganhar com a cooperação do que com guerras que permitiriam o regresso do adversário comum. Costa mostrou, até à escala europeia, que era possível evitar a “pasokização” do PS, que seria o destino, em caso de entendimento com Passos Coelho. Mesmo assim, um governo de bloco central pode voltar a levar a esse caminho. Quanto ao PCP, percebe que o seu eleitorado prefere, apesar de tudo, um entendimento com o PS do que um governo de direita pura e dura.

Qual dos dois candidatos a líder do PSD seria preferível para o PS?

Disseram-me que, depois do primeiro debate televisivo entre Santana e Rio, perguntaram a um comentador quem tinha ganho e ele respondeu que fora António Costa. Apesar de tudo, Rio, se encontrar alguma chama, que ainda não teve, parece poder, pelo menos à primeira vista, diminuir mais a vantagem de Costa. Santana segue um pouco na sombra emotiva do PR. É um homem de afetos, de emoções, da genuinidade dos encontros pessoais. Rio é um homem mais cerebral, com uma vontade forte, que em política se costuma chamar uma pequena dose de autoritarismo. Não estou a acusá-lo disso, mas dá a impressão de que, nalgumas questões, pode ser muito rígido. E não sabemos em quais, o que pode causar reticências junto de algum eleitorado. A política está cheia de imprevistos e, muitas vezes, são eles que decidem. Macmillan (ex-PM britânico) dizia que o que causa problemas aos governos não são os adversários, são os eventos. Em compensação, se Rio aparecer com alguma ideia mobilizadora, a força de vontade jogará a seu favor.

E a estratégia do PR como pode evoluir?

Na mensagem de Ano Novo ele reentrou no modo positivo da cooperação institucional. Estava num caminho que criava a ideia, sobretudo junto de gente pouco politizada, de que o Governo estava dependente dos comandos dele. Como constitucionalista que é, sabe que estas coisas não são grátis. Depois vem a conta. Chegaria a altura em que as pessoas se interrogariam por que razão se passou isto ou aquilo, se ele manda no Governo.

Como interpretou a palavra “reinvenção” no seu discurso?

Foi uma palavra muito feliz. Aparece como inovadora no vocabulário político português, mas agora há que dar-lhe conteúdo. É feliz porque os portugueses, quer queiram quer não, vão ter de se reinventar, de reinventar o território e as suas instituições, se quiserem sobreviver. Vivemos num período de transformações revolucionárias, que rompem com a ideia que tínhamos de futuro. O futuro já não é o que era. Dá a impressão de que capítulos de ficção científica de repente se tornam a vida. O País tem de dar saltos radicais, o que em técnica de planeamento se chama leapfrogging, saltos de rã. Foi o que fez a Coreia do Sul, o Japão do séc. XIX, ou o que a China está agora a fazer. Em áreas seletivas temos de aproximar-nos rapidamente da fronteira tecnológica. A curto prazo precisamos pelo menos de duplicar o investimento em investigação fundamental. É preciso reinventar o interior, onde hoje vive 20 a 25% da população. Mas isso só faz sentido se soubermos o que fazer aos outros 75 a 80 por cento.

E o que propõe?

Há que colocar lá as pessoas, mas em condições de darem o mesmo salto de qualidade que o resto do País. As universidades e os politécnicos têm sido grandes motores de desenvolvimento. É preciso oferecer-lhes a possibilidade de qualificar pessoas ao mais alto nível e de trabalhar em simbiose com instituições maiores do litoral. Só assim se consegue criar emprego local. Mas isto não vai suceder, porque a nossa elite tem uma relação perversa com o interior. Só o vê como fonte de renda fundiária ou de especulação imobiliária.

Voltando ao PR. É de esperar alguma diferença de atitude em relação ao seu partido, agora que Passos Coelho saiu?

Julgo que atuará normalmente, com boas relações institucionais, para mostrar que uma oposição ativa é também um bem público, o que não significará ajudá-la. Não dará indicação de que “este é o meu filho bem amado”. Mas há altíssima probabilidade de que o PR faça um segundo mandato. E, ao fim de dez anos no poder, é bem capaz de querer deixar quatro ou cinco ideias suas que marquem a transformação do País. O intervencionismo do PR pode compatibilizar-se constitucionalmente com o Governo, se houver um PM que o convide, algumas vezes ao ano, para presidir ao Conselho de Ministros. Não irá fazer um partido nem governar em violação ou na linha de separação da inconstitucionalidade. Portanto, a certa altura pode pensar que o melhor é ir por dentro, é ter um PM da casa. E isso hoje não está à vista.

Acha que ele vai ser tentado a intervir?

Não. Isto é pura lógica, puro laboratório. Mas, a meio da próxima legislatura, ele pode ver se há ou não condições para um potencial PM da casa, até porque, entretanto, houve eleições autárquicas. Se vir que não tem, a vida continua. E ele tem feitio democrático suficiente para conciliar a sua capacidade de intervenção com o que a Constituição diz. É pouco provável que Rio ou Santana ganhem as eleições. E a seguir veremos o que sucede, se lhes é dada uma segunda chance.

O que podem os parceiros do PS pretender negociar até ao fim desta legislatura?

Catarina Martins (líder do BE) já tem dito que é preciso olhar para a qualidade dos serviços públicos, sobretudo o SNS. O PCP também diz isso mas de maneira mais localizada. Em relação a alguns serviços públicos vai exigir mudanças mais profundas. Ouviremos muitas vezes Jerónimo de Sousa a dizer que é insuficiente, uma palavra que vai aparecer cada vez mais no vocabulário do PCP. Já se prepara para apresentar problemas difíceis, mas que podem ter um início de solução, ficando a salvaguarda de que é insuficiente. Daqui até às legislativas o tema passa a ser a qualidade e a quantidade dos serviços. O BE creio que fará isso por setores, consoante os especialistas que tem. O PCP tirará partido do seu profundo conhecimento do território e dos microcosmos dos serviços públicos. Tem lá gente capaz de identificar problemas concretos.

O que virá a seguir à geringonça?

Chegou o momento em que é essencial para o Governo e o PS mostrarem que têm um grande projeto nacional, nalgumas questões centrais. Não concebo um projeto de futuro sem uma reinvenção de alto a baixo do sistema de educação, em termos não só de funcionários, mas de conteúdos. Um miúdo que entre hoje na escola vai viver até final do século e trabalhar até aos 70 anos. Passará dois terços da vida muito para além daquilo que a escola consegue alcançar.
E há um tema que nos vai cair em cima dentro em pouco que é o da mobilidade. O modo como nos vamos deslocar e articular a nossa vida será totalmente diferente. É muito provável que os carros autónomos já cá estejam na década de 30, com implicações vastíssimas. Haverá soluções de transporte quase à medida. Além disso, como serão elétricos, não pagarão impostos sobre combustíveis.

Talvez paguem outros.

Esse é o problema. Em Portugal, há 30 mil empresas relacionadas com os combustíveis, que empregam 120 mil pessoas e pagam 14 por cento dos impostos. Toda essa mudança, quer em postos de trabalho quer em receitas, tem de ser pensada já, como estão a fazer vários países. E o mesmo se passa com a ferrovia. Ainda se anda a discutir o TGV de há 20 anos, quando hoje já estão a ser testados quatro ou cinco grandes projetos de novas tecnologias que permitirão, por exemplo, ligar Lisboa ao Porto em 25 minutos, a um custo razoável. Um dos empresários que está a desenvolver estas novas tecnologias é Elon Musk (líder dos carros elétricos Tesla). O País será totalmente diferente e tem de ser repensado. Isso é que é a reinvenção do território.

Depois da geringonça, Jerónimo de Sousa já disse que não se repetirá uma solução igual.

Acho que ele está 200 por cento certo. Depois das eleições haverá que ponderar entre o menor dos males e o maior dos bens. Os atuais parceiros do PS podem dizer que não entrarão numa solução como esta, mas que têm uns quantos assuntos que querem ver resolvidos e se dispõem para isso a dar estabilidade política um governo que os execute, sobretudo votando o Orçamento. Fora desses assuntos terão liberdade para fazer o que entenderem. E, dentro de um ano ou dois, haveria nova conversa, para tirar as lições. Não será uma repetição da fórmula, mas a negociação de um entendimento entre a família que a tem constituído, para chegar a uma geringonça 2.0.

Como a descreve, parece muito idêntica à atual.

Será diferente nos compromissos.

Os que serviram de base ao atual Governo já foram cumpridos.

Há quem diga que o BE quer entrar para o Governo. Num regime como o nosso, o entendimento, seja lá de que tipo for, é necessário para garantir o mínimo de estabilidade. O acordo que resultar das negociações será necessariamente diferente da solução atual, mas não muito. Será da mesma família. E haverá que ter em conta a aritmética eleitoral.

E se os votos do PS e do BE chegarem para formar Governo?

Se o PS e o BE tiverem maioria absoluta, claro que o PCP pode dizer que então fica de fora. Mas creio que, nesse caso, haverá um grande debate interno neste partido. O PCP pode dizer que esteve 40 anos na oposição e que, depois, se viu quatro anos nesta confusão que não lhe trouxe nada e, nesse caso, é melhor voltar à posição antiga. Não volta. Não há retorno. Na geografia política deixou de haver a posição onde o PCP esteve 40 anos. Se tentasse recuar para aí, perderia parte do seu eleitorado. Isso mostra que vai haver geringonça.

Dentro em pouco Mário Centeno toma posse como líder do Eurogrupo. Que sentimentos tem sobre isso?

Centeno vai tomar posse de um cargo que está sob exame, já que há propostas para a criação do cargo de ministro das Finanças europeu, que iria controlar o Eurogrupo. A probabilidade de isso acontecer é difícil de avaliar. Há quem ache isso um passo maior do que a perna política atual permite. Mas partamos do princípio de que cumpre o mandato até ao fim. Ele já mostrou uma capacidade de conciliação de ideias que lhe será muito útil no Eurogrupo e lhe pode permitir executar o mandato de acordo com os critérios exigidos. Mas é preciso ver o que vai passar-se na Alemanha, com o novo ministro das Finanças. Além disso, Mario Draghi vai sair do BCE. E um Eurogrupo sem Draghi é uma grande incógnita. Os alemães podem tentar pôr lá o presidente do Bundesbank ou o ministro das Finanças de um novo estado membro que dominem. Se os alemães aproveitarem a saída de Draghi para apertarem o controlo do Eurogrupo via BCE, então Centeno terá uma vida difícil e os países membros também. Nesse caso ele poderá fazer um bom mandato, mas sob pressão do BCE, mais que da Comissão Europeia, no sentido de apertar o regime das finanças públicas, com maior rigor e ortodoxia, em Portugal. Ele sabe isso e poderá tomar algumas contra-medidas logo de início, porque Draghi só sai em 2019. Pode ajudar alguns países, a própria França, mas também Portugal ou a Itália a ganharem algum tampão, precavendo a hipótese de um futuro presidente do BCE pró-alemão. A outra questão é como se articula isto com o Centeno ministro das Finanças de Portugal.

E como articula?

Julgo que ele não tem outro remédio senão estar na linha que foi aprovada neste Orçamento. Vai fiscalizar como fez este ano, porque teve um bom entendimento estratégico do que devia ser feito. E não pode deixar de fazer o mesmo, se quer ter um mínimo de capacidade de manobra como presidente do Eurogrupo. As coisas funcionam nos dois sentidos. A direita ficou muito satisfeita por Centeno ir para o lugar, prevendo que ele agora terá de fazer um cumprimento muito rigoroso (das exigências europeias), como a direita quer. Mas depois viu que, quanto mais ele conseguir aplicar isso em Portugal sem suscitar grandes protestos, menos hipóteses eles têm de ganhar as legislativas de 2019. Levaram uns dias a entender que ficaram no charco. E tanto Rio como Santana estão sem discurso de política económica e financeira.

(Entrevista publicada na VISÃO 1297, de 1 de janeiro de 2018)

“Sabemos que Lisboa e o sul vão ser afetados por grandes sismos no futuro, não podemos dizer é quando”

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Expresso
Marta Gonçalves, há 6 dias




Um sismo de 4.9 foi sentido esta segunda-feira em diversas zonas do país - é dos maiores com epicentro em terra nos últimos anos. Após o abalo, surgiram de imediato diversas questões: haverá mais sismos em Portugal no curto prazo, mais fortes? Há razões de alerta? Fernando Carrilho, chefe de divisão da sismologia geofísica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explica o que é possível ou não prever
Qual é a explicação para o sismo desta segunda-feira? O que aconteceu?
Houve um movimento súbito de uma falha geológica a alguma profundidade, uma falha pré-existente na zona de Arraiolos com uma orientação aproximada oeste-este. Com o passar do tempo, acumulou tensão e naquele momento deixou de ser possível acumular mais e libertou-se. Houve um movimento súbito entre os blocos que constituem a falha e produziu-se o sismo.
Este acumular de tensão já se libertou completamente ou há razões para as pessoas ainda estarem alerta?
Não podemos antecipar as coisas dessa forma. É certo que libertou alguma energia e deu origem ao sismo, mas não sabemos se libertou toda a que estava acumulada. Isso não conseguimos dizer.
Em Portugal, quais são as áreas mais propícias à ocorrência de sismos?
No território de Portugal continental, as zonas mais perigosas são Lisboa e Vale do Tejo e o Algarve. Têm uma perigosidade sísmica praticamente idêntica. No resto do território, esse nível de perigo é mais baixo. Entende-se por perigosidade a probabilidade de ocorrência do movimento sísmico.
É possível prever um sismo?
A previsão sísmica é algo que não é possível fazer, não existe. Nem é aceite cientificamente a possibilidade de se prever sismos. Quando digo prever, refiro-me ao ponto de vista de proteção civil: não podemos dizer que neste dia, a esta hora, haverá um sismo. Sabemos os sítios, sabemos que no futuro Lisboa e o sul de Portugal vão ser afetados por grandes sismos, não podemos dizer é quando. Falta esse elemento, pode ser daqui a cinco, 15 ou 1000 anos. As condições geológicas são as mesmas que havia há milhares de anos e que geraram vários episódios e vão, certamente, gerar mais. Os períodos de cadência é que são muito longos e não é possível fazer aquilo que as pessoas entendem como previsão.
“Sabemos que Lisboa e o sul vão ser afetados por grandes sismos no futuro, não podemos dizer é quando”© América Simas “Sabemos que Lisboa e o sul vão ser afetados por grandes sismos no futuro, não podemos dizer é quando”
Olhando para a história recente do país, o sismo desta segunda-feira foi dos mais abrangentes a nível territorial?
Foi dos mais sentidos, sim. Nos últimos anos, os sismos em terra não têm tido magnitude tão elevadas como este, não que este seja excecional, mas estatisticamente em comparação com os outros é de facto um dos maiores registados nos últimos anos com epicentro em terra. Recebemos relatos de praticamente todo o país, à exceção de Trás-os-Montes. Ninguém relatou danos, embora seja expectável que na zona de Arraiolos tenha existido algum tipo de danos, ainda que ligeiro. Do ponto de vista formal, não nos chegou essa informação ainda. Temos uma equipa no terreno a trabalhar na zona afetada. As pessoas sentiram e aquilo que nos reportam é a maneira como sentiram o sismo. Felizmente foi um susto apenas.
Apesar de tudo, 4.9 é considerado um sismo ligeiro…
Já é moderado. Teve uma magnitude de 4.9 e uma intensidade máxima registada de 5.
E podemos dizer que foi um dos maiores sismos a nível de intensidade?
Neste momento, temos registado uma intensidade máxima de 5. É dos maiores com epicentro em terra nos últimos anos. Penso que nos anos 80 tivemos intensidade 6 na zona centro do país e já tivemos outros de intensidade 5 também. É, de facto, dos maiores. Não sendo um sismo excecional, importa sublinhar. Num raio de 30 quilómetros de Arraiolos, foi o maior sismo dos últimos 20 anos.
Sabe qual foi o maior no território continental nos últimos anos?
Há que considerar o efeito mar, normalmente os maiores sismos são aqueles a sul e sudoeste de Portugal continental, que depois têm repercussão interna e, nesse caso, tivemos sismos maiores de magnitude 6. Nesse nível, o último mais significativo foi em 2009, com magnitude 6 e intensidade máxima de 5.

Será que a Mariana Mortágua levou a mota?

por helenafmatos

Na passada semana tivemos a habitual performance bloquista com as demolições no Bairro 6 de Maio: Amadora. Demolições voltam ao bairro 6 de Maio. A Polícia Municipal da Amadora tentou hoje demolir uma casa onde viviam cinco pessoas. Grupo de ativistas impediu a demolição; O agente municipal responsável pela demolição avisou os ativistas para não passarem a linha de segurança definida, mas entre as trocas de palavras mais serenas, seguidas de resistência às ordens, os ativistas conseguiram obrigar as autoridades a recuarem e a terem de voltar noutro dia. Sentaram-se no chão e os trabalhos pararam. "Vamos embora. Por hoje", disse ao i um polícia municipal.

Entre os activistas que activavam nas declarções aos jornalistas contava-se a deputada Mariana Mortágua. Desconheço o meio de transporte usado pela senhora deputada para ir até ao Bairro 6 de Maio. Espero que tenha levado uma daquelas motas (certamente produzida num pais não capitalista) com que se faz fotografar. Sugiro aliás que a  senhora deputada que  declara viver em casa de amigos em Lisboa a comprar ou alugar um daqueles andarzinhos ou vivendas  em frente ao Bairro 6 de maio e que estão há anos à venda e não se vendem apesar de baratíssimos.Como ninguém vive no 6 de Maio ficava com aquele terrenozinho todo para arrumar os motociclos.

Ps. Como vou passar pelo 6 de Maio daqui aceito apostas sobre o número de moradores.