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domingo, 11 de março de 2018

As 50 palavras mais caras da Língua Portuguesa

por admin

Há quem lhes chame palavras cultas. Mas são apenas palavras difíceis ou, pelo menos, um pouco mais difíceis do que o normal. Nós preferimos chamar-lhes palavras caras em homenagem às pessoas que assim lhes chamam quando não entendem o seu significado. A Língua Portuguesa está repleta de palavras pouco usadas no nosso quotidiano e, por isso, talvez mais difíceis de entender. A maioria destas palavras possui também sinónimos mais fáceis de memorizar ou de compreender. Algumas são palavras antigas e outras são apenas palavras engraçadas. Descubra as palavras mais difíceis (e os seus significados) da Língua Portuguesa.

1. Escaler

O navio não podia atracar na ilha. Quem quisesse ir a terra teria de embarcar num dos dois escaleres que já se viam no mar, indo e vindo, numa alegre e excitante azáfama.

2. Sainete

Nem tudo é desagradável no rosto dele! O sorriso luminoso e os dentes perfeitos são o seu sainete.

3. Bambúrrio

Ele não sabe nada de Geografia! Acertou e ganhou por mero acaso! Aquilo foi um bambúrrio e nada mais!

4. Alinhavo

Agora já podes coser a bainha à máquina, seguindo os alinhavos brancos; depois tiras os alinhavos, claro! É só puxar a linha com cuidado.

5. Pingarelho

Isto não funciona porque lhe falta aqui um pingarelho qualquer.

6. Crestar

O frio intenso e sobretudo a geada matinal acabaram por crestar completamente a relva e as plantas do jardim.

7. Apropinquar

Lá está ela a apropinquar-se daquele senhor de idade para lhe meter a mão no bolso e lhe roubar a carteira.

8. Lazeira

Não sei se era do calor, mas aquilo, por lá, era uma lazeira só! Grandes sestas, muita cerveja... Por isso é que a obra demorou tanto a acabar!

9. Lampinho

À primeira vista, ele não era um homem agradável: havia qualquer coisa de estranho e perturbador no seu rosto rosado e lampinho.

10. Imarcescível

Nunca se esgota o gesto nobre de render preito à glória imarcescível dos nossos heróis!

11. Prosápia

O tipo falava e actuava com uma enorme prosápia, mas aquilo tudo espremido não significava nada!

12. Silente

Falavam pouco, mal se tocavam, mas havia entre eles uma cumplicidade silente e firme que impressionava. Eram felizes.

13. Preito

Todos devemos um preito de amor e gratidão aos poetas, aos músicos, aos pintores, àqueles, enfim, que enchem de beleza as nossas vidas.

14. Deletério

O maior problema do cigarro não é o efeito adictício da nicotina, mas sim a ação deletéria de todos os seus outros componentes.

15. Estúrdio

De um estúrdio como tu, só se podia esperar uma atitude estúrdia como esta!

16. Camoeca

Ela parecia estar bem, mas, de repente, deu-lhe uma camoeca qualquer e desmaiou, em plena conferência.

17. Perfunctório

O pai detestava o espírito perfunctório e agitado que, no verão, se instalava na estância balnear! Não suportava tanta irrelevância, e desaparecia até à hora do jantar.

18. Pernóstico

Ele entrou na sala, tentando um grande estilo, meio ridículo com aquela capa de arminho pelos ombros, muito pernóstico como sempre foi.

19. Procrastrinar

Com a depressão, ele tornou-se perito em procrastinar o cumprimento dos seus deveres! Sofre com isso e faz sofrer toda a gente que dele depende.

20. Lépido

Nesse dia, ele saiu de casa a assobiar, lépido e esperançado, com a íntima certeza de que, por fim, encontraria trabalho. E assim foi!

21. Húbris

Toda a húbris da ciência médica vacilou ante a evidência do milagre. O tumor tinha desaparecido!

22. Menoscabar

O senhor não tem o direito de, com as suas pérfidas palavras, menoscabar a honra de uma pessoa proba e que, além do mais, está ausente desta discussão!

23. Diáfano

Os seus diáfanos olhos azuis não conseguiam ocultar nada: falavam sempre a verdade!

24. Veneta

Sei lá! Deu-lhe na veneta e arrancou para Paris!

25. Níveo

Envolta no seu níveo vestido de noiva, ela entrou na igreja com a leveza de uma nuvem num céu de primavera.

26. Sevandija

Bem, nem imaginas com quem ela vive agora! Com um tipo estranhíssimo, que ela diz que é artista plástico, mas que é uma autêntica sevandija a viver à custa dela!

27. Antanho

O avô nunca se desfez do seu velho gira-discos, nem dos discos de vinilo com “as mais belas canções de antanho”, como ele dizia.

28. Adejar

Ao fim da tarde, antes de recolher aos ninhos, os pássaros adejavam longamente sobre a eira, numa última aflição por encontrar alimento.

29. Bonomia

Da tia Inácia, recordo sobretudo a sua extraordinária bonomia, sempre disponível para ajudar toda a gente, a qualquer hora, com o mesmo sorriso claro e afável.

30. Azevieiro

Ninguém quer jogar às cartas com ele, porque tem fama de ser muito azevieiro, apesar da carinha de anjo que tem.

31. Lábil

Ela foi sempre muito lábil ante as tentações da boca: não resistia nem aos doces nem aos salgados!

32. Tálamo

Chegados ao quarto, depois da boda, Efigénia olhou de frente para o tálamo de sedas claras em que dormiria, por primeira vez, nos braços do seu amado.

33. Simonia

O tipo enriqueceu dedicado à simonia: assaltava igrejas, capelas, mausoléus e, segundo dizem, passava as coisas para Espanha, onde tinha clientes fixos. Enfim, um tipo simoníaco!

34. Dispepsia

Lembro-me de, noutros tempos, as pessoas dizerem, elegantemente, que sofriam de dispepsia. Afinal o que elas tinham eram indigestões, de tanto comerem e beberem!

35. Cerviz

O medo dominava a situação, mas, nesse dia, ninguém parecia disposto a dobrar a cerviz ante mais aquela arbitrariedade do ditador.

36. Torcionário

Por mil anos que passassem, não poderia esquecer o olhar impiedoso dos cinco torcionários que, durante mais de 24 horas, se revezaram para lhe fazer o primeiro interrogatório.

37. Arroubo

Em pleno aeroporto, num arroubo infantil inesperado, ela caiu de joelhos, agarrada às pernas dele, suplicando-lhe que não partisse, que não a deixasse ali desamparada!

38. Hausto

Nessa terra seca e hostil, sorvera Afonso o primeiro hausto de vida e foi nela também que exalou o seu último suspiro.

39. Feérico

Estava toda a gente maravilhada com o ambiente feérico criado para o espectáculo, com luzes filtradas por véus em movimento, ao ritmo suave de harpas e oboés.

40. Remir

Já te pedi desculpa mil vezes! Já te disse que tal não volta a acontecer! Não sei que mais hei de fazer para remir os meus pecados!

41. Vulpino

Ela era bonita, mas tinha um olhar inquietante, fugidio, vulpino. Era manhosa e acabou por lhe dar cabo da vida!

42. Concupiscência

Aquela era uma comunidade muito dada à concupiscência de todos os chamados pecados mortais.

43. Obnóxio

Ó, obnóxia e letárgica gente desta terra ingrata e estéril! Merecei-vos uma à outra, por nefastas e servis!

44. Probo

Ele era, reconhecidamente, um homem probo, respeitado e estimado por toda a gente.

45. Estiolado

Naquela casa escura, de persianas sempre fechadas, não entrava o sol nem a alegria. As próprias plantas eram fantasmagóricas: cresciam moles, cor de cinza, estioladas, buscando o chão.

46. Pane

Apesar do carro ser velho e a estrada estar em péssimo estado, conseguimos fazer a viagem toda sem panes.

47. Besnico

Fiquei parva, a olhar para o besnico, tão pequenino e já capaz de saltar por cima das grades da cama!

48. Vogar

Estava muito triste. Remou com força até perder de vista a praia e deixou, depois, vogar o barco ao sabor das ondas. Se morresse, morria.

49. Capiangar

Ela era conhecida por capiangar fruta nas bancas da praça! Uma vergonha!

50. Sedição

Os protestos pacíficos da população podem descambar rapidamente em sedição incontrolável.

O Amor em Visita

por estatuadesal

(Herberto Helder, in 'O Amor em Visita' )

herberto

(Publico este poema a pedido de uma leitura desta página que, argumentou, em certas alturas a política lhe causa tédio. E tem razão. Este fim de semana a Dona Cristas têm-nos enchido os horizontes do olhar, e o tédio surge; não por ela ser mulher, mas talvez por ela querer fazer política repetindo e mesmo amplificando todos os vícios que podem ser assacados aos homens. Por isso aqui fica Herberto e a mulher, essa com mulher com que muitos sonham mas que poucos almejam encontrar.

Estátua de Sal, 11/03/2018)


Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas -
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes.
Ele - imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.

Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Oh cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.
E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.

Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
- Então cantarei a exaltante alegria da morte.

Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura.
Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.

Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada
beleza.

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura, não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.

Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida - e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe a força
maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.

Mais inocente que as árvores, mais vasta
que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz
sobre as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira - para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos.

Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.

Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
- Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua.
Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes.

Começa o tempo na insuportável ternura
com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
- Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.

Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
- o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.

Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.

Se te aprendessem minhas mãos, forma do vento
a cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
- No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.

Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
- Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.

As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros
do crepúsculo
- aspiram longamente a nossa vida.

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho,
no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.

Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.
Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.

Treslendo o semanário de Balsemão

por estatuadesal

(Por Jorge Rocha, in Blog Ventos Semeados, 10/03/2018)

cristas_zinco

  1. Semana a semana Angela Silva continua-nos a dar conta dos estados de alma de Marcelo Rebelo de Sousa, que já terá reunido o seu staff em Belém para implementar o plano alternativo ao de não ver Rui Rio a ser bem sucedido como líder da oposição. Na edição de hoje do «Expresso», a voz oficiosa do presidente confidencia a intenção de, tão só constatada a incapacidade para o seu partido subir nas sondagens e obstar à maioria absoluta dos socialistas, e ei-lo numa espécie de tournée pelo país fora para mostrar aos apreciadores de selfies e de abraços o quanto de menos bom possa ser empolado na governação de António Costa. E já tem como primeiro alvo a Saúde, apesar de saber quanto já aumentou o investimento no setor e os sucessivos records alcançados em números de consultas e tratamentos no SNS. Afiança-se no texto que “a calma de Rio deixa Marcelo ansioso” nestes dias em que equaciona o sucesso ou insucesso da sua estratégia de devolver o país aos novos donos disto tudo.
  2. Martim Silva, diretor-executivo do semanário de Balsemão, vem-se responsabilizando pela rubrica de Altos & Baixos na segunda página há já algum tempo. Embora tenha desta feita de reconhecer o sucesso de António Costa por ter conseguido que a Comissão Europeia retirasse o país da lista dos países com desequilíbrios macroeconómicos excessivos, optou, viperinamente, de o fazer acompanhar de outro «socialista» - Sérgio Sousa Pinto - por ter aprovado a contratação de Passos Coelho para o ISCSP. Para Martim e outros que tais no mesmo jornal, um bom socialista é aquele que se porta de forma absurda e a contrario de quase todos os seus camaradas.
  3. A entrevista de duas páginas com Assunção Cristas seria completamente olvidável se ela não se considerasse com potencial político para vir a ser primeira-ministra. Alguém a quem nenhuma sondagem dá perspetivas de votação acima do solitário digito e se julga capaz de, por um passe de mágica, vê-lo no mínimo quintuplicado, ou é tonta, ou repete a perspetiva goebbelsiana de repetir milhentas vezes algo, a ver se o transforma numa improvável verdade. Para já ficámos a saber que conta com a colaboração da brasileira de Pedrógão Grande e com Pedro Mexia para lhe carpinteirarem o programa eleitoral e que se sente como o Calimero na forma como se vê tratada nos debates parlamentares por António Costa, atribuindo a causa ao facto de ser … mulher. Esquece-se, obviamente, que quem vai à guerra de argumentos com má educação, recebe o trato que merece…
  4. Embora discordando quase sempre de Miguel Sousa Tavares compreende-se o seu espanto com o facto de uma enorme maioria de italianos não quererem sair da União Europeia, nem do euro, mas terem votado em duas forças políticas, que dela fizeram o saco de boxe da sua campanha. Tanto mais que, não fosse a intervenção do BCE e o seu sistema bancário teria ruído como um castelo de cartas. E que, mostrando-se desconfiados com os partidos e com o governo, 78% reconheçam-se satisfeitos com a vida que têm. Não sendo a minha posição, há algo de pertinente na proposta para a União Europeia com que conclui a sua crónica: “avançar apenas com quem quiser ficar dentro sem reticências e expulsar os outros sem apelo. Nem que, para ultrapassar os problemas jurídicos, tenha de fazer as duas coisas sucessivamente: primeiro extingue-se, depois cria-se nova organização com os que querem continuar a defender os valores europeus.” Uma coisa se conclui: nos seus dois mandatos Durão Barroso foi o principal responsável por condenar a União ao estado comatoso de que dificilmente recuperará.
  1. Em dia de Congresso do CDS Pedro Adão e Silva assina uma crónica em que, distâncias ideológicas à parte, encontra perturbantes similitudes entre o partido de Cristas e o Bloco de Esquerda. Para ele ambos“têm hoje uma enorme plasticidade, que lhes permite alicerçarem a sua ação quotidiana mais em torno do ciclo mediático e menos em causas.” E, de facto, tem sido, no mínimo estranho, que se encontrem tão frequentemente coligados em votações parlamentares contra o governo ou a competirem por chamar ministros a São Bento para se explicarem quanto ao que os jornais dizem estar a correr mal.
  2. Conclua-se com a crónica, sempre imperdível, de Daniel Oliveira, que começa por lembrar como Matteo Renzi anunciara o suicídio do Labour de Jeremy Corbyn há três anos, e se viu empurrado para o caixote do lixo da História enquanto o político inglês tem fortes possibilidades de vir a ser o próximo ocupante do 10 de Downing Street. A incapacidade das democracias ocidentais responderem com inteligência ao fenómeno da globalização está a empurrá-las para sucessivas implosões. Torna-se evidente que os únicos sítios onde as esquerdas conseguem o apoio dos eleitorados para as suas propostas são aqueles onde elas não enjeitam os seus valores ideológicos mais consistentes.

3 X 9 = 27.º Congresso do CDS

por estatuadesal

(Por Carlos Esperança, in Facebook, 10/03/2018)

CRISTAS_DIABO

Nascida no dia de S. Venceslau, na cidade de São Paulo de Nossa Senhora da Assunção de Luanda, e do fracassado golpe contrarrevolucionário spinolista contra o 25 de Abril, traz no nome a santidade do topónimo onde nasceu e, no espírito, a fantasia da alegada maioria silenciosa, derrotada, em Portugal, no dia do seu nascimento.

A azougada líder CDS, a hesitar entre o estilo miguelista e o de estadista, ora chamando mentiroso ao primeiro-ministro, ora mantendo a compostura civilizada, usou o vazio do poder no PSD até a chegada de Rui Rio. Este, com aura de honestidade e competência, que não assinaria a resolução do BES, ignorando o significado e as consequências, põe em causa a sua ambição.

Enquanto o PSD andou a reboque do ressabiado Passos Coelho, convencido de que era ainda PM, e, depois, graças à luta interna e à desorientação da comunicação social afeta ao PSD, a líder do CDS sonhou voos que nem o seu antecessor, mais preparado, ousou.

A Dr.ª Assunção andou por canais televisivos, emissoras de rádio, feiras, praias, jornais, revistas e romarias, sem concorrência, e, como a rã da fábula, quis ser boi, pensando que a vitória sobre o PSD, nas eleições municipais de Lisboa, era o barómetro do País.

A liderança da direita civilizada e europeia, tarefa de que Passos Coelho era incapaz por inépcia e convicção, está ainda menos ao alcance de Assunção Cristas, que não define a ideologia do seu partido, se acaso a tem, assumindo a opção do liberalismo que derrotou o Governo que integrou ou a da democracia-cristã, desaparecida com a morte de Amaro da Costa e o afastamento de Freitas do Amaral.

Deslumbrada com o vedetismo, a chegada de Rui Rio à liderança do PSD, com cuidada formação académica e experiência política fora das madrassas da JSD, fê-la ver que está condenada a muleta do maior partido da direita, agora com rosto humano e ar civilizado.

Pode continuar o frenesim mediático, dizer uma coisa e o seu contrário, apresentar «18 medidas para salvar o SNS», como se o País ignorasse que o CDS votou, assim como o PSD, contra a sua criação. É difícil exibir os inimigos do SNS como seus salvadores.

Assunção Cristas, que se declara católica praticante, julgando que é de catequistas que o País precisa, à medida que a comunicação social regressa à defesa do PSD, vai perdendo a fé e confessa-se a O Diabo: “…naturalmente, trabalhamos para ser a primeira escolha dos eleitores”, sabendo que leva o CDS de regresso ao 5.º lugar nas próximas eleições.

Por mais que grite que o seu combate é contra o que designa por Governo das esquerdas unidas, é do PSD que quer os votos que a salvem de ser substituída por Nuno Melo.

Neste fim-de-semana, em Lamego, o seu segundo Congresso será pacífico, com a moção ‘CDS – Um passo à frente’, a recordar Lenine na resposta a Rosa Luxemburgo, ‘Um Passo em Frente, Dois Passos Atrás’, na certeza de que não há Kautsky que recuse publicar-lhe a moção. Em relação a Lenine, só o desejo de liderança a une.

Vade retro, Assunção!

Entre as Brumas da Memória


Posted: 10 Mar 2018 12:00 PM PST

The People Vs. Democracy? (Jan-Werner Müller)

«Are voters really so irrational and ill-informed that they make terrible choices, as the election result in Italy, the UK's Brexit vote and the election of Donald Trump in the US seem to suggest? If they are, as many liberals have come to believe, the obvious next step is to take even more decision-making power away from them.»

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Aldrabices em CVs: soma e segue

Posted: 10 Mar 2018 08:48 AM PST

Secretário-geral do PSD mente em currículo e universidade de Berkeley acusa-o de falsificar documento.

«O secretário-geral do PSD explica ainda que foi “convidado” por Manuel Pinto de Abreu (ex-secretário-de Estado no primeiro governo de Pedro Passos Coelho e também ele professor na Universidade Lusófona) para fazer investigação na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com a Universidade de Berkeley. Porém, ao Sol, Manuel Pinto de Abreu refere que “foi desenvolvido um trabalho preparatório” para Feliciano Barreiras Duarte ser visiting scholar naquela universidade — mas que isso “acabou por oficialmente nunca se ter tornado realidade”.

Feliciano Barreiras Duarte diz ainda que nunca foi à Universidade de Berkeley por falta de dinheiro.»

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Maio de 68?

Posted: 10 Mar 2018 06:00 AM PST

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O perigo para a democracia das pessoas muito bem «informadas»

Posted: 10 Mar 2018 03:20 AM PST

João Abel Manta
José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Vamos considerar um tipo especial de informação, não a que vem nos jornais, mas a que, se fôssemos jogadores na bolsa, permitiria aquilo a que se chama “insider trading”, o que é um crime. A definição canónica é qualquer coisa como isto: “O uso de informação relevante, ainda não divulgada, ‘por qualquer pessoa que a ela tenha tido acesso’, com o objectivo de auferir lucro ou vantagem no mercado, para si ou para outrem.” O mercado de que aqui estamos a falar inclui a bolsa, mas é essencialmente outro: é o mercado do poder na elite política, económica, social, naquilo a que tenho chamado o “círculo de confiança”, o grupo de pessoas que manda em Portugal, pelo dinheiro, pela influência, por estar no lugar certo na altura certa, mas acima de tudo pelo que sabe sobre quase tudo o que importa, aquilo que sabe sobre nós, e nós não sabemos ou queremos ou permitimos que se saiba. Não é evidentemente dos que denunciam anonimamente abusos e crimes, os chamados “whistleblowers”.

Na parte de baixo desta cadeia alimentar está a pequena corrupção pela compra da informação, desde o funcionário de uma autarquia que sabe quando um processo vai a uma reunião e informa o interessado, como se fosse um grande segredo, ou o que se está a passar no futebol. O caso dos nossos dias envolve um clube, mas duvido que não seja uma prática generalizada por todo o mundo de milhões que é o futebol e os grandes clubes. Pode ser pela pequena corrupção, mas é também pelo clubismo que ajuda a “passar” informações mesmo sem contrapartida, pela ligação promíscua de agentes judiciais, técnicos de informática ou dos impostos, polícias e magistrados com círculos deste poder. Que aí há corrupção ou insider trading generalizado é um segredo de Polichinelo. Desde as redacções de jornais que têm acesso a fugas de informação tão sistemáticas que não podem ser pontuais, nem gratuitas, até comentadores que podem dar informação privilegiada ou porque lhes é transmitida para ser divulgada dessa forma não atribuída, mas que se percebe que só pode ter vindo ou de advocacia de negócios ou de entidades que pretendem aí obter benefício, como, por exemplo, o Banco de Portugal. Não há volta a dar: alguém informou alguém do que não devia, ou para vantagem do fornecedor, ou para vantagem do fornecido. E, como não há verdadeiro escândalo com estas práticas, nunca é feito qualquer escrutínio e tudo continua na mesma.

O Estado facilita esta circulação indevida de informação, recolhendo-a em claro abuso de qualquer regra de necessidade, através do fisco ou de um sistema bancário que é hoje altamente intrusivo da privacidade. É tudo em nome de boas causas, seja a do pagamento dos impostos devidos, seja na luta contra o branqueamento de capitais. Mas vai-se longe de mais, ao mesmo tempo que a informação excessiva adquire um valor em si mesma para além da finalidade inicial, e, sendo obtida, não é protegida.

No outro limite está a informação que procuram os serviços de intelligence, saber coisas sobre aliados e oponentes que permitam ter vantagem geopolítica, nas negociações ou na guerra. Obter essas informações, seja por meios técnicos seja pela chamada “humint”, a informação humana de agentes infiltrados ou comprados, é um processo vital. A importância deste tipo de informações faz com que o seu uso “desleal”, ou seja, o fornecimento de informações qualificadas a um adversário, competidor e inimigo, seja dos crimes com penas mais duras em vários países, a acabar na pena de morte.

Mas quem pensa que a procura sistemática de informações se limita à espionagem política ou policial está muito enganado. O público comum não os vê, e a comunicação social dá-lhes pequeno relevo mesmo quando lhes tem ou pode ter acesso, mas existem boletins confidenciais com assinaturas de montante muito elevado, com pequena circulação, que fornecem a uma elite que os pode comprar ou ter-lhes acesso, informação privilegiada que nalgum sítio foi indevidamente obtida. E quem pense que os detectives privados são contratados apenas para casos de divórcio está bem enganado.

É verdade que muitas destas informações são obtidas legalmente, mas outras são obtidas de forma mais reservada, pelo acesso a lugares e cargos, outras são obtidas no âmbito do segredo profissional, mas estão lá na cabeça do seu portador, quando ele tem de intervir ou decidir, outras são obtidas pela frequência social “certa”, outras pela promiscuidade entre lugares políticos e sectores de negócios, ou de serviços, seja na advocacia de negócios, seja na consultoria financeira ou nas auditoras, ou nas relações com jornalistas, directores e redacções. Um dos meios menos escrutinado são os gabinetes ministeriais, o mundo cinzento dos assessores e consultores, que fazem muitas vezes o sale boulot que os políticos não se arriscam a fazer. Muito do que se passa nestes meios, repito-o, não tem qualquer escrutínio e não é do conhecimento público: alguém, por exemplo, faz alguma ideia de quanto a “informação” de alguma imprensa económica e de negócios tem origem em agências de comunicação que são contratadas a peso de ouro para “colocarem” as notícias que lhes interessam e que aparecem como sendo escolhas editoriais das redacções sem qualquer menção de origem? Qual é o trade-off para os jornalistas? Bilhetes para um jogo de futebol?

Este tipo de informações — reservadas, confidenciais, discretas, secretas — são de um enorme valor. Ter essas informações é em si mesmo uma enorme vantagem. Volto ao mesmo: uma das razões por que tenho chamado a atenção sobre o “círculo de confiança” que existe e manda em Portugal, muito para além da democracia parlamentar e da governação, é que uma das características da sua pertença e dos seus membros é o acesso a uma vastíssima informação que, por sua vez, coloca o seu detentor em condições de ainda obter mais informações pelos cargos de “confiança” a que acede. Os círculos em que se move são densos de informação pessoal, empresarial, financeira e política, num contínuo que permite saber o que é que está em curso, quem quer comprar o quê, quem tem dinheiro para o pagar, quem, não o tendo, o pode obter e como, quem são os seus aliados e os seus adversários, quem está em queda, quem vai falir, quem está em alta e pode aspirar ser um bom parceiro, quem é venal e quem não é, com quem se deve falar para avançar um negócio ou para sugerir a escolha de um nome ou vetar outro.

Há por isso transições de lugar para lugar que são muito perigosas — por exemplo, um director de um jornal que sabe quais são as fontes das fugas que tinha num determinado partido, quando vai para a vida política leva essa informação que lhe dá a possibilidade de uma chantagem invisível e que não precisa de ser nomeada para existir. Ou um político que teve acesso a informações relevantes em áreas sensíveis, como a defesa ou os serviços de informação, quando passa a lobbyista, o seu valor depende desse acesso anterior e das informações que obteve — uma das mais úteis para o novo patrão é a de saber com quem se deve falar para obter novas informações, ou para “ajudar” a uma decisão que se pretende. A informação aqui vale ouro.

A democracia é um regime frágil e a democracia portuguesa ainda mais frágil é. Uma das razões é que há um excesso de poder fáctico que, exactamente por o ser, é invisível e não nomeado, e muito menos escrutinado. Podemos encolher os ombros e dizer que sempre foi assim e vai continuar a ser. Por outro lado, a lei e o direito — incluindo o facto de uma parte dos seus executores fazerem parte do mesmo círculo de que estamos a falar — têm sérias limitações quando se trata de atacar os poderosos que ainda não tombaram.

Esses, sim, todos vão lá atirar uma pedra. E, quando tombam, percebe-se muita coisa de como é que se pode ser “dono disto tudo”. Mas sobra o “sistema”, e esse continua por aí. Contra ele só conheço uma arma, a que eles mais temem: a luz. A luz do debate público e... das informações sobre os abusos das pessoas demasiado bem “informadas”. Mas a verdade é que são eles também quem escolhe directores de jornais, editores da rádio e televisão e têm o enorme poder de decidir o que pode ser dito e o que não pode.»

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Trump e Kim Jong-un: início de diálogo

Posted: 09 Mar 2018 03:19 PM PST

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